As impressões sobre o câncer, sobretudo fora dos círculos da Medicina, costumam envolver medo e pesar. Usualmente, a doença é grave e a preocupação que se instaura dentre os pacientes e seus familiares pode dificultar até o acesso à informação a respeito da enfermidade. Especialista em oncologia, médica e cordelista, a Dra Paola Tôrres lança uma proposta para tornar o assunto mais claro. A obra "Leucemia sem Segredo - Uma Cartilha em Cordel" versa sobre a leucemia na linguagem literária e será lançada nesta quinta (15), às 20h, durante a transmissão de uma live no canal do Instituto Roda da Vida no You Tube.
Paola trabalhou no conteúdo do livro desde o último mês de março, quando do início da pandemia do coronavírus. Especificamente dentro do campo da oncologia, ela é especializada nos tipos de câncer de sangue. E começou a se incomodar quando viu pacientes sem acesso ao tratamento da doença, em consequência das restrições do período de isolamento social. A médica, então, procurou um edital para projetos ligados ao câncer (da Astellas Farma Brasil), a fim de produzir a cartilha.
"Foi importante porque todas as pessoas envolvidas na cartilha puderam receber pelos seus trabalhos, nesse momento difícil. E a gente conseguiu fazer 5 mil exemplares para distribuir", destaca Paola Tôrres. A distribuição é gratuita e será feita para associações de pacientes e instituições brasileiras dedicadas ao tratamento e à prevenção do câncer. O projeto contou com a participação do ilustrador Jô Oliveira, edição de Julie Oliveira e tem o texto de apresentação assinado por Nelson Hamerschlak (Hospital Albert Einstein/SP).
Paola identifica que o tratamento da leucemia enfrenta, sobretudo, dois tipos de preconceitos mais comuns. A primeira crença é a de que a doença não tem cura.
"Como se quem adoece está perdido, fadado a morrer. É uma doença grave sim, perigosa sim, mas precisa de um tratamento rápido. Outra (crença) é que nem toda leucemia é aguda, ou precisa logo ser tratada. Alguns casos crônicos precisam ser acompanhados, e só tratar quando vem os sintomas. A cartilha traz tudo isso à luz", observa a médica.
Cordel
Recentemente, Paola Tôrres tomou posse na Academia Brasileira de Literatura de Cordel. A médica e cordelista foi uma das idealizadoras da Cordelteca Maria das Neves Baptista Pimentel, da Universidade de Fortaleza, inaugurada em 2019. A ligação dela com o cordel surgiu nas andanças da família pelo interior de Pernambuco, durante sua infância. Paola nasceu em Gravatá e morou em várias cidades pernambucanas.
"Minha mãe tinha na estante vários cordeis. Minha avó ia para um sanatório, que as pessoas com tuberculose tratavam a doença lá. E quando ela ficava internada, os cordelistas passavam distribuindo folhetos e a diversão dela era declamar cordeis para os filhos", recapitulou a médica, situando como a literatura "se embrenhou", primeiro, na sua memória.
Autoria
Professora de Medicina, Paola começou a fabricar os próprios cordeis para tornar o aprendizado, dentre os alunos, mais lúdico. Montava capa, reunia os textos, a fim de explicar em sala de aula o que era a prática médica, uma neoplasia, entre outros detalhes da ciência. "Quando fui fazer concurso para ser professora catedrática da UFC, o último grau de titulação da universidade, defendi meu memorial escrevendo toda a trajetória em cordel. Esse livro foi parar na mão do Dráuzio Varella (que depois escreveu o prefácio do livro “Andei por Aí – Narrativas de uma Médica em Busca da Medicina”). E não parei mais", sintetiza a médica e cordelista.
À vontade com as várias funções que exerce na vida, Paola defende que o médico, antes de tudo, é um humanista. Portanto, a ocupação se afina às artes e ao desenvolvimento humano.
"A Medicina trata do humano, o médico é o próprio remédio. Muitos médicos adoram as artes. Não dá pra pressupor que você ser artista é incompatível com ser estudioso. Uma coisa alimenta a outra, e quero desmistificar isso", sinaliza.
(Livro)
Leucemia sem Segredo - Uma Cartilha em Cordel
Paola Tôrres
Instituto Roda da Vida
2020, 36 páginas
Distribuição gratuita