'Não podem ser ditas nem de brincadeira’: quais os primeiros indícios de um relacionamento tóxico?

Na edição de domingo (22), Tadeu Schmidt alertou Gabriel Fop sobre comportamentos abusivos com a atriz Bruna Griphao

O alerta de Tadeu Schmidt ao vivo durante o Big Brother Brasil nesse domingo (22) sobre a relação de Gabriel Fop e Bruna Griphao repercutiu dentro e fora da casa. Nos últimos dias, após se envolverem na primeira festa do reality, o modelo tem demonstrado atitudes grosseiras e controladoras com a atriz.  

O assunto viralizou nas redes sociais principalmente após Gabriel falar que Bruna iria “já já tomar umas cotoveladas na boca”. Até o pai da atriz se pronunciou sobre o assunto. Em um story no Instagram, Kakau Orphão o definiu como “abusivo”.  

Com o sinal de alerta aceso, Tadeu resolveu intervir na situação antes que seja tarde, como disse. “Quem está envolvido em um relacionamento, talvez, nem perceba, ache que é normal. Mas quem tá de fora consegue enxergar quando os limites estão prestes a serem gravemente ultrapassados (...) Gabriel, em uma relação afetiva, certas coisas não podem ser ditas nem de brincadeira”.  

Para além da ameaça, Gabriel já empurrou Bruna pelo menos duas vezes, a mandou ‘calar a boca’, comparou a aparência física da atriz com uma arara e foi grosseiro por diversas vezes.  

Violência psicológica  

A defensora pública Anna Kelly Nantua, do Núcleo de Enfrentamento à Violência contra a Mulher da da Defensoria Pública Geral do Estado do Ceará (DPCE), pondera que isso se caracteriza como violência psicológica, um dos tipos mais comuns no âmbito de violência doméstica.  

“É uma forma de violência silenciosa, discreta, e a mulher tem grande dificuldade de se perceber vítima, só percebe depois de um tempo e muitas vezes atrelada a outra violência. Eu costumo dizer que a violência psicológica é a porta de entrada de outras, aí a importância de se perceber pra que esse ciclo seja rompido”.  
Anna Kelly Nantua
defensora pública

Assim, explica Anna, esse tipo de violência se caracteriza por qualquer ato que cause danos emocionais prejudicando a saúde mental. “Na maioria das vezes acontece com humilhações, constrangimentos, ameaças, manipulações, vigilâncias constantes, perseguições, chantagens e insultos”.  

Como identificar?  

A sutileza desses atos torna muito difícil perceber que um relacionamento é abusivo. A psicóloga Raquel Rodrigues pontua que, quando se está em uma relação, as pessoas ficam muito envolvidas, o que acaba por confundir certas ações como cuidado e zelo. Porém, alguns comportamentos podem servir de indícios.  

“Presença de poder, como se a pessoa tivesse certo domínio sobre a outra, tem um medo de perder a outra, há uma grande dependência emocional. Há ainda controle, ciúmes excessivos, presença muito constante que no começo é visto como um ponto positivo, mas com o passar do tempo vai tendo a função de controle em que a pessoa quer saber tudo sobre você, rastreia as redes sociais, a localização”.  
Raquel Rodrigues
psicóloga

A mudança de comportamento também é ressaltada por Anna como um indício. Se tenta controlar as amizades, os vínculos, o comportamento. “Tentar perceber até que ponto aquilo é brincadeira ou não, cuidado ou não. Analisar como a vítima era antes e depois do relacionamento, as mudanças são naturais, mas até que ponto essas mudanças são saudáveis ou não”, diz.  

Além disso, Raquel pontua que os agressores costumam ser pessoas com baixa empatia, têm uma fala muito agressiva e culpabilizam muito a vítima pelo que está acontecendo na relação. “Eles têm muita dificuldade de assumir erros, desprezam quando a vítima faz algo que não agrade ou não era esperado”.  

