O gigante Castanhão, maior e principal açude do Ceará, recebeu um saldo bastante positivo de água na atual quadra chuvosa. Os 30,5% de volume acumulado até a metade de abril revelam o melhor cenário do reservatório desde outubro de 2014, ou seja, há quase 10 anos. A discussão dos gestores dos recursos hídricos, agora, é qual uso fazer dessa água.
O Castanhão começou o ano com pouco menos de 20% da capacidade, de acordo com o Portal Hidrológico da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh). A maior recarga ocorreu a partir da segunda quinzena de março, mês que teve recorde de chuvas em 15 anos.
de litros d’água cabem no Castanhão. Atualmente, ele tem cerca de 2 trilhões armazenados.
Hermilson Barros, gerente regional da Cogerh de Limoeiro do Norte, comemora o incremento de 4,5 metros na coluna d’água do açude, mas ressalta que ele ainda está em situação de alerta porque, entre 2012 e 2019 - longo período de seca no Estado -, só acumulou perdas de volume.
“Nesse ano, os bons números vêm acontecendo pela boa distribuição de chuvas no Estado. Chovendo no canto certo, nas cabeceiras, no Cariri, e caindo no Salgado, a água vem pro Jaguaribe e chega ao Castanhão, que acumula água pra gente ter reserva garantida para os próximos anos”, detalha o processo.
Atualmente, segundo o representante, o reservatório atende a múltiplos usos no Vale do Jaguaribe. A partir da válvula em Alto Santo, a água pode percorrer até 156 km, chegando à barragem de Itaiçaba. No caminho, a água é distribuída para abastecimento humano, dessedentação animal, irrigação e piscicultura da região.
Hermilson lembra que, desde 2019, o Castanhão não transfere mais água para o abastecimento de Fortaleza e da Região Metropolitana. Essas cidades têm se mantido com as reservas do sistema metropolitano, formado pelos açudes Pacajus, Pacoti, Riachão e Gavião.
Operação emergencial
Para o primeiro semestre de 2023, foram aprovadas pelos Comitês de Bacia as vazões máximas para a operação emergencial dos três principais reservatórios do Estado. Até junho de 2023, o Castanhão poderá ter vazão de até 8.000 litros por segundo (ou 8 m³/s).
O Estado, através da Cogerh, planeja a operação dos seus reservatórios de acordo com os volumes registrados ao fim da quadra chuvosa. Para isso, são feitas simulações dos cenários de uso da água em cada região do Ceará.
Segundo Hermilson Barros, quando começa a chover, o sistema de liberação é reduzido ao máximo para armazenar a água e liberá-la só no segundo semestre, após consenso do processo chamado de alocação negociada.
“Como, nos últimos anos, essas chuvas não vinham acontecendo, veio a operação emergencial para se ter uma vazão emergencial até chegar o período de alocação. Não chove de forma uniforme em todo o trecho, então a gente não pode fechar 100% a válvula”, explica o gestor.
O gerente regional ressalta que 8 m³/s é o teto para a operação. Desde fevereiro até a última segunda (17), a vazão média tem ficado em torno de 6 m³/s.
Destino da água
As reuniões de alocação negociada da água dos açudes devem ocorrer em julho, após o fim da quadra chuvosa, quando os comitês se reúnem para avaliar cenários e simulações e discutir como será o atendimento de cada área. A prioridade, estabelecida em legislação, é o abastecimento humano.
“A gente procura ter o máximo de responsabilidade junto ao Comitê porque o cenário hoje é de aporte em relação aos últimos oito anos, mas requer prudência e uso racional do sistema pra gente não desaprender o que aprendemos com a crise hídrica”, diz Hermilson.
Segundo ele, o sinal de alerta permanece ligado porque há tendência de El Niño para o próximo ano, e o fenômeno climático causado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico equatorial não favorece o regime de chuvas no Ceará.
“Temos que ser prudentes e responsáveis. As pessoas veem os açudes aumentando, mas sempre trabalhamos com o pior cenário porque não sabemos como vai ser o próximo ano”, percebe o gerente.