Fartura artística para ninguém colocar defeito. Até dezembro deste ano, o Espaço Cultural Unifor sedia duas mostras cujo objetivo é mergulhar o público em formas, estéticas e reflexões. Com visitação gratuita, os projetos unem o Ceará e o Brasil em um vasto terreno de possibilidades. Parada obrigatória.
“Jardim dos Anjos: Francisco de Almeida – 60 anos” é uma das exposições. Genuinamente cearense, ela celebra o aniversário de seis décadas de Delalmeida, como o artista é carinhosamente chamado. Ele levou a xilogravura a cores, luminosidades e figuras singulares, expressas também em tamanhos gigantes, fundando uma técnica bastante inovadora.
As cerca de 60 obras são um passeio pelo início da carreira do crateuense, nos anos 1960 – quando teve de criar xilogravuras a partir de matrizes feitas até mesmo com sobras de madeira de outros artistas – passando pelas fases de inspiração mística, religiosa, profana e onírica. No Espaço Cultural Unifor, também estarão presentes instrumentos de trabalho do mestre, a exemplo de algumas matrizes de confecção das xilos.
As obras espalhados em coleções particulares, no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC/UFC) e no museu do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, serão vistos em um só lugar nesta exposição. Entre eles, três pinturas e a xilogravura gigante “Os Quatro Elementos II”, de 2011, com dimensões de 1,50m por 18m. Prepare o olhar e as fotos.
Conexão São Paulo
A outra mostra em cartaz no equipamento faz um intercâmbio com terras paulistas. Trata-se da 34ª Bienal de São Paulo – "Faz escuro mas eu canto". Na capital cearense, a exposição será organizada a partir de três enunciados: Cantos Tikmũ’ũn, A imagem gravada de Coatlicue e Hiroshima mon amour de Alain Resnais, e terá trabalhos dos seguintes artistas: Alice Shintani, Daiara Tukano, E.B. Itso, Frida Orupabo, Gala Porras-Kim, Gustavo Caboco, Jaider Esbell, Jungjin Lee, Melvin Moti e Victor Anicet.
Em “Cantos Tikmũ’ũn”, imergimos nos Tikmũ’ũn, também conhecidos como Maxakali, povo indígena originário de uma região compreendida entre os atuais estados de Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo. Após inúmeros episódios de violências e abusos, eles chegaram a beirar a extinção nos anos 1940 e foram forçados a abandonar suas terras ancestrais para sobreviver.
Os cantos organizam a vida nas aldeias, constituindo quase um índice de todos os elementos que estão presentes em seu cotidiano. Na exposição, ganharão destaque obras sobre a necessidade de preservação do meio ambiente e de salvaguarda de culturas e conhecimentos que são transmitidos oralmente de geração em geração.
"A imagem gravada de Coatlicue", por sua vez, remete à descoberta, em 13 de agosto de 1790, de uma estátua, retratada e identificada pelo astrônomo e antropólogo Antonio de León y Gama como Teoyaomiqui. Na verdade, era a deusa Coatlicue, também conhecida como Dama de la Falda de Serpientes (Senhora da saia de serpentes). Na mitologia asteca, Coatlicue, padroeira da vida e da morte, era a mãe de Huitzilopochtli, deus da terra, e representava a fertilidade. A mostra envereda por esse rico percurso histórico.
Por fim, o enunciado “Hiroshima mon amour de Alain Resnais” parte de duas questões: O que há, de fato, para ver e entender naquilo que sobrevive às tragédias, aos extermínios de populações e culturas? E, diante do trauma inenarrável, o que podem contar um museu, um monumento, uma ruína ou uma cicatriz? Com inspirações no filme homônimo, lançado em 1959, o trabalho é sobre alteridade, opacidade e outros pontos tão importantes quanto. Imperdível.
Serviço
Exposições no Espaço Cultural Unifor
Av. Washington Soares, 1321. Entrada gratuita. Mais informações: (85) 3477.3319
Jardim dos Anjos: Francisco de Almeida – 60 anos
De 6 de setembro a 11 de dezembro de 2022. Terça a sexta, das 9h às 19h (em 6 de setembro, a partir de 19h)
34ª Bienal de São Paulo – Faz escuro mas eu canto
De 6 de setembro a 4 de dezembro 2022. Terça a sexta, das 9h às 19h