O câncer na criança e no adolescente, dos 0 aos 19 anos, corresponde a um grupo de várias doenças que têm em comum a proliferação descontrolada de células anormais, que pode ocorrer em qualquer local do organismo. Segundo estimativas oficiais do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer infantojuvenil deve atingir quase 8 mil crianças e adolescentes no Brasil, até 2025.
Em números exatos, o número de casos novos estimados no triênio de 2023 a 2025 é de 7.930 casos, equivalente a um risco estimado de 134 por milhão de crianças e adolescentes.
Há maior risco entre meninos: estimam-se 4.230 casos novos no sexo masculino (140,50 casos novos por milhão) e de 3.700 no sexo feminino (128,87 por milhão do sexo feminino).
Veja os riscos por região:
Sexo masculino
- Sul (153,29 por milhão)
- Sudeste (145,61 por milhão)
- Centro-Oeste (143,89 por milhão)
- Nordeste (138,10 por milhão)
- Norte (111,10 por milhão)
Sexo feminino
- Sul (151,19 por milhão)
- Regiões Sudeste (144,11 por milhão)
- Centro-Oeste (128,19 por milhão)
- Nordeste (114,23 por milhão)
- Norte (87,56 por milhão)
Ainda conforme o relatório do Instituto, em 2020, o Brasil teve 2.289 mortes por câncer infantojuvenil: foram 1.295 óbitos de meninos, e 994 óbitos de meninas. Diferentemente do câncer do adulto, o infantojuvenil costuma ter natureza embrionária e, geralmente, afeta as células do sangue e os tecidos de sustentação.
O oncologista Roberto Gil, diretor-geral do Inca, reforça o compromisso do país em combater o câncer pediátrico. “Nós temos hoje a possibilidade de câncer pediátrico com taxa de cura, nos países desenvolvidos, de 85%. O Brasil ainda está na década de 1970, com essa curva, mais ou menos, de 45% a 50%. A redução disso tem a ver com o futuro do país”, afirma.
A declaração foi dada no Global Forum Fronteiras da Saúde 2024, em Brasília, no fim de novembro. O evento, organizado pelo Instituto Lado a Lado Pela Vida, reuniu especialistas para discutir soluções para o diagnóstico e tratamento, políticas públicas de saúde e financiamento do câncer na saúde pública.
Quais as causas do câncer em crianças?
A médica cearense Bruna Salviano, oncologista pediátrica formada pela Faculdade de Medicina de Juazeiro do Norte e hoje médica do Grupo Santa Casa de Franca, em São Paulo, afirma que os tipos mais comuns de câncer infantil são leucemia, tumores do sistema nervoso central e linfomas.
Contudo, a especialista ressalta que não existem mecanismos de prevenção devido às especificidades de cada organismo.
“A grande maioria dos casos é único daquele paciente, é uma alteração daquele organismo favorecendo o desenvolvimento de um câncer. O que a gente tem que trabalhar na oncologia pediátrica é no diagnóstico precoce. Descobrir cedo para descobrir num estágio bem inicial”, afirma.
Também existe um pequeno percentual com causa genética, casos em que é preciso investigar o histórico familiar. Segundo Bruna, algumas síndromes genéticas também podem predispor a criança a um risco aumentado de câncer. Pacientes com síndrome de Down, por exemplo, têm um risco aumentado para leucemia.
O Inca complementa que tumores embrionários (neuroblastoma, tumores renais e retinoblastoma) acometem as crianças, em sua maioria; enquanto, em adolescentes de 15 a 19 anos, são mais frequentes os tumores epiteliais, tais como tireoide e carcinomas, e os melanomas.
Quais são os sinais de alerta?
Presente no Global Forum, Salviano reforçou que o grande movimento da oncologia pediátrica é para que as pessoas - tanto os parentes como professores, pediatras e generalistas - conheçam os sinais de alerta. Entre eles, estão:
- palidez intensa, que pode indicar anemia presente em leucemias e outros tumores
- manchas roxas pelo corpo, que podem indicar queda de plaqueta
- aumento de ínguas pelo corpo, que pode indicar leucemia ou linfoma
- massa palpável na barriga
- dor abdominal frequente
- dor de cabeça rotineira e que piora progressivamente
- alteração de equilíbrio de surgimento súbito
“A função da educação em saúde para a população é que todo mundo saiba reconhecer o sinal. Se esse sinal realmente é um câncer ou não, é responsabilidade da equipe de saúde”, aponta Salviano. Caso se perceba algo de errado, ela recomenda buscar um serviço de saúde especializado.
Qual é a chance de cura?
A oncopediatra lembra que, nas últimas quatro décadas, o progresso no tratamento do câncer na infância e na adolescência foi “extremamente significativo”.
Segundo o Inca, em torno de 80% das crianças e dos adolescentes acometidos pela doença podem ser curados, se diagnosticados precocemente e tratados em centros especializados. “A maioria deles terá boa qualidade de vida após o tratamento adequado”, destaca o Instituto.
Além da procura por atendimento em saúde, Bruna Salviano deixa um recado para as famílias impactadas por um diagnóstico positivo: ter fé.
“Tudo tem um propósito na nossa vida e precisamos confiar em Deus, de que o melhor vai ser feito. Esse melhor nem sempre pode ser o desfecho esperado, mas é importante procurar assistência e confiar na equipe. O melhor é esperançar”.
*O repórter viajou a Brasília a convite do Instituto Lado a Lado pela Vida.