Três dos cinco trechos semaforizados mais críticos do trânsito de Fortaleza estão no Centro, segundo a edição de 2020 do Anuário da Segurança Viária, publicado pela Prefeitura. Ocupam o segundo, quarto e quinto lugar no ranking, respectivamente, os cruzamentos: Avenida Duque de Caxias x Rua General Sampaio; Avenida Tristão Gonçalves x Avenida Duque de Caxias e Avenida Imperador x Rua General Clarindo de Queiroz. Em todos houve acidentes com pessoas feridas e, em um deles, o da Imperador, uma pessoa chegou a morrer.
Conforme o relatório, em todos os três cruzamentos foram readequados limites de velocidade. Além disso, em dois deles foi mudada a orientação de circulação — pelo trinário da Duque de Caxias — e, no da Imperador com a Clarindo de Queiroz, foi instalada faixa de pedestres.
O levantamento dos trechos e os níveis de criticidade são apurados sistematicamente pela Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC), por meio da Gerência de Engenharia e do Controle de Tráfego por Área de Fortaleza (Ctafor), para identificar problemas de segurança viária desses locais e propor soluções efetivas para diminuir chances de acidentes. Os cálculos consideram a incidência de acidentes e a exposição veicular.
Para reverter a insegurança viária no Centro
Desde 2016, de acordo com a AMC, o Centro acumula 5.493 acidentes de trânsito. Desses, 439 foram atropelamentos. Os números também dão conta de que, nesses cinco anos, 2.838 pessoas foram feridas e 47 morreram. Para diminuir a insegurança viária da região, onde a maioria das viagens (66%) é feita a pé, de ônibus, bicicleta ou metrô, uma série de intervenções será feita no prazo de um mês.
É justamente devido ao grande número de restaurantes, comércios e serviços que o Centro concentra parte das intervenções. “Esse fluxo de pessoas faz com que essa dinâmica no entorno seja muito forte, por isso mesmo é uma área naturalmente mais problemática”, explica o gerente de educação para o trânsito da AMC, André Luís Barcelos.
Para além do valor da velocidade, André também elenca outros potenciais riscos, como o não uso correto de capacetes, cinto de seguranças e instrumentos de retenção, como cadeirinhas; assim como a falta de atenção ao trânsito, principalmente com o uso de celulares ao volante.
O que nós temos é que o acidente de trânsito é multicausal. Tem sempre várias causas, com o comportamento humano sempre está presente. Por isso, são necessárias ações de infraestrutura, de educação, de fiscalização. Tem que caminhar juntas.
Não só no centro da cidade, mas como nos outros cruzamentos apontados no relatório, o que se observa é uma intensa quantidade de passageiros que precisa ser controlada para evitar qualquer interferência no fluxo do trânsito, conclui o gerente de educação.
Redução no limite de velocidade
Serão realizadas, principalmente, conforme a autarquia municipal de trânsito, a readequação do limite de velocidade para 30 quilômetros por hora (km/h) em vias com grande fluxo de pedestres e 50 km/h na avenida Imperador, e a instalação de faixas exclusivas para o tráfego de transporte coletivo tanto na Imperador quanto na rua Senador Pompeu.
Além disso, a malha cicloviária será aumentada em 10 km. Será instalada iluminação em pontos de parada, construídas novas “calçadas vivas” nas ruas Floriano Peixoto e Assunção e renovadas as sinalizações em 93 cruzamentos, com semáforos e travessias elevadas.
A ideia é transformar o espaço em uma grande Área de Trânsito Calmo, segundo o órgão. E uma forma de impulsionar essa transformação é restringir o acesso de veículos no Centro aos domingos, que devem passar a ser dedicados à circulação exclusiva de ciclistas e pedestres.
Impactos
Para o professor de engenharia de transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC), Flávio Cunto, o método utilizado pelo órgão para identificar os pontos críticos se mostra positivo por rankear as prioridades com locais que apresentaram acidentes mais severos, ao invés de somente daqueles que registraram maiores ocorrências.
No caso do centro, Flávio percebe que a redução da velocidade se mostra eficaz para reduzir a quantidade de acidentes severos, principalmente por ser uma área que concentra um grande fluxo de usuários mais vulneráveis, como pedestres e ciclistas.
Quando os acidentes ocorrem em velocidades menores, tendem a ter naturalmente uma severidade menor. Os estudos científicos mostram uma redução em torno de 20% a 30% nos acidentes, quando tem essa redução da velocidade de 10km/h.
Em sua perspectiva, as intervenções propostas se mostram como inclusivas e democráticas por tenderem a harmonizar o fluxo de todos os usuários, contemplando desde os ciclistas e pedestres até motoristas de ônibus, motos e carros.“A longo prazo vai trazer uma convivência mais harmônica e saudável entre os diversos modos e tornar a região mais atrativa”, finaliza.
Outros pontos críticos
Em primeiro lugar nos trechos semaforizados mais críticos, conforme o anuário, está o cruzamento das avenidas José Jatahy e Francisco Sá, que registrou oito acidentes com vítimas feridas em 2020. Nesse ponto, de acordo com a Prefeitura, somente foi reajustado o limite de velocidade e feito a manutenção das sinalizações semafóricas.
Já o cruzamento entre as ruas Otávio Lobo e Bento Albuquerque, no Papicu, que também consta no ranking, recebeu infraestrutura cicloviária protegida e foi renovada a sinalização. Por outro lado, no ranking das interseções não semaforizadas mais críticas, estão:
- 2 cruzamentos no Conjunto José Walter (respectivamente, Avenida C x Avenida G e Avenida F x Avenida L);
- 1 no Montese (Rua Romeu Martins x Rua João Firmino);
- 1 no Centro (Rua Senador Alencar x Rua Barão do Rio Branco);
- 1 na Serrinha (Rua Governador João Carlos x Rua Cônego Lima Sucupira).
As vias receberam reajuste de limite de velocidade, instalação ou manutenção de sinalização e mutirões de segurança viária.