Completar o esquema de vacinação contra a Covid é não apenas uma forma de proteger a si e ao outro, mas uma exigência para acesso a vários locais. Apesar disso, quase 600 mil pessoas sequer completaram o esquema básico com a 2ª dose no Ceará.
Até essa terça-feira (21), 8,1 milhões de cearenses tomaram a 1ª dose, mas apenas 7,5 milhões voltaram para a segunda aplicação: ou seja, quase 582 mil pessoas não completaram a imunização, segundo o Vacinômetro da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa).
O Diário do Nordeste calculou os resultados a partir da diferença entre o número de D1 e D2 aplicadas em cada grupo etário, disponível no Vacinômetro.
Veja as faixas etárias com mais faltosos à 2ª dose:
- 75 ou mais - 28.780
- 70 a 74 anos - 13.692
- 65 a 69 anos - (sem atrasados)
- 60 a 64 anos - (sem atrasados)
- 55 a 59 anos - 9.935
- 54 a 45 anos - 27.304
- 40 a 44 anos - 29.569
- 30 a 39 anos - 71.997
- 18 a 29 anos - 126.646
- 12 a 17 anos - 110.599
- 5 a 11 anos - 236.877
Para Daniele Queiroz, epidemiologista e assessora especial da Secretaria Executiva de Vigilância e Regulação em Saúde da Sesa, três pontos críticos influenciam na baixa procura por imunização: a queda de casos da doença, as “fake news” e o avanço do movimento antivacina.
“A desinformação é uma séria ameaça não só à vacinação, mas à saúde pública. As pessoas têm medo do que as vacinas podem causar, mas toda vacina liberada passa por diversas etapas que garantem a efetividade e a segurança”, reforça.
Um dos públicos mais afetados por essa lacuna de proteção é o infantil, como aponta a epidemiologista.
Hoje, temos uma grande dificuldade com o público pediátrico, e isso tem a ver com aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos dos pais – um discurso antivacina ativista, apoiado com argumentos pseudocientíficos.
Em relação à vacina pediátrica com a Covid, Daniele pontua, ainda, que “o absenteísmo tem a ver com a rotina dos pais, porque crianças não vão se vacinar sozinhas”, fator que tem sido alertado aos municípios, gestores diretos da imunização.
O que fazer para a população se vacinar?
A busca pela vacina é voluntária, deve partir da consciência de que ela e as medidas preventivas são as únicas maneiras de pôr fim à pandemia no Ceará. Já que contar com isso não tem sido suficiente, Daniele aponta estratégias que a Sesa tem recomendado aos municípios para ampliar as coberturas:
- Manter as salas de vacinação abertas durante todo o horário de funcionamento da unidade de saúde e, se possível, ampliar o horário para além do comercial;
- Evitar barreiras de acesso, como a cobrança do comprovante de residência. Os postos de vacinação devem estar abertos para receber qualquer um que for se vacinar;
- Aproveitar a oportunidade de vacinação: se o usuário for à unidade de saúde para uma consulta, exame, é importante verificar a situação vacinal e vacinar, caso necessário;
- Monitorar a cobertura vacinal, identificar nominalmente quem não está vacinado ou tem pendência de dose e buscar por esse usuário;
- Fazer comunicação de risco: mostrar à população a importância da vacinação, os riscos de não estar vacinado neste momento e como a vacina é segura.
- Intensificar ações de vigilância: os municípios devem focar em localidades e regiões com menor cobertura vacinal, realizar vacinação volante, “dias D” e outras ações de estímulo.
“A vacinação é a maior descoberta da humanidade. Não podemos deixar que outros valores interfiram no acesso a ela”, complementa a epidemiologista.
Doses de reforço
A cobertura vacinal da 2ª dose no Ceará está em 91%, conforme o Vacinômetro. Já a dose de reforço, ou 3ª dose, ainda está abaixo da ideal: só 60% do público-alvo já garantiu a aplicação do imunizante contra o coronavírus.
Negligenciar as doses adicionais e de reforço cria bolsões de suscetíveis à Covid e prolonga a permanência da doença no Estado, como alertaram especialistas ouvidos pelo Diário do Nordeste.
A dose de reforço hoje é focada nos grupos mais sujeitos, que são mais facilmente infectados e mantêm o vírus circulando por mais tempo, facilitando o surgimento de mutações. Esse é o problema social da pandemia.
O biomédico observa também que “à medida em que as doses de reforço são estabelecidas, menor adesão acontece, principalmente nos grupos prioritários”.
Veja as faixas etárias com mais faltosos à dose de reforço:
- 75 ou mais - 40.768
- 70 a 74 anos - 2.844
- 65 a 69 anos - 30.232
- 60 a 64 anos - 24.464
- 55 a 59 anos - 6.503
- 54 a 45 anos - 101.137
- 40 a 44 anos - 106.335
- 30 a 39 anos - 373.401
- 18 a 29 anos - 527.059
- 12 a 17 anos - 682.486
Com o ordenamento de prioridades, algumas pessoas podem “perder as contas” e desconhecer quantas doses da vacina contra a Covid já devem, obrigatoriamente, ter tomado. Para facilitar, segue o esquema:
- 1ª e 2ª doses: todos a partir de 5 anos já devem ter tomado;
- 3ª dose: todos a partir de 12 anos já devem ter tomado;
- 4ª dose: adultos imunossuprimidos, trabalhadores da saúde e qualquer pessoa a partir de 40 anos de idade já podem tomar.
A escalada do coronavírus no Ceará tem voltado a aparecer em números: em junho, até o dia 15, um a cada 4 testes de Covid feitos no Estado teve resultado positivo, uma taxa de positividade de 25,3%. A maior desde fevereiro.
Só neste mês, até quarta-feira (22), mais de 6 mil cearenses já foram infectados pelo coronavírus e seis perderam a vida por complicações da doença.