Maria Camila Moura alerta sobre impacto de impor felicidade e alta performance na saúde mental

A psicóloga clínica, pesquisadora e colunista do Diário do Nordeste é a entrevistada desta quinta (5) do Que Nem Tu. No papo, ela desconstrói discursos e expõe problemas que afetam o bem-estar do indivíduo e da sociedade

Da clínica à Universidade. Da literatura à pesquisa. Da observação à experimentação. Maria Camila Moura parece seguir com encantamento por todos esses caminhos. E cada uma desses campos formam o pensamento dessa psicóloga clínica, Mestre em Psicologia e Doutoranda em Saúde Pública pela Universidade Federal do Ceará, escritora e pesquisadora. Como conhecedora de um dos temas tão urgentes da sociedade- a saúde mental-, ela alertou sobre comportamentos que estão piorando para um desconforto e até mesmo adoecimento de pessoas.

Entrevistada desta quinta-feira (5) do Que Nem Tu, Maria Camila falou sobre sua experiência com câncer de mama, desde paciente oncológica em 2014, até a pesquisadora de mulheres que vivem com a doença e postam nas redes sociais até como o que não é revelado na internet pelas onco influencers impacta nas demais pacientes. As redes sociais, inclusive, se tornaram um grande objeto de estudo da pesquisadora.

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"É importante as pessoas que estão tendo câncer não olharem para as vivências de onco influencers e acharem que devem estar muito mal porque deveria estar grata pela minha vida e eu estou triste porque perdeu o cabelo. É normal estar arrasado porque perdeu o cabelo. É um luto. Claro que existem hierarquias de dor. Mas é uma maneira da gente entender que existem vivências para além do exposto no Instagram", reflete.

A psicóloga também alertou para a necessidade de mudança de discurso e tratamento em relação às pessoas que estão em tratamento do câncer. "Existe implicações quando você coloca uma pessoa que está em situação de vulnerabilidade como guerreiro o tempo todo. Existe uma imposição de felicidade e fortaleza que não faz bem". Maria Camila publicou o livro "Da lama nasce o lótus", onde compartilhou sua trajetória de tratamento e cura do câncer.

Maria Camila também falou sobre como as redes sociais impactam todo mundo, sobretudo aquelas pessoas mais vulneráveis, como adolescentes e crianças. Viver em um palco digital é ter que estar sempre impecável e forte. Ou é aceitar as cobranças, intervenções, julgamentos.

"É preciso abrir espaço para o mal-estar. Talvez a minha luta, na pesquisa em si, seja encontrar espaços para ser vulnerável sem ser subjugado. Rede social é um espaço que se você é vulnerável é como se fosse sangrar em tanque de tubarão. Se você é vulnerável,  sofre um sério risco de sofrer bullying, de sofrer uma intervenção. A terapia é um espaço para ser vulnerável sem ser subjugado. Na terapia, existe um respeito com a minha dor, minha dignidade"
Maria Camila Moura
psicóloga


Ela apontou como existe em nossa sociedade uma imposição de felicidade. "Qualquer tipo de tristeza era rechaçada de uma maneira muito grave, como se você fosse fraco. É como se sua saúde mental não está em dia se você não está produtivo e feliz o tempo todo. É por minha saúde mental estar em dia que tem dia que estou mais assim, tem dia que estou mais assado", explica.

A exigência de performance social o tempo todo - alerta ela- roubou das pessoas a apreciação do ordinário. Por isso, há um desejo coletivo de ser excepcional em tudo, o que é impossível. Almejar o impossível acabou fazendo com que pequenas e médias conquistas passassem despercebidas pelos olhares desatentos.

Maria Camila também pontuo o quanto questões sociais e ambientais impactam para que as pessoas sofram mais por problemas como depressão e ansiedade. "E existem fatores de opressão que se interseccionam. Existem camadas sobrepostas. Eu ser uma mulher é uma coisa. Eu ser uma mulher negra eu estou mais suscetível ao sofrimento. Eu ser uma mulher negra com algum tipo de transtorno de deficiência é estar mais suscetível ainda ao sofrimento", explica ela.