Filmes cearenses serão exibidos na Cinemateca Brasileira em ação itinerante do Cine Ceará

Dez produções, entre curtas e longas, representam o Ceará em programação que ocorre de 18 a 21 de abril no equipamento

A partir de uma parceria entre o Cine Ceará - Festival Ibero-americano de Cinema e a Cinemateca Brasileira, dez filmes cearenses que compuseram a seleção de 2023 da mostra Olhar do Ceará — voltada à produção do Estado — serão exibidos a partir desta quinta-feira (18) no equipamento em São Paulo.

A itinerância das obras que compõem o recorte é — como destacam profissionais do audiovisual ligados ao festival, à curadoria da mostra e aos filmes escolhidos — uma oportunidade de visibilidade não só para as produções em si, mas também para o próprio cinema cearense.

Wolney Oliveira, diretor do Cine Ceará, explica que a mostra na Cinemateca foi possível a partir das parcerias que o evento e a instituição de preservação do cinema brasileiro vêm travando. No ano passado, por exemplo, o festival acolheu a mostra “A Cinemateca É Brasileira” dentro da programação, com exibição de obras preservadas.

“Ela está sendo rearticulada, é um espaço cultural importantíssimo. É bom para todo mundo: para a Cinemateca, o Cine Ceará, os realizadores. Como diz o nome da mostra do ano passado, ela é brasileira”, ressalta o diretor.

“É bom, ainda, como maneira de divulgar o cinema cearense. De repente alguém vê um filme e tem interesse, por exemplo, em distribuir. Festivais e mostras são fundamentais também pela possibilidade que podem ofertar de, dali, surgirem novos negócios e projetos”, segue Wolney.

Seleção

“Na mostra, você tem de filmes como ‘Represa’ a ‘Os Maluvidos’”, cita o diretor. Os dois exemplos destacados são, respectivamente, um drama rodado no interior cearense e uma comédia infantil produzida inteiramente no bairro do Bom Jardim, em Fortaleza. “São várias versões do cinema cearense”, resume.

Curadora da mostra Olhar do Ceará do ano passado, a produtora Camilla Osório de Castro ecoa o destaque dado à multiplicidade da produção do Estado. “A gente tem um cinema cearense cada vez mais no plural”, define.

“A gente identifica convergências, como aproximação com o cinema de gênero e maior profissionalização dos filmes, mas chama atenção que dez, 15 anos atrás, a gente tinha pouca gente e de um meio social muito recortado fazendo filmes. Hoje, a Olhar do Ceará recebe uma diversidade enorme de pessoas mandando filmes, por consequência, com os mais variados referenciais estéticos porque elas têm diferentes repertórios de vida
Camilla Osório de Castro
curadora e cineasta

Na avaliação da curadora, a oportunidade de circulação dos filmes por outros estados e plateias é “fundamental”. “Quando a gente leva pra fora, o exercício é o outro nos ver e também ter a oportunidade de nos perceber na nossa complexidade. Hoje o cinema cearense tem muito prestígio e o Estado tem saído daquele lugar comum da seca e da pobreza no imaginário do Brasil, mas ainda há muito a ser construído”, aponta.

“Uma itinerância como essa permite que a gente amplie esses debates. Que o nosso cinema chegue nos grandes centros e que nós enquanto cearenses, com tudo o que a gente carrega de história, de cultura, possamos chegar também”, arremata.

Do Bom Jardim à Cinemateca Brasileira

Josenildo Nascimento e Gislândia Barros são a dupla de cineastas e produtores que fundou a Bom Jardim Produções, produtora que movimenta o audiovisual no bairro da capital cearense.

No Cine Ceará do ano passado, eles levaram o longa “Os Maluvidos” à Mostra Olhar do Ceará e ele ainda compôs a mostra não-competitiva “O Primeiro Filme a Gente Nunca Esquece”, voltada ao público infantil. A produção foi concretizada totalmente no bairro, com apoio de moradores do território.

Na trama, a menina Malu e o grupo de amigos dela bolam um plano para resgatar a amiga Anastácia, que foi levada por uma criatura que pode ser o Bicho-papão, o Chupa-cabra ou o Papa-figo.

“O Cine Ceará foi a porta de entrada para o nosso longa. Tivemos a felicidade e a honra de ter exibido duas vezes dentro do festival”, lembra Josenildo em entrevista ao Verso. O diretor explica que a obra chegou a circular por municípios cearenses e também por outros estados após a estreia. 

“A gente foi contemplado numa mostra em Manaus, ele foi pra Paraíba, pra região do Cariri... Foi muito gratificante e a gente achou que ia parar por ali. Agora, está aí na Cinemateca. A gente tá sonhando com isso, ele foi feito para circular”, celebra.

A produtora, reconta Josenildo, recebeu a oportunidade da exibição na Cinemateca de maneira efusiva. “Foi muita alegria. Não só nós, mas a galera envolvida na produção. Foi um acontecimento que trouxe certa visibilidade para a gente, a galera começa a olhar com outros olhos”, aponta

“É um filme produzido aqui dentro do Bom Jardim, na periferia. Com isso, a gente se sente até parte dessa história do cinema nacional. É bom, espero que a gente fique lá registrado, guardado na Cinemateca”
Josenildo Nascimento
diretor

A visibilidade ressaltada por Josenildo se espalha para além do público da própria cidade de São Paulo. “Isso reavivou o interesse da galera pelo filme, tem gente entrando em contato pra saber como é que faz para ver o filme de novo. É a Cinemateca Brasileira, né? Faz com que a galera comece a olhar com olhos de valorização, de interesse”, ressalta.

Confira a programação completa

Quinta-feira (18)

  • 20 horas - “Alienígena”, de Ricardo Peres e Wagner Lima Mendes, e “Represa”, de Diego Hoefel

Sexta-feira (19)

  • 20 horas - “Urubu aterrado”, de Cris Sousa e Weslley Oliveira, e “A Luta de Nzinga”, de Eduardo Cunha Souza

Sábado (20)

  • 15 horas - “Os Maluvidos”, de Josenildo Nascimento e Gislândia Barros
  • 17 horas - “Os Finais de Domingos”, de Olavo Júnior, “As Velas do Monte Castelo”, de Lanna Carvalho”, e “Quando Eu Me Encontrar”, de Amanda Pontes e Michelline Helena

Domingo (21)

  • 17 horas - “Circuito”, de Alan Sousa e Leão Neto, e “Um Pedaço de Mundo”, de Tarcísio Rocha Filho, Victor Costa Lopes e Wislan Esmeraldo

Mostra Olhar do Ceará na Cinemateca Brasileira

Quando: de 18 a 21 de abril
Onde: Cinemateca Brasileira (Largo Sen. Raul Cardoso, 207 - Vila Clementino, São Paulo)
Entrada gratuita, com ingressos distribuídos uma hora antes de cada sessão
Mais informações: no site da Cinemateca ou nas contas de Instagram @cineceara e @cinemateca.brasileira