Fumar cigarro pode causar pelo menos 50 doenças; médica diz que uso no BBB 23 é ‘desserviço’

Doenças cardiovasculares e pulmonares e câncer estão entre os problemas mais graves que fumantes podem desenvolver

O tabagismo voltou a ser discutido nas redes sociais após o diretor do Big Brother Brasil 23, Boninho, dar uma bronca nos brothers e proibir a entrada na área interna da casa mais vigiada do Brasil com cigarros, mesmo apagados. “Estão fumando muito”, alertou.

Nocivo à saúde humana, o cigarro pode causar pelo menos 50 doenças, desde as cardíacas e respiratórias a cânceres de vários tipos. Só na unidade de referência da rede estadual de saúde do Ceará, 90 fumantes têm acompanhamento especial para tratar o vício.

O Programa de Controle do Tabagismo do Hospital de Messejana existe desde 2002 e, em 20 anos de atividades, já orientou mais de 4,5 mil pacientes a largar o cigarro.

“A exposição maciça durante 24 horas a imagens de pessoas fumando é um desserviço para a saúde pública, porque estimula quem assiste a iniciar o tabagismo ou a aumentar o número de cigarros que já fumam”, critica a coordenadora do Programa, a médica pneumologista Penha Uchoa.

A especialista ressalta que não existe um ponto de corte entre “fumar por lazer” ou vício: o tabagismo é uma doença caracterizada por dependência tanto física como psicológica e comportamental.

Uchoa se preocupa especialmente com a audiência de adolescentes e adultos jovens, faixa etária que costuma experimentar o cigarro pela primeira vez.

Contudo, da experimentação podem partir para a iniciação e, rapidamente, “se tornarem dependentes”.

“Esse tabagismo exagerado dentro da casa é um retrocesso depois de tantas lutas já conseguidas, através das leis que desde 2009 proíbem fumar em ambientes fechados, públicos ou privados; da educação nas escolas, e das campanhas na mídia”, destaca Penha. 

O Brasil vem conseguindo manter bons resultados no controle do tabagismo. De acordo com o Ministério da Saúde, em 1989, a prevalência da população brasileira que fumava era de 34,8%. Em 2021, foi de 9,1%, sendo 11,8% entre homens e 6,7% entre mulheres.

“O melhor exemplo que vocês podem dar é parar de fumar”, disse Boninho aos participantes do Big Brother Brasil.

Problemas se acumulam

A médica Penha Uchoa explica que o BBB traz todo um estímulo visual ligado à beleza corporal, mas diz que “a conta vai chegar” porque os danos ao organismo são cumulativos: a pele perde elasticidade, os dentes amarelam, o hálito muda e o paladar é afetado. 

“Isso sem falar do adoecimento, associado a 50 outras doenças, especialmente enfisema e câncer de pulmão, que é o que mais mata no Brasil”, afirma.

A prática do compartilhamento do cigarro, seja o convencional ou o eletrônico, também pode transmitir doenças como a tuberculose, a herpes e a hepatite C.

Quem apenas entra em contato com a fumaça, o chamado “fumante passivo”, também está sujeito a problemas de saúde. 

Segundo alerta do Instituto Nacional do Câncer (Inca), a fumaça do cigarro que fica no ambiente contém cerca de 3x mais nicotina e monóxido e até 50x mais substâncias cancerígenas do que a fumaça inalada pelo usuário.

O fumante passivo ainda pode sofrer reações alérgicas respiratórias, como rinite, tosse e crises de asma, além de doenças pulmonares pela exposição a longos períodos.

Acompanhamento profissional

Os participantes do Programa de Controle do Tabagismo no HM recebem assistência de uma equipe especializada que, além de avaliar a saúde e o grau de dependência da nicotina, monitora o estado psicológico e a motivação para deixar o hábito.

O tratamento, que dura em torno de 3 a 4 meses, se baseia tanto numa abordagem cognitivo-comportamental como na terapia com medicações, oferecidas gratuitamente para aliviar os sintomas da abstinência.

O paciente é estimulado a pensar que espaço o cigarro ocupa na vida dele e como pode enfrentar as dificuldades do parar de fumar. Após a fase presencial, é convidado a retornar ao hospital em momentos pontuais, quando é reavaliado sobre a possibilidade de  lapsos ou recaídas.

As inscrições para novas turmas ocorrem em duas datas: no Dia Mundial Sem Tabaco, em 30 de maio, e no Dia Nacional de Combate ao Fumo, em 29 de agosto.

Contudo, pessoas que buscam parar de fumar podem buscar Unidades Básicas de Atenção municipais integradas ao Programa Nacional de Controle do Tabagismo. Em Fortaleza, o serviço é oferecido em mais de 50 postos.