Espedito Seleiro é tema de exposição no Mauc que celebra os 80 anos de contato do mestre com o couro

A abertura da mostra, com peças de colecionadores e do acervo pessoal do artista, acontece nesta terça-feira (13) e permanece aberta ao público até setembro

Difícil imaginar a trajetória de Espedito Seleiro sem a presença do couro. Fruto da quinta geração de hábeis artesãos da matéria-prima, o artista foi além e imprimiu sua identidade ao produto. Prestes a completar 80 anos, a parceria entre o mestre e o ofício que o acompanha até no nome será celebrada em exposição no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (Mauc), com abertura nesta terça-feira (13).

A mostra "Espedito Seleiro - 80 anos de couro e alma" pretende resgatar acontecimentos da vida e da obra do artesão desde as primeiras criações até as produções hoje valorizadas no universo do design. Com exemplares do acervo do próprio artista e outros cedidos por colecionadores, a seleção é fruto de um projeto de extensão do curso de Design da Universidade Federal do Ceará (UFC) que desenvolveu pesquisa sobre Seu Espedito.

"O projeto surgiu exatamente por conta do nosso interesse de entender a parceria do Mestre Espedito com designers brasileiros. Ele construiu muitas parcerias com pessoas do design de moda e de produto que vão estar representadas na exposição", explica a professora Tânia Vasconcelos, que coordena o projeto e assina a curadoria em parceria com André Scarlazzari e Érico Gondim.

Ocupando duas salas do Mauc, a mostra é dividida em dois momentos. No primeiro, ela trata da relação entre Espedito Seleiro e o couro. É quando se revelam o elo familiar do artista com essa matéria-prima e as primeiras peças produzidas pelo artesão. "As pessoas poderão ver, por exemplo, os projetos da sandália do modelo de Lampião que o pai do Mestre Espedito desenvolveu na forma retangular, além de uma bolsa que o próprio artesão fez para a dona Violeta Arrais (ex-secretária de Cultura do Ceará, falecida em 2008)", descreve a curadora.

Na segunda parte da mostra, é o momento de apresentar a fase em que o mestre desenvolve peças com uma identidade mais demarcada, fazendo uso das cores. É quando ele começa a dialogar com nomes do design de moda e de produto, como os irmãos Fernando e Humberto Campana que desenvolveram, juntos ao artesão, a coleção de mobiliário intitulada Cangaço, lançada em São Paulo e Miami.

"Essas parcerias reforçam um reconhecimento pelo trabalho dele e são trocas positivas. O mais interessante é que ele continua firme na identidade dele", reforça Tânia Vasconcelos.

A proposta é mostrar a versatilidade do trabalho de Seu Espedito que transcendeu a criação de produtos ligados apenas a trabalhadores do sertão para alcançar novas configurações. Nesse contexto, até a peça assinada pelo artista para a CowParade Fortaleza no ano passado estará em exibição.

Identidade

Na avaliação da curadora, um dos méritos de Espedito Seleiro foi ter conseguido atualizar o seu trabalho, além de manter-se fiel à identidade. Essas características servem de inspiração para pessoas ligadas ao design, observa a docente. "Aos oito anos, Seu Espedito fez um baú para mãe em que ele já faz uso de uma linguagem gráfica que ele permanece fiel ainda hoje. Ele teve que reposicionar a obra dele, mas nunca perdeu a essência do ofício", enfatiza.

Para o artesão, que faz aniversário no próximo dia 29 de outubro, exposições como essa ajudam a perpetuar o trabalho que ele desenvolveu ao longo da vida. Ele se disse emocionado com a iniciativa. "As pessoas mais novas não sabem o que é uma sela, um gibão, uma cangalha. Mostrar isso é bom pra mim. Daqui a pouco, vai ficar só a história e, se a gente não contar a história, como é que as pessoas vão se lembrar?", afirmou o mestre da cultura popular.

Serviço

Exposição "Espedito Seleiro - 80 anos de couro e alma"
Abertura nesta terça-feira (13), às 19h, no Mauc (Avenida da Universidade, 2854, Benfica), com a presença do homenageado. Visitação de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h às 17h. Gratuito. Exibição até 27 de setembro.