Entidades e organizações da sociedade civil, como o Conecta LGBTI+ e o Sleeping Giants, estão se mobilizando contra uma recente decisão da Meta, que permite a publicação de conteúdos associando a comunidade LGBTQIA+ a doenças mentais.
A empresa americana justificou a medida argumentando que esses debates são “amplamente culturais e políticos”, mas ativistas alertam para os impactos negativos dessa flexibilização, que pode ampliar discursos de ódio e desinformação nas plataformas.
A decisão da Meta, divulgada na última quarta-feira (8), inclui a permissão para que usuários façam postagens com "acusações de anormalidade mental relacionadas a gênero ou orientação sexual". Segundo a empresa, a nova diretriz se aplica a discussões em contextos religiosos ou políticos, sob a justificativa de que tais temas possuem relevância cultural.
Em entrevista ao Diário do Nordeste, João Renato Bonaldi, cofundador do Conecta LGBTI+, avalia que a decisão da Meta faz parte de um movimento maior das Big Techs de adaptação às mudanças políticas nos Estados Unidos.
"Essas decisões interferem, sem dúvidas, na forma como as pessoas irão se expressar nas redes sociais", afirma.
Além disso, ele ressalta que há um desmantelamento de iniciativas em ESG e Diversidade e Inclusão dentro da Meta, com o encerramento de práticas voltadas para justiça social. "Queremos que todas as pessoas sejam incluídas no mercado de trabalho sem sofrerem nenhum tipo de acepção. Queremos que as redes sociais sejam espaço de diálogo e harmonia", defende.
Articulação entre entidades e corpo social
Organizações como o Conecta LGBTI+ lideram a articulação de um manifesto intitulado #AcordaMeta, que já reúne mais de 80 signatários, entre eles, a Sleeping Giants, organização americana que também atua no Brasil.
O documento é um apelo para que a Meta reveja suas diretrizes e retome políticas de diversidade e inclusão, além de combater de forma mais rigorosa a desinformação e o discurso de ódio.
Segundo Bonaldi, a campanha está focada em disseminar o manifesto pelas redes sociais e prevê iniciativas como rodas de discussão, formação de lideranças para advocacy e articulações no Congresso Nacional e no Supremo Tribunal Federal (STF). "A sociedade civil, em parceria com movimentos e empresas, está se mobilizando a nível nacional e dando uma resposta coletiva", destaca.
Sobre as possibilidades de apoio, o cofundador explica que as pessoas podem contribuir de diversas formas. "Uma delas é engajando a campanha pelas redes sociais utilizando a #AcordaMeta, curtindo, comentando e compartilhando. Outra é se tornar uma Entidade Signatária do manifesto", sugere.
Efeito dominó?
Bonaldi também alerta para o efeito dominó dessa decisão em outras plataformas digitais.
"Essa decisão da Meta já é um efeito dominó. O X, por exemplo, segue o mesmo caminho. Muitas empresas internacionais com sede nos EUA já estão adotando medidas anti-woke. O McDonald’s anunciou recentemente o fim de práticas em diversidade. O dominó já começou, e precisamos interrompê-lo."
Embora haja articulação com políticos e órgãos públicos para enfrentar a situação, Bonaldi informa que os detalhes dessas parcerias ainda não podem ser divulgados.
Ele alerta para os impactos dessa decisão na saúde mental da comunidade: "Os impactos são inimagináveis e catastróficos, principalmente se pensarmos do ponto de vista psíquico. Como psicólogo, posso afirmar que as redes sociais já cumprem um papel de causar sofrimento psíquico em muitas pessoas", disse ele.
Importância do movimento
Segundo o manifesto, é fundamental que a sociedade civil, as empresas e os movimentos atuem juntos para enfrentar os impactos dessas mudanças. "Em nome da responsabilidade social e do nosso notório poder de influência política, é imprescindível presenciarmos essas movimentações internacionais e pensarmos nos impactos nacionais, para além dos que já existem", destaca o documento.
As entidades argumentam que a decisão da Meta desconsidera os riscos à saúde mental de milhões de pessoas e reforça discursos discriminatórios que, em muitos casos, resultam em violência e exclusão social. De acordo com o Conecta LGBTI+, o manifesto é um convite à reflexão coletiva sobre os limites da liberdade de expressão e a responsabilidade das plataformas digitais.
Como apoiar a campanha
Nas redes sociais
Utilize a hashtag #AcordaMeta em suas publicações e compartilhe conteúdos relacionados à campanha, sejam eles posts oficiais do Conecta LGBTI+ ou materiais de outras entidades que também estão na mobilização. Além disso, é possível criar postagens próprias, destacando os riscos da decisão da Meta e explicando como ela impacta a comunidade LGBTQIA+.
Como entidade signatária
Em caso de representação de um coletivo, organização ou movimento que queira apoiar a causa, é necessário entrar em contato com o Conecta LGBTI+ e formalizar o apoio institucional. O contato pode ser feito através do Instagram do próprio Conecta LGBTI+: @conecta_lgbti
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*Estagiária sob a supervisão da jornalista Mariana Lazari