Após uma série de atrasos e problemas de execução, o Censo Demográfico 2022 foi divulgado nesta quarta-feira (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O órgão identificou um acréscimo de 339,3 mil pessoas (4%) na população cearense em relação ao Censo de 2010, chegando ao total de 8.791.688 habitantes. Esse, contudo, foi o menor crescimento percentual entre censos desde o início da pesquisa nacional.
A contagem real arquiva a projeção de 9.240.580 habitantes estimada pelo próprio IBGE, em 2021. Desde aquele ano, esse número foi a base para diversas políticas públicas e decisões governamentais.
O número atual também ficou distante dos 9.187.103 estimados para 2020, ano em que o Censo deveria ter ocorrido (mas adiado por causa da pandemia da Covid-19).
O primeiro Censo do Brasil ocorreu em 1872, quando a população aferida no Ceará foi de 721 mil pessoas - 12 vezes menor que a atual. O segundo menor crescimento da história da pesquisa ocorreu pouco depois, entre 1890 e 1900, com apenas 5,4%. Já o maior salto foi entre as edições de 1920 e 1940, com 58,5% de aumento.
Nas duas últimas edições, a diferença foi de cerca de 14%: o Censo 2000 marcou 7,41 milhões de habitantes; já o de 2010 contabilizou 8,45 milhões.
Para o geógrafo Alexandre Queiroz Pereira, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e colunista do Diário do Nordeste, a diferença entre a previsão e a contagem oficial se deve à pesquisa não captar as dinâmicas demográficas, hoje muito mais aceleradas do que os padrões de modelos estatísticos conseguem captar.
"A meu ver, há uma diminuição da taxa de fecundidade (você tem menos nascimentos) e o envelhecimento da população. Esses processos se aceleraram muito sobretudo nos espaços urbanos, e a pesquisa não captou", percebe.
Segundo ele, as projeções já apontavam para uma estabilidade populacional do Brasil e, a partir de 2050, alguns modelos já sugerem sua diminuição - padrão semelhante ao da Europa e do Japão. O especialista pondera que a maior inserção e protagonismo das mulheres no mundo do trabalho, bem como a urbanização acelerada do Brasil, que acarreta um maior custo de vida, afetam a lógica das taxas de fecundidade.
Contestação de resultados
O Ceará teve 4,8% de domicílios com falta de resposta. Em 3,3%, o IBGE considerou a “não resposta”, ou seja, quando os recenseadores não conseguem encontrar e entrevistar os moradores. Além disso, houve 1,5% de recusa.
No entanto, segundo o presidente do IBGE, Cimar Azeredo Pereira, a entidade tem “total certeza” dos dados divulgados oficialmente. Nos casos em que não foi possível coletar os dados, foi aplicada uma metodologia de imputação que estima a população do domicílio com base nas respostas de outras residências da mesma região.
“Quanto menor a imputação, mais precisão vamos ter. Essa cobertura está muito consistente”, ressaltou o diretor em reunião virtual com a imprensa para a apresentação dos dados.
Azeredo também comentou uma ‘rixa’ entre o Instituto e diversos prefeitos Brasil afora. Isso porque os gestores municipais temem a defasagem no repasse de recursos federais, que dependem da contagem oficial. Ou seja, se perdem em número de residentes, as Prefeituras também perdem receita para custear gastos básicos.
“Esse questionamento não aconteceu só nesse Censo. As prefeituras não se conformam, sobretudo nos municípios com menos de 170 mil habitantes. Acatamos as medidas judiciais e temos total transparência na divulgação”, respondeu o presidente.
Ainda no tema, Cimar ressaltou que técnicos do IBGE realizam reuniões antes, durante e após a coleta em cada cidade, para apresentar os resultados a prefeitos, vereadores e à população em geral, “principalmente onde houve queda”. Logo, as alterações divulgadas não deveriam ser novidade.
“Não é mais a narrativa do ‘eu acho’, é a evidência”, disse. No entanto, reconheceu que o Instituto será questionado judicialmente sobre os números.
O que é Censo do IBGE?
O Censo Demográfico é o levantamento de maior amplitude no país. A pesquisa e realizada pelo IBGE a cada 10 anos, geralmente, naqueles que terminam com zero.
Em 2020, no entanto, devido à pandemia, ele foi adiado e posteriormente sofreu atrasos devido à falta de recursos. Com isso, o levantamento só foi concretizado em 2022, tendo os resultados divulgados agora.
Para que serve o Censo?
Durante o Censo, os recenseadores percorrem as residências para coletar, dentre outras informações, a quantidade de moradores, características do domicílio, identificação étnico-racial, dados sobre educação, trabalho, rendimento e mortalidade. Quando ele deixa de ser realizado, o Brasil fica sem uma base de dados confiável.
Segundo o IBGE, os resultados são usados em programas e projetos que vão contribuir para:
- acompanhar o crescimento, a distribuição geográfica e evolução das características da população ao longo do tempo;
- identificar áreas de investimentos prioritários;
- selecionar locais que necessitam de programas de estímulo ao crescimento econômico e desenvolvimento social;
- fornecer referências para as projeções populacionais com base nas quais é definida a representação política no país, indicando o número de deputados federais, deputados estaduais e vereadores de cada estado e cidade; e
- fornecer subsídios ao Tribunal de Contas da União para a definição das cotas do Fundo de Participação dos Estados e do Fundo de Participação dos Municípios.
Novidades no Censo
Segundo Cimar Azeredo, o Censo se aprimora a cada edição. “O avanço do de 2000 foi a melhora da captação. O de 2010 foi introduzir o coletor eletrônico. No de 2022 foi o coletor eletrônico com chip e acesso à internet para acompanhar em tempo real a coleta e o trajeto dos recenseadores”, explica.