Para se perceber em relacionamentos abusivos, a psicóloga sugere um processo de autoanálise, sobre como se sente sobre a relação e sobre comportamentos do parceiro, se está feliz, se está bem. “Essa relação tóxica é como uma gangorra, tem muitos altos e baixos, não têm uma estabilidade”.  

Ajuda de amigos e familiares 

Houve quem julgou o alerta de Tadeu como interferência de jogo e que pode mudar os rumos e as estratégias no reality. Porém, a ex-campeã Emily Araújo do BBB 17, que sofreu violência psicológica e física do ex Marcos Harter dentro do programa, parabenizou o posicionamento do apresentador e da emissora.  

“Parabéns, Globo, por fazer o que deveriam ter feito em 2017… Assim a Bruna não precisa passar por mais de 4 anos de terapia pra tentar superar agressões psicológicas e físicas como eu”, publicou no Twitter.  

Pela dificuldade de identificar por conta própria, Raquel ressalta a necessidade da intervenção por parte de amigos e familiares quando identificar algum tipo de desrespeito ou humilhação. Uma estratégia, até pela dificuldade da vítima de ler a situação como um abuso, é conduzir a conversa com questionamentos e não com julgamentos.  

“É sempre bom questionar esses sinais. ‘Amiga, como tu se sente quando ele faz isso contigo?’ ‘Tu percebeu que ele te comparou com uma arara? Como tu se sentiu?’. Compara a situação: ‘acho que se fosse comigo, eu me sentiria desrespeitada’. É interessante falar isso, porque talvez essa amiga não tenha limite ou nem percebeu que foi ultrapassado”.  
Raquel Rodrigues

Quando possível, Raquel orienta ainda sugerir leituras informativas e terapia para que a vítima possa compartilhar isso num ambiente seguro.  

Já Anna acrescenta a importância de acolher a vítima, não julgar nem culpar. Orientá-la a buscar ajuda profissional também é fundamental. “A gente não pode tratar a violência psicológica só como violência psicológica, porque ela é grave como qualquer outra. Tem mulheres que sofrem com sequelas por longos anos”.  

Busque ajuda  

Em 2021, a Lei nº 14.188 incluiu no Código Penal o crime de violência psicológica contra a mulher que  consiste em “causar dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe seu pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização, limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à sua saúde psicológica e autodeterminação”.  

A pena para quem for enquadrado nessa tipificação é de reclusão, de seis meses a dois anos, e multa, se a conduta não constitui crime mais grave. 

As vítimas podem buscar as delegacias e ainda a Casa da Mulher Brasileira que tem funcionamento 24 horas e atua com rede de proteção e atendimento humanizado às mulheres em situação de violência. 

Há ainda o Núcleo de Promoção e Defesa dos Direitos das Mulheres (Nudem), da DPCE, que presta assistência jurídica e psicossocial para mulheres vítimas de violência doméstica e familiar. O funcionamento é de 8h às 17h e o atendimento não requer agendamento.  

“Mesmo que não queira pedir medida protetiva ou registrar Boletim de Ocorrência, ela pode procurar só pra ter esclarecimentos e orientações”, esclarece Anna.  

Serviço 

Casa da Mulher Brasileira  

Endereço: Rua Tabuleiro do Norte, s/n, Couto Fernandes 

Informações e denúncias 

  • Recepção: (85) 3108.2992 / 3108.2931 – Plantão 24h 
  • Delegacia de Defesa da Mulher: (85) 3108.2950 – Plantão 24h, sete dias por semana 
  • Centro Estadual de Referência e Apoio à Mulher: (85) 3108.2966 – Segunda a domingo (exceto feriados), 8h às 20h 
  • Defensoria Pública: (85) 3108.2986 – Segunda a sexta, 8h às 17h 
  • Ministério Público: (85) 3108. 2940 / 3108.2941 – Segunda a sexta, 8h às 16h 
  • Juizado: (85) 3108.2971 – Segunda a sexta, 8h às 17h 
  • Brinquedoteca: (crianças de 0 a 12 anos) – Plantão 24h 

Defensoria Pública do Estado do Ceará  

  • Ligue 129  
  • (85) 3108-2986