Governo brasileiro se desculpa por negligência com ossadas encontradas na vala clandestina de Perus

A vala guarda resquícios das violações de direitos humanos ocorridas durante a ditadura militar no Brasil

Escrito por
Redação producaodiario@svm.com.br
(Atualizado às 22:24)
Ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo pede desculpas por negligência com ossadas encontradas na vala clandestina de Perus
Legenda: Durante a cerimônia, Macaé Evaristo entregou uma placa com um pedido de desculpas a Gilberto Molina, irmão de Flávio Carvalho Molina, uma das vítimas da ditadura militar
Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

O Estado brasileiro reconheceu publicamente, nesta segunda-feira (24), sua negligência na guarda e identificação de ossadas da Vala Clandestina de Perus. A cerimônia foi realizada ao lado do Memorial aos Mortos e Desaparecidos, no Cemitério Dom Bosco, em Perus, na zona norte da capital paulista, na data em que é celebrado o Dia da Memória, pela Verdade e pela Justiça.

O governo brasileiro foi representado pela ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo. Em seu discurso, a magistrada fez um pedido público de desculpas às famílias das pessoas mortas e desaparecidas durante a ditadura militar. Ela reconheceu a falha do Estado na identificação dos remanescentes ósseos encontrados na Vala de Perus.

"O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, em nome do Estado Brasileiro, pede desculpas aos familiares dos desaparecidos políticos durante a ditadura militar brasileira, iniciada em 1964, e à sociedade brasileira pela negligência, entre 1990 e 2014, na condução dos trabalhos de identificação das ossadas, encontradas na vala clandestina de Perus, localizada no Cemitério Dom Bosco em São Paulo", destacou a ministra.

Veja também

De acordo com a Agência Brasil, a Vala Clandestina de Perus guarda resquícios das violações de direitos humanos ocorridas durante a ditadura militar no Brasil. No local, foram enterrados ilegalmente corpos de pessoas indigentes, de desconhecidos, e daqueles considerados opositores ao regime de opressão iniciado em 1964.

"A abertura da vala clandestina, em setembro de 1990, no Cemitério Dom Bosco, localizado no bairro de Perus, zona norte de São Paulo, marca a descoberta de uma face das violações perpetradas durante a ditadura militar brasileira. Ela foi utilizada ilegalmente durante a década de 1970 para enterro de corpos de pessoas indigentes, desconhecidas e daquelas consideradas opositoras da ditadura militar", explicou a ministra.

Durante a cerimônia, Macaé Evaristo entregou uma placa com um pedido de desculpas a Gilberto Molina, irmão de Flávio Carvalho Molina, uma das vítimas da ditadura militar. O homem foi torturado e morto por agentes da repressão em 1971.

"De 1990, quando a vala foi aberta, até 2005, quando ele foi identificado, se passaram 15 anos. Isso foi um velório interminável", lamentou Gilberto Molina.

Vala Clandestina de Perus

Em 1990, o jornalista Caco Barcellos descobriu a vala enquanto investigava homicídios praticados por policiais militares. Ao analisar laudos periciais em uma sala do Instituto Médico Legal (IML), de processos entre 1971 a 1973, referentes a encaminhamentos de mortos feitos pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops), o jornalista notou que havia a letra “T” escrita com lápis vermelho em alguns documentos. Ele descobriu que a letra T significava "terrorista".

Barcellos denunciou a existência da vala para a gestão da então prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, que determinou o início das escavações. No local, foram encontradas 1.049 ossadas sem identificação de vítimas de esquadrões da morte, indigentes e presos políticos.

À época, a prefeitura determinou a apuração dos fatos e uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) acabou sendo aberta na Câmara Municipal de São Paulo.

Assuntos Relacionados