Competência em gramática e bom repertório sociocultural. Basicamente, essa foi a fórmula que, segundo o próprio, levou Ivan Carlos Silva Melo, 26, a ser o único candidato do Ceará a alcançar a nota máxima na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2020. Em todo o Brasil, somente 28 candidatos — incluindo Ivan Carlos — conseguiram o feito.
Embora tenha se candidatado pelo Ceará, Ivan Carlos é natural de Cuité, interior da Paraíba, onde cursou os ensinos fundamental e médio. Ele conta que se mudou para Fortaleza em 2016 no intuito de estudar como bolsista num cursinho preparatório do colégio Farias Brito, destinado a alunos que querem ingressar no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).
Foi nesse cursinho, aliás, que Ivan Carlos acredita que aperfeiçoou suas técnicas de redação. Por já ter afinidade com a norma culta da língua portuguesa, ele diz que o mais difícil foi desenvolver a habilidade de escrever com coesão e coerência, “organizar as ideias no texto”.
Tempo hábil para se preparar especificamente para a redação, o paraibano assume que não teve. Isso porque ele divide a rotina entre estudar engenharia civil no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) e dar aulas particulares de matemática.
Por isso, ele acredita que o que fez diferença na prova, além de ler redações nota mil de anos anteriores e já ter alcançado boas notas outras vezes — a penúltima, em redação, foi 920 —, foi seu repertório sociocultural. Enriquecido, principalmente, pela leitura de notícias e livros.
O tema da redação da edição de 2020 do Enem foi: “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”. Quando se deparou com o mote, Ivan Carlos diz que logo lembrou do livro Quincas Borba, de Machado de Assis, e o usou na argumentação textual. “Lembrei da parte em que Rubião morreu louco. Ele era constantemente estigmatizado durante a vida”.
Planos acadêmicos
Por mais que tenha alcançado a nota máxima na redação e fechado a prova de matemática — inclusive, pela segunda vez, a primeira tendo sido em 2018 —, Ivan Carlos não pretende usar os resultados do Enem para ingressar em outro curso superior. Ao menos, não por enquanto, embora cogite depois estudar Direito por hobby e explorar outras áreas do conhecimento. “Gosto de fazer [Enem] para treinar” por causa das aulas de matemática que leciona, conta.
Família
Nascido no interior da Paraíba, Ivan Carlos tem 12 irmãos, quase todos universitários ou já graduados. Ele diz que seus pais não tiveram estudos, mas que sempre incentivaram os filhos e os inscreveram em programas sociais de incentivo à educação.
“Quero aprender mais, só que outras coisas. Gosto de aprender, de estudar”, garante o estudante.