Inclusão: professora dá aulas na calçada para alunos com deficiência, em Itapipoca, durante pandemia

Estudantes recebem apostilas e materiais de estudos desinfectados; aulas incluem dinâmicas de desenvolvimento do sistema motor seguindo regras de distanciamento social

Como forma de manter o acompanhamento dos estudantes com deficiências, a professora Noadias Novaes criou o projeto Atendimento Educacional Especializado (AEE) na Quarentena para ministrar aulas na frente da casa de famílias, em Itapipoca. A iniciativa é bem recebida pelos pais da comunidade Betânia do Cruxati, e região, onde o acesso a internet é limitado.

Pelo menos duas vezes na semana a professora promove atividades de grafomotricidade, relacionada às habilidades gráficas e de escrita, e dinâmicas lúdicas. “Eu montei o projeto e eu sou orientada por um amigo microbiologista que me ensina como fazer a esterilização das apostilas, como manter a distância, para que não aconteça nenhuma contaminação”, pontua. Nas comunidas, agentes de saúde também contribuem para as ações educativas.

Noadias prepara apostilas e materiais para os estudantes com doações de tintas, lápis de cor e outros materiais que recebe de parceiros do projeto. Os kits são distribuídos e, em “toda entrega, a gente tira um momento, mesmo que de longe, para matar a saudade”, conta. O município registra 2.340 casos confirmados da doença e 102 óbitos pelo novo coronavírus até este sábado (8), de acordo com o IntegraSUS.

Antes da suspensão das aulas presenciais, a educadora da Escola Alonso Pinto de Castro desempenhava atividades com 13 estudantes com Síndrome de Down e paralisia infantil. “Eles estudam na sala regular e no contra turno eles vem para minha sala de recursos onde eu faço atividades para estimular a aprendizagem”, explica Noadias.

Esse esforço para levar inclusão aos estudantes ganha reconhecimento na comunidade, mas, nas palavras da professora, a principal mensagem é da "empatia". As famílias ficam muito agradecidas de ver que os filhos não estão desamparados. Eu, sinceramente, eu vejo como uma obrigação. Eu sei que é difícil, é árduo, mas é como se fosse o meu dever. Eu agradeço muito as pessoas que me mandam mensagens, mas eu me vejo como uma das professoras que estão se doando para que se otimize esse ensino que nem todos tem acesso”.

Darlen, de 12 anos, é um dos alunos acompanhados pelo projeto devido à deficiência física e têm dificuldades de acompanhar as aulas virtuais por causa da baixa qualidade do sinal de internet. “Não pega direito o aplicativo e fica sem área, mas ele não deixa de fazer as atividades não. Assim que volta eu mando ele fazer. A Noadias ajuda muito porque ela foi a primeira que começou a fazer isso aqui em casa, a gente nem fazia as coisas pelo Whatsapp e ela já vinha”, relata a mãe do estudante, Ana Maria Ribeiro Nascimento, 44.

As limitações ao acesso à internet e o esforço para manter a rotina de estudos dos filhos são comuns para muitas famílias e motiva o trabalho da professora. “Vou de bicicleta fazer esse atendimento ao aluno, a uns sete quilômetros da localidade onde eu moro. Os meus alunos têm deficiências variadas e as atividades que eu proporciono são individualizadas. Cada atividade é de acordo com a habilidade que eu quero desenvolver nessa pessoas”.

A professora começou a lecionar em 2005 após os estudos em Química e Biologia, passou a dar aulas no ensino médio e em uma universidade, até chegar na educação infantil. “Em 2011 eu fiquei efetiva na educação infantil de Itapipoca e foi quando eu recebi o convite para estudar em Fortaleza, toda semana, as disciplinas da Educação Especial, como libras e braile. Atualmente eu faço uma especialização em Neuropsicopedagogia e foi onde me encontrei”, destaca.