O médico dermatologista Thales Bretas, viúvo do ator Paulo Gustavo, completou dois meses sem a presença do amado nesse domingo (4). Em entrevista ao programa Encontro, apresentado por Fátima Bernardes, Bretas relembrou momentos ao lado do companheiro após a morte do artista, falecido devido a complicações da Covid-19.
Durante a participação, o médico disse se sentir honrado e ressaltou a emoção em relação à falta do ex-marido. "Não poderia deixar de prestar essa homenagem", afirmou Bretas, que alegou ser ainda "muito difícil" falar de Paulo Gustavo.
"Ajuda quando estou com amigos, e de um momento leve, de descontração, relembrando todas as coisas boas que ele representou e representa pra gente", comenta.
"Mas é muito difícil principalmente pra mim, que viveu esse período de hospital, de internação; momentos muito críticos que eu, como médico, deveria estar preparado pra ver, mas como marido não tivesse talvez uma condição psicológica, uma estabilidade tão grande a ponto de ver coisas que eu vi e me traumatizaram um pouco".
O médico, ao lembrar da vida em casal, afirma ter forças para seguir em frente por meio de três pilares: os filhos Gael e Romeu, o trabalho e a presença de família e amigos.
Impacto do casamento na luta LGBTQIA+
Além da postagem sobre os dois meses sem a companhia do ator, Fátima Bernardes relembrou a publicação de Bretas em alusão ao Dia do Orgulho LGBTQIA+, celebrado no último dia 28 de junho.
O médico relatou ter atendido um paciente, heterossexual, casado e com filhos, que disse achar a história do casal muito bonita e importante na percepção da sociedade sobre o casamento gay. "Eu fiquei muito feliz pelo impacto do nosso relacionamento para essa luta", diz.
Thales Bretas relembrou, também, as críticas recebidas pelo casal, taxado algumas vezes como "heteronormativo". "A gente não ficava divulgando beijo na boca e tudo, mas é a forma como a gente conduziu. Foi algo mais delicado, não foi intencional", defende o ex-marido do ator. "De certa forma, isso abriu muitas portas. Vejo muita gente falando que serviu de exemplo".
Surpresa com repercussão
A apresentadora também perguntou se o médico se surpreendeu com a repercussão que o caso de Paulo Gustavo obteve. "Não me surpreendeu, porque eu sempre vi ele como um gigante, o maior do mundo", afirmou Bretas, pontuando acreditar que a atenção foi merecida, "do tamanho dele".
O dermatologista, porém, frisou que Paulo Gustavo, apesar de ter noção de sua abrangência, tinha humildade e muita ambição profissional. "Ele tinha uma certeza de que iria ganhar o Oscar um dia, que iria alcançar o mundo, e tinha projetos para isso".
Covid-19
Ao tratarem da doença provocada pelo novo coronavírus, Thales Bretas pontuou os cuidados que toda a família fez com o intuito de prevenir a doença. "A gente se cuidou extremamente, de todas as formas possíveis. A gente fazia testes em todo mundo da casa, toda semana", destacou.
"A gente se encontrava às vezes com um casal de amigos em casa, para algum jantar, e nós testávamos, o casal de amigos testava. Era um protocolo super rigoroso", comenta, indicando que a doença é como se fosse uma "loteria" por sua imprevisibilidade. "O Paulo era uma pessoa jovem, saudável, não tinha nenhum problema de saúde. Ele tinha uma asma controlada, há muitos anos sem crise, e teve esse desfecho terrível".
Por não trabalhar mais em emergência nem na linha de frente, Bretas observou a gravidade da doença durante o acompanhamento do marido. "Pega pessoas jovens também, pega pessoas saudáveis", diz, emendando que os jovens precisam ter um pouco mais de consciência, uma vez que eles também estão suscetíveis a formas graves da doença, e de cuidado e empatia pelo outro. "Ninguém tá imune a essa doença e a ficar grave também", ressalta.
Indignação
Após o apelo, o médico mostrou indignação ao ser questionado sobre como se sente frente a denúncias de irregularidades na compra de vacinas, ocorrência de festas clandestinas e recomendações do não uso de máscara por parte do presidente Jair Bolsonaro.
"Eu me sinto uma dessas vítimas de tudo isso, porque poderia ter sido diferente [...] Poderia ter sido prevenida numa escala maior", pontua, indicando que medidas como uso de máscaras e isolamento social poderiam ter sido mais bem empregadas, e que o presidente é "uma pessoa que não inspira confiança".
"Acho que nesse momento que a gente vive hoje, algumas atitudes do Governo [Federal] e de pessoas que são muito responsáveis por tudo o que a gente tá vivendo são incabíveis",defende.
Filhos e família
Thales Bretas também chamou atenção para a família, que tem passado por momentos difíceis após a morte do ator. "Cada um guarda um pouco do Paulo Gustavo dentro de si e também passa um pouco pras crianças. Acho que a gente vai vencer essa juntos, no amor e na família que a gente construiu".
Agora, sem a presença do ex-marido, o dermatologista enfatiza a intenção de repassar aspectos do artista aos dois filhos do casal. "Minha maior função é mostrar o tanto que o pai dele amou eles e ama eles de onde quer que esteja; passar todos os valores que ele tinha e que me passou também, de generosidade e justiça", salienta, acrescentando que mostrará, também, o trabalho do ator. "Eu quero passar essa alegria e esse amor incondicional. Quero amar os dois por dois agora. Vou tentar o máximo possível".
Ao fim, o médico reforça o cuidado e a fé como aliados no enfrentamento à doença e na vivência de quem perdeu algum ente para ela. "Acho que a fé, se não servir para fazer o milagre da cura como a gente gostaria, ela traz muita força e ajuda a gente a seguir de uma forma melhor. Se apegar ao que você tem de bom", diz, relembrando o trabalho, a família e os amigos. "E se permitir também viver momentos de tristeza, de luto [...], que fazem parte da vida", complementa.