Mata Galinha, Pirocaia, Km 8: saiba os nomes antigos de 22 bairros de Fortaleza

Localidades eram nomeadas a partir de características naturais ou fatos marcantes

Como dar nome para um bairro? Em Fortaleza, as características físicas, hábitos da população e marcos históricos batizaram espaços como Mata Galinha, Pirocaia e Quilômetro 8. Num processo de homenagens a personalidades, no entanto, parte dessa originalidade se perdeu.

Foi assim que surgiram as substituições Dias Macedo, Montese e Couto Fernandes. Nesse processo, se perde uma parte do contexto histórico do local. O peculiar nome Mata Galinha, por exemplo, vem de um costume da população.

Naquela região, próxima à Arena Castelão, vivia a família Dantas. Um membro conhecido como Quincas colocou as aves como um prato de destaque nas reuniões comunitárias, como explica o memorialista Miguel Nirez de Azevedo.

“Todo domingo faziam uma festa, chamavam as pessoas para recitar versos, cantar e tocar violão. Ele matava muitas galinhas e povo dizia 'vamos para o Mata Galinha' e assim ficou. O nome se estendeu até para onde hoje é o Castelão, que agora se chama Boa Vista".

Os processos de criação e de mudança dos nomes acontecem na Câmara Municipal de Vereadores e são motivados, muitas vezes, para homenagear políticos e empresários, como acrescenta Nirez.

"Têm um excesso de nome de pessoas nos bairros. Nós tínhamos o bairro Floresta, que de um lado ficou Padre Andrade e do outro ficou Álvaro Weyne. Como reclamaram muito, acharam um trechinho e colocaram o nome de Floresta", contextualiza.

Nomes antigos dos bairros de Fortaleza

  • Dias Macedo: Mata Galinha
  • Montese: Pirocaia
  • Couto Fernandes: Quilômetro 8
  • Rodolfo Teófilo: Porangabussu
  • Edson Queiroz: Água Fria
  • Dionísio Torres: Estância 
  • Luciano Cavalcante: Salina do Cocó
  • Dom Lustosa: Parque Santa Lúcia
  • Padre Andrade: Cachoeirinha
  • Demócrito Rocha: Marupiara
  • Planalto Ayrton Senna: Pantanal
  • Álvaro Weyne: Floresta
  • Amadeu Furtado: Coqueirinho 
  • Antônio Bezerra: Barro Vermelho
  • Henrique Jorge: Casa Popular
  • Parquelândia: Coqueirinho/Campo do Pio
  • Aldeota: Outeiro
  • Carlito Pamplona: Brasil Oiticica
  • Monte Castelo: Açude João Lopes
  • Parangaba: Arronches 
  • Messejana: Paupina
  • São Gerardo: Alagadiço

Já o termo Pirocaia tem origem indígena e significa algo como “Aldeia dos Peles Vermelhas”, em tupi. O nome foi mudado quando o dentista Raimundo Nonato Ximenes, que havia servido ao Exército, chegou no lugar.

Ele conseguiu emplacar “Montese”, em 1946, como homenagem aos brasileiros que lutaram na Batalha de Montese, na Itália, na 2ª Guerra Mundial.

Antes de receber o nome do engenheiro Couto Fernandes, o bairro era conhecido mesmo pela estrutura viária do local, de acordo com o memorialista.

"Tinha as paradas e as estações e, no 8º quilômetro ficava a estação da linha do trem, que era muito movimentada porque naquela época a região tinha uma fábrica", completa Nirez.

Em alguns casos, o que deu nome ao bairro foi uma característica física, como o solo do lugar hoje conhecido como Antônio Bezerra.

"Fortaleza foi construída em cima de um tabuleiro, essa areia de praia. Lá era barro vermelho e isso conta das características geográficas. Essa mudança fere um pouco da história", analisa Nirez.

Já imaginou se mudasse o nome do Mucuripe para botar o nome de um pescador? Ou da Praia de Iracema?
Miguel Nirez de Azevedo
Memorialista

Na mesma perspectiva do Bairro Vermelho foi nomeado o Alagadiço, que passou a ser São Gerardo. Isso está registrado no livro “Royal Briar: a Fortaleza dos anos 40”, de Marciano Lopes, consultado pelo Diário do Nordeste.

“Era o mais distante dos bairros, possuindo três seções na linha de bondes. Possuía bonitas e vastas moradias, quase todas com enormes quintas, muitos deles, inclusive, com pequenos riachos, que a região era de muita água e de muito verde”, contextualiza.

A obra faz parte do acervo do Núcleo de Documentação e Laboratório de Pesquisa Histórica (Nudoc) da Universidade Federal do Ceará (UFC), que permitiu a pesquisa. Como não há uma publicação com todas as mudanças de nomes dos bairros, as informações do livro e do memorialista foram usadas para a produção da lista.

“Pequenina e tranquila, com seus 200 mil habitantes, Fortaleza era singela, com seus poucos bairros que dependiam do centro, para praticamente tudo, pois nenhum bairro possuía ainda vida própria”, descreve o livro.

Como era Fortaleza há 80 anos?

Talvez seja difícil imaginar, mas o Mucuripe, uma das regiões mais nobres da capital cearense, era quase isolado da cidade, porque não tinha acesso de veículos devido às dunas e outros entraves, conforme Marciano Lopes.

“Na primeira metade dos anos quarenta, os distritos de Mucuripe, Messejana, Parangaba e Antônio Bezerra eram como pequenas cidades do Interior. De acesso difícil, por causa das péssimas estradas e dos transportes escassos”, detalha o livro.

O Meireles estava surgindo naquele período devido à construção da nova sede do Clube do Náutico. Nos anos de 1940, a Aldeota terminava no final da linha de bondes, entre as ruas Silva Paulet e José Vilar.

O Joaquim Távora compreendia apenas a Avenida Visconde do Rio Branco e tinha também alguns moradores ilustres. No Bairro Damas, as muitas chácaras serviam para os fins de semana de quem tinha maior poder aquisitivo. 

Na Jacarecanga tinham palacetes, mansões e solares. No Benfica também estavam residências de destaque, algumas assinadas pelo arquiteto Rodolpho Silva, “que dotou Fortaleza dos prédios mais rebuscados e de maior beleza”, detalha Marciano.

Do lado da Jacarecanga, um dos bairros que manteve o mesmo nome desde a fundação, surgiu o Brasil Oiticica.

“Em consequência da implantação da fábrica da Brasil Oiticica, começou a surgir o bairro do mesmo nome, o atual Carlito Pamplona, na Avenida Francisco Sá, a partir da primeira linha de trem”, completa o livro.