Novos livros, mobiliários, equipamentos eletrônicos, jogos, outras cores. É assim que o Projeto Territórios da Leitura vem transformando o ambiente de escolas públicas do Ceará, com a criação e revitalização de bibliotecas. A seleção das instituições prioriza aquelas em áreas de maior vulnerabilidade social e com disponibilidade para acolher o projeto.
Para muito além do aspecto visual ou estrutural, as mudanças implementadas nas escolas visam democratizar o acesso à leitura, sobretudo às crianças da rede municipal de ensino, e formar mais leitores, afirma o diretor do projeto, Emídio Sanderson.
“O hábito da leitura é construído e tem todo um processo que perpassa pela infância. Se esse hábito é formado desde a primeira infância, há uma grande probabilidade de nós termos um jovem, adulto, idoso leitor, expectador de espetáculos teatrais, de dança”, etc.
Cinco bibliotecas entregues
Apesar de ter sido iniciado em 2020, em plena pandemia de Covid-19, o Territórios da Leitura já entregou, em agosto do mesmo ano, uma biblioteca de alto padrão na Escola Municipal Deputado Manoel Rodrigues, em Maranguape, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). A escola atende a várias comunidades do entorno e é uma das principais instituições do município.
Atualmente, duas antigas salas de leitura das escolas Dr. Péricles Fernandes e Monsenhor Antônio Tabosa Braga, em Itapipoca, na Região Norte do Ceará, também estão sendo transformadas em bibliotecas. Ambas ficarão prontas no próximo dia 29 de julho.
Juntas, as duas bibliotecas vão receber novas cores e reunir mais de 500 livros novos, sendo alguns em braile e audiobooks; 40 jogos educativos; sete computadores; mesas de leitura; cadeiras; pufes; móveis planejados; duas smart tvs; e dois aparelhos de ar-condicionado.
Até o fim deste ano, outras duas escolas também devem receber novas bibliotecas, totalizando cinco entregas. As unidades de ensino ainda não foram selecionadas, mas uma será da periferia de Fortaleza e outra da periferia de Maracanaú, adianta Emídio Sanderson.
Biblioteca: uma ‘porta de entrada no mundo da leitura’
Ele lembra que os dados referentes ao hábito de leitura do brasileiro ainda são “preocupantes”. Conforme mapeia a 5ª edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, o País mantém um patamar próximo a 50% de não leitores desde 2007.
Além disso, a pesquisa indica que 60% das escolas brasileiras não contam com bibliotecas, “uma das principais portas de entrada da criança no mundo da leitura”, aponta o diretor.
Para a aluna do 9º ano da Escola Municipal Deputado Manoel Rodrigues, Maria Luiza Queiroz Félix, 14, ter uma biblioteca com livros novos é “maravilhoso”. Leitora assídua de livros de suspense, a jovem já costumava frequentar a biblioteca. Devido à pandemia, realiza apenas visitas rápidas à procura de novas obras para pegar emprestadas.
“Eu sempre gostei muito de livro. Principalmente nessa fase de pandemia, deu pra ler vários livros. Chegaram livros novos [na biblioteca da escola] que são perfeitos", elogia a estudante.
O ambiente novo, diz ela, vai ser um estímulo para iniciar novas leituras. “Muita gente não vai muito pra biblioteca, mas agora eu tenho certeza que muita gente vai querer ir porque é uma biblioteca nova. Acho que muita gente está feliz com essa reforma”.
Projeto político-pedagógico deve ser continuado
Além das mudanças estruturais nas instituições de ensino, o Projeto Territórios da Leitura realiza atividades formativas para educandos e educadores, visando a adesão e melhor uso das bibliotecas.
Nas escolas de Itapipoca, por exemplo, o corpo docente participou de seminário virtual sobre leitura, escrita e literatura na educação básica. E está recebendo oficinas e consultoria pedagógica na área da leitura e literatura até novembro.
Os alunos também poderão participar de oficinas, contações de histórias, tertúlias e clubes literários, de agosto a novembro, e melhorar suas proficiências em leitura, bem como suas habilidades de escrita e de argumentação. Devido à necessidade de todas essas atividades formativas, é realmente essencial que as escolas selecionadas queiram aderir ao projeto.
“Claro que a estrutura ‘enche os olhos’, principalmente dos usuários, mas a escola precisa dar continuidade a esse projeto político-pedagógico de leitura e de leitores dentro da própria instituição de ensino. A biblioteca não é o fim, é o meio”, frisa Emídio, resumindo que a “a ideia [do projeto] é causar um impacto social a partir de algo que só tem a nos humanizar mais e mais, que é a leitura”.
Sobre o Projeto
Lançado em 2020, o Territórios da Leitura é uma realização da Invento Produções Culturais, da Secretaria Especial da Cultura e do Ministério do Turismo, via Lei Federal de Incentivo à Cultura (Rouanet).