Uma influencer liga a câmera e, parece só mais um vídeo de dicas de maquiagem, mas ela surpreende ao escurecer as temidas olheiras. A tendência que surgiu no TikTok com a criadora de conteúdo Sara Carstens dividiu opiniões na internet ao evidenciar algo que por muito tempo foi motivo de vergonha.
O vídeo viralizou e, até o fechamento desta matéria, já foram mais de 7 milhões de visualizações na plataforma. Nas redes sociais, Sara explicou que a tonalidade forte ao redor dos olhos sempre foi algo que causou insegurança nela, mas, com o passar do tempo, começou a ver isso de forma diferente e, por isso, decidiu gravar o conteúdo.
Se por um lado o movimento assusta, por outro evidencia a vontade da geração atual de romper com os padrões de beleza – vide as intensas discussões sobre o uso de filtros do Instagram e sobre os riscos das cirurgias plásticas.
A professora Elis Alves do Curso de Estética e Cosmética da Universidade de Fortaleza aponta que manifestos como esse evidenciam o desejo por uma aparência mais natural. Assim como na moda, as tendências de beleza são cíclicas e, há alguns anos, a maquiagem precisava ter uma alta cobertura, iluminação e contorno bem demarcados, hoje, o estilo ‘clean’ predomina.
Liberdade ou absurdo?
“Embora sejam manifestos passageiros, eles defendem muito a essência e isso, consequentemente, impacta na forma que as pessoas veem esse aspecto. Quem tem olheiras pode se sentir acolhido e a pessoa acaba tendo a liberdade de assumir ou não”, explica a professora.
De acordo com Elis, as olheiras são multifatoriais, podem surgir por conta da hereditariedade, de distúrbios respiratórios, do estilo de vida e até mesmo da estrutura óssea. E por que não acolher ascaracterísticas cuja causa não está no nosso controle? Para muitas pessoas, as manchas sob os olhos transmitem um aspecto cansado ou mesmo de desleixo.
A estudante Iana Queiroz, de 24 anos, conta que sempre teve olheiras, mas só se tornou algo incômodo quando ela cresceu. "Minhas olheiras além de fundas são pigmentadas então é mais difícil ainda de resolver. Já fiz preenchimento, já usei cremes e o corretivo se tornou um item essencial de maquiagem pra mim”, diz.
Quando ela viu o primeiro vídeo da 'brincadeira', Iana não imaginava que o conteúdo fosse viralizar e admite.
“Ainda acho estranho. É uma coisa tão marcante pra mim que eu preciso tanto corrigir que ver outras pessoas fazendo o contrário é bem estranho. Não me acostumei, mas, se essa tendência pegar, ótimo. Pode ser que assim eu passe a normalizar mais isso em mim”.
Para a professora, essa tendência não vai de encontro ao que se é ensinado na Estética. “Pelo contrário, colabora com o que pregamos. Existem padrões de beleza e tentamos não alimentar isso nos nossos alunos. Queremos promover beleza, mas também o bem-estar dentro do contexto de cada pessoa”, afirma.
Impactos na autoimagem
A tendência para 2021, de acordo com a maquiadora Karla Alexandrina, é a autoaceitação, então ela acredita que essa ‘brincadeira’ pode ser benéfica. “Faz parte da construção desse olhar de não ver essas características como algo passível de julgamento ou críticas. Precisamos aprender a olhar aquilo como algo normal. Não existe mais obrigação na maquiagem, tem que fazer o que te faz bem, que te faz feliz”.
Para ela, as pessoas precisam parar de ver a maquiagem como um ‘milagre’, é uma ferramenta que auxilia a aumentar a autoestima e, especialmente, de evidenciar aquilo que você considera mais bonito no rosto.
“É preciso questionar: por que você quer ser algo que você não é?”, acrescenta Karla.
Por isso, tendências como esta acabam por impactar a forma como nos vemos. A psicóloga Marina Serejo explica que, como o padrão de beleza é o ser jovem, ter pele clara, magro e com boa aparência, as pessoas optam por buscar isso por meio da maquiagem ou procedimento estéticos para a construção dessa imagem - que acaba se tornando irreal.
“Isso acaba gerando uma cobrança, porque as pessoas se influenciam e, quando há esse movimento contrário, das próprias influencers deixando de usar, abre-se o espaço pra mostrar o que você verdadeiramente é, que você se cansa, passa noites ruins, que é um ser humano como qualquer outro, o que traz aspectos positivos pra autoestima de que você não precisa recorrer a todos os tratamentos estéticos pra se afirmar diante da sociedade”, pontua Marina.