Após o Ministério da Saúde (MS) orientar a suspensão da vacinação de adolescentes de 12 a 17 anos com a Pfizer no País nesta quarta-feira (15), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou nota afirmando que "não há evidências que subsidiem ou demandem alterações nas condições aprovadas para a vacina".
Em entrevista coletiva nesta quinta (16), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, orientou que a segunda dose (D2) não seja aplicada nos adolescentes. E citou a morte de um adolescente de 16 anos em São Paulo. Segundo a Anvisa, esse óbito, ocorrido em 2 de setembro, está sendo investigado como uma suspeita de reação adversa grave, mas os dados ainda são preliminares.
"No momento, não há uma relação causal definida entre este caso e a administração da vacina", observou o órgão sanitário.
O Ceará anunciou nesta quinta que vai manter a imunização de adolescentes, afirmando que o MS decidiu o caso "de forma unilateral". São Paulo também dará seguimento à imunização.
A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) também frisou que a vacinação em adolescentes é segura e deve ser mantida.
“Não há evidências científicas que embasem a decisão de interromper a vacinação de adolescentes, com ou sem comorbidades. A SBIm, portanto, entende que o processo deve ser retomado, de acordo com o que já foi avaliado, liberado e indicado pela Anvisa”, disse em nota.
Reunião com a Pfizer
A Anvisa ainda pontuou que já iniciou a avaliação do caso junto a autoridades públicas e "adotará todas as ações necessárias para a rápida conclusão da investigação".
Será estabelecido também contato com sociedades científicas, para intensificar a rapidez da identificação de reações adversas.
"A Anvisa realizará reunião com a empresa Pfizer e os responsáveis pela investigação do caso no estado, além do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs) nacional para obter mais informações", diz a nota.
Monitoramento e eficácia
A nota da Anvisa ressalta que a Pfizer e as outras vacinas em aplicação no Brasil são monitoradas de perto "pela vigilância diária das notificações de suspeitas de eventos adversos".
"Até o momento, os achados apontam para a manutenção da relação benefício versus risco para todas as vacinas, ou seja, os benefícios da vacinação excedem significativamente os seus potenciais riscos", declara a Anvisa.
A aprovação da Pfizer para adolescentes entre 12 e 15 anos foi dada em junho deste ano. Conforme a Anvisa, foram apresentados estudos de fase 3, que apontaram a eficácia e segurança da aplicação.
"Para as conclusões sobre eficácia, foram considerados 1.972 adolescentes vacinados. A eficácia da vacina observada foi de 100% para indivíduos sem evidência de infecção prévia por Sars-CoV-2, antes e durante o regime de vacinação, e 100% para aqueles com ou sem evidência de infecção prévia por Sars-CoV-2, antes e durante o regime de vacinação", divulgou o órgão.
Conselhos lamentam decisão do MS
Em nota conjunta, os conselhos Nacional de Secretários de Saúde (Conasems) e Nacional das Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) reforçaram a importância da vacinação de adolescentes contra a Covid-19.
As entidades manifestaram "profundo lamento às recentes decisões do Ministério da Saúde na operacionalização da Campanha Nacional de Vacinação Contra a Covid-19".
No texto, é pontuado que as orientações foram dadas sem "qualquer consulta prévia às representações estaduais e municipais". Segundo os órgãos, foi posta em risco a "principal ação de controle da pandemia".
"Apesar de a vacinação ter levado a uma significativa redução de casos e óbitos, o Brasil ainda apresenta situação epidemiológica distante do que pode ser considerado como confortável, em razão do surgimento de novas variantes", diz nota.
A nota foi assinada por Carlos Lula, presidente do Conass, e Wilames Freire, presidente do Conasems.
"Conass e Conasems, baseados nos atuais conhecimentos científicos, defendem a continuidade da vacinação para a devida proteção da população jovem, sem desconsiderar a necessidade de priorizar neste momento dentre os adolescentes, aqueles com comorbidade, deficiência permanente e em situação de vulnerabilidade", finalizam.
Por que a vacinação em adolescentes é segura, segundo a SBIm
1 - A Organização Mundial da Saúde (OMS) não é contrária a vacinação de adolescentes “com ou sem comorbidades”
2 - A Anvisa não restringiu a administração a pessoas de 12 a 17 anos com comorbidades.
3 - Ocorrências pontuais de administração equivocada de vacinas de outros fabricantes não justificam a interrupção, considerando que a orientação já é utilizar só a Pfizer/BionTech para esse público.
4 - Eventos adversos foram registrados em apenas 0,00043% desta população vacinada, além dos erros de imunização serem a causa da