A vacina bivalente, uma proteção mais eficiente contra o coronavírus, vem sendo deixada de lado pela população cearense: apenas 15% do público adulto recebeu o reforço vacinal, após quase 3 meses da liberação das doses. A falta de imunização põe em risco a saúde coletiva e, principalmente, os mais vulneráveis à doença.
Para se ter noção do cenário no Estado, foram aplicadas 1.179.672 doses de vacina bivalente, quando a meta é de 7.681.070, conforme os dados disponíveis na plataforma IntegraSUS da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), atualizado até a quarta-feira (13).
O monitoramento aponta que os idosos com 70 anos ou mais, em números absolutos, formam o grupo com mais pessoas vacinadas, com 295.734 doses. A adesão cai, diretamente, até chegar às pessoas mais jovens.
Entre os adultos de 18 a 29 anos, apenas 131.050 estão com o reforço vacinal. A meta de cobertura para essa faixa etária no esquema de vacinação anterior, por exemplo, é de 1,8 milhão.
Além da diferença por faixa etária, a cobertura vacinal também varia entre as cidades. Santana do Cariri (0,3%), Fortim (3,4%), Barreira (3,9%), Quixadá (3,9%) e Novo Oriente (4,1%) aparecem com os menores números.
Ana Karine Borges, coordenadora Estadual de Imunizações, explica que os dados dos municípios são monitorados e realizadas parcerias para a estratégia de vacinação.
"A Coordenadoria de Imunização realiza reuniões semanais com as Áreas Descentralizadas de Saúde reforçando a importância de atingir e manter coberturas vacinais adequadas", detalha.
A ausência da população nas filas de vacinação pode ameaçar, indiretamente, a saúde dos mais velhos. Adolescentes e jovens adultos, em contato com maior número de pessoas, podem adoecer e contaminar os avós, por exemplo, que podem ser mais prejudicados pela Covid.
“A população, especialmente, mais velha, quando a imunidade começa a baixar e outras doenças como hipertensão e diabetes começam a aparecer, possuem fatores de risco”, frisa Lígia Kerr, médica epidemiologista Lígia Kerr, professora na Universidade Federal do Ceará (UFC).
Neste ano, 70 pessoas já perderam a vida devido às complicações pela Covid, sendo a maioria dos óbitos entre idosos. Lígia contextualiza que a doença ainda causa internações e o controle até aqui foi feito por meio da vacinação que, neste momento, não ganha a mesma adesão do que em outros momentos da pandemia.
É necessário e importante que as pessoas ainda procurem a bivalente, que é uma vacina que corrigir alguns aspectos da alteração genética da primeira cepa para a Ômicron mais atualizada
A preocupação com o reforço do imunizante deve fazer parte do calendário de vacinas, como o que já acontece com outras doenças virais. "Talvez possa ficar como a influenza, que desde 1918 convivemos com ela, então é importantíssimo vacinar as crianças, jovens e adultos”, frisa.
Há chances da vacina vencer?
As vacinas bivalentes são adquiridas pelo Ministério da Saúde e encaminhadas aos estados em temperatura negativa, ou seja, congeladas. Dessa forma, as doses podem permanecer armazenadas por um ano e meio.
Mas, ao chegar no Ceará, as vacinas são distribuídas aos municípios em temperatura positiva, considerando a capacidade de armazenamento e disponibilidade de equipamentos. Assim, a validade é de 10 semanas.
"Cabe as redes de frio municipais realizarem monitoramento das validades, de acordo com os lotes, a partir das notas de fornecimento disponíveis nos sistemas de informação, com a finalidade de evitar perdas por validade e otimizar os imunobiológicos", analisa Karine.
Esclarecemos que o Estado envia doses da vacina considerando a solicitação (necessidade) quinzenal dos municípios, visando evitar perdas e o acúmulo de doses da vacina nas redes de frio municipais
O que é a vacina bivalente?
A vacina bivalente usa a forma do coronavírus Ômicron original e uma subvariante na sua composição. No caso dos imunizantes que serão recebidos no Brasil, uma fórmula é feita com a subvariante BA.1 e a outra com a combinação BA.4/BA.5.
Isso é importante, porque as vacinas disponíveis até o momento foram fabricadas com o coronavírus original identificado em Wuhan, na China, no início da pandemia. Com tantas mutações no vírus desde então, há o que os cientistas chamam de escape vacinal.
Quando um paciente é infectado pelas subvariantes, há uma chance da infecção “furar” a proteção oferecida. Isso é motivo de preocupação, principalmente, para os pacientes idosos e com problemas no sistema imunológico.