Meio ambiente, estética e lazer: como os 27 parques urbanos de Fortaleza impactam a rotina da cidade

Nos últimos anos, partes dessas áreas verdes que agrupam fauna, flora e lazer têm sido revitalizadas. Elas estão em 32 bairros e algumas aguardam recuperação.

“Antes, a gente nem podia andar direito aqui. Agora, melhorou em tudo. Do lazer à segurança. Até a quadra do prédio tá mais vazia e as crianças brincando no parque”. O relato da moradora do bairro Presidente Kennedy, em Fortaleza, Natasha Paiva. O alvo dos elogios: o recém inaugurado Parque Urbano Rachel de Queiroz, estruturado pela Prefeitura. A área pública é uma das 27 do tipo na cidade e agrupa preservação da flora e da fauna, riquezas naturais e lazer em meio à urbanização. 

Nos últimos anos, Fortaleza tem investido na revitalização de alguns parques, e o Rachel de Queiroz é representativo pela dimensão (maior parque municipal), importância e também pelo tempo de espera por estruturação. Mas, em paralelo ao usufruto dessa “nova área”, como estão os demais parques urbanos da Capital? E qual a relevância deles?

Em Fortaleza, dos 27 parques urbanos municipais, 18 deles são urbanizados, ou têm ao menos trechos urbanizados,conforme levantamento feito pelo Diário do Nordeste.

A urbanização desses espaços pelo poder público significa que além de terem um conjunto de atributos naturais, como árvores, plantas, animais e até recursos hídricos (lagos e lagoas), têm também, por exemplo, calçadões, pontes, pista de circulação, brinquedos, bancos, e equipamentos de academia. Com isso, podem e são usados pela população. 

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O que define um parque urbano

Essas áreas, explica o professor Marcelo Soares, do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC), são verdes e de relevância ambiental. Têm função ecológica, estética e de lazer, completa. 

“Convém ressaltar que ela não é uma praça e jardim público. Essas são áreas verdes dentro da cidade, só que elas são bem menores que os parques urbanos”, destaca ele. 

O geógrafo, professor do Departamento de Geografia da UFC, e integrante do Observatório das Metrópoles, Alexandre Queiroz, esclarece que os parques urbanos são espaços públicos que têm como principal objetivo “construir dentro das cidades uma ambiência que aproxime o espaço construído, a vida da cidade, e os espaços em que os sistemas naturais, a fauna e a flora podem ser contemplados e aproveitados pelos moradores da cidade”. 

Além disso, afirma, a ideia de criação dos parques urbanos tem conexão com a percepção de que eles são espaços diferenciados de condições climáticas, de qualidade do ar e geram qualidade de vida. 

Da perspectiva legal, os parques urbanos são criados oficialmente por legislação municipal, como decretos. Mas eles não são uma categoria prevista no Sistema Nacional de Unidades Conservação (SNUC), nas quais as áreas se submetem a uma série de normas e restrições. 

No caso dos parques urbanos, embora sejam áreas verdes, o grau de proteção não é tão rígido. Contudo, também precisam da proteção devido à fauna, à flora e aos demais atributos.

Distribuição nos bairros

Os 27 parques urbanos municipais estão distribuídos integralmente ou têm trechos em 32, dos 121 bairros de Fortaleza. O maior parque municipal é o Rachel de Queiroz, que corta 9 bairros (Monte Castelo, São Gerardo, Presidente Kennedy, Padre Andrade, Pici, Antônio Bezerra, Autran Nunes, Dom Lustosa e Henrique Jorge). Apenas o Parque do Cocó é maior. Mas ele é estadual. 

Ao todo, o Parque Rachel de Queiroz tem 20 trechos, dos quais 4 são urbanizados. A espera pela estruturação da área foi longa, recorda a moradora do bairro São Gerardo, Natasha Paiva. Ela mora no entorno do Parque desde 1997, mas apenas em fevereiro de 2022, viu a paisagem, antes tomada pelo mato, se transformar,com a entrega do trecho urbanizado. 

“Antes, era um matagal enorme. Não tínhamos muita opção de praças e parques. Agora é muito utilizado. Venho brincar com meu filho. Meus pais fazem caminhada. Melhorou muito”, destaca em meio ao passeio com o filho Luan, de um ano de idade. 

No Rachel de Queiroz, o movimento no final da tarde e durante à noite é intenso. Passeios de bicicleta, caminhada, piquenique, crianças nos brinquedos, comerciantes vendendo comidas, dividem o "novo espaço verde". 

“Eu já morei perto do Cambeba e lá tínhamos a expectativa de ter uma área dessas. Além disso, ter áreas assim em bairros de periferia é bom porque é uma forma de acesso da população”, avalia a estudante de Direito, Águeda Santiago. 

Ela mora no bairro Autran Nunes - cortado por trechos do Rachel de Queiroz - e tem utilizado o trecho urbanizado do parque, no bairro Presidente Kennedy, para praticar exercícios físicos e passear. O local, ressalta, além de ter essa “funcionalidade” é também espaço de refúgio e contemplação da natureza. 

O professor do Departamento de Geografia da UFC e integrante do Observatório das Metrópoles, Alexandre Queiroz, reforça que “o ideal é que eles (parques urbanos) estejam na cidade toda para que eles não se tornem um privilégio para uma zona da cidade e somente alguns moradores que moram próximo”. 

Dada a qualidade ambiental dos parques, argumenta ele, essas áreas se tornam “um ativo de valorização imobiliária”. 

“Ao redor de parques, como acontece no Cocó, você tem valorização imobiliária, o que torna o entorno do parque muito disputado. A ideia do parque é que ele seja um bem público, um patrimônio disponível tanto para quem mora perto, mas também para quem visita”. 
Alexandre Queiroz,
Professor do Departamento de Geografia da UFC e integrante do Observatório das Metrópoles,

Situação dos parques

Os espaços urbanos não estão separados dos agrícolas e, portanto, as cidades também “devem ser espaços de preservação da biodiversidade”, reitera o professor do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da UFC, Marcelo Soares.

"As cidades também têm elementos importantes da nossa biodiversidade. Elementos variados de ambientes aquáticos e terrestres também têm que ser conservados”. 
Marcelo Soares
Professor do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da UFC

Em Fortaleza, dos 27 parques a Prefeitura afirma que 13 foram urbanizados nos últimos anos, além dos demais 5 que já eram estruturados.O Parque da Lagoa da Viúva, no Siqueira, está em reforma. A obra da Secretaria Municipal da Infraestrutura (Seinf), diz a Prefeitura, custou R$13 milhões e deve ser entregue no primeiro semestre deste ano. 
 
Já as obras de urbanização de outros 4 parques estão em licitação, são eles: Lagoa da Itaperaoba, Opaia, Messejana e Mondubim. Já o do Parque Rio Branco, diz a Prefeitura, está em estudo a elaboração do projeto. 

Contudo, embora questionada a prefeitura não informou a quantas anda o processo de urbanização de áreas como o Parque Linear do Riacho Maceió, Parque Urbano da Lagoa da Sapiranga, Parque Urbano da Lagoa da Maraponga. Essas áreas são de grande relevância a abrangência e também aguardam há anos o processo de estruturação. 
 
A Prefeitura foi perguntada também sobre a gestão e conservação desses espaços. Tendo em vista que são pontos fundamentais, além da urbanização, a garantia de cuidados e uso desses lugares. Em nota, a gestão municipal informou que, nos parques, “a estratégia ambiental é de responsabilidade da Seuma, ao passo que a manutenção de equipamentos é de responsabilidade da Seger e de sua vinculada, a Urbfor, que faz a manutenção do paisagismo”.


A gestão municipal também foi indagada qual o projeto de revitalização é o mais complexo e requer maior investimento. Segundo a Prefeitura, pela extensão e importância, é o Parque Rachel de Queiroz.

“Em relação aos demais parques, a Prefeitura de Fortaleza considera como questão prioritária e tem trabalhado na requalificação dos espaços, com atuação integrada de várias pastas”, diz a nota. 

O professor Marcelo Soares, do Labomar da UFC, enfatiza que nos parques urbanos não se deve colocar espécies exóticas ou invasoras. A recuperação, destaca ele, deve ser feita com espécies nativas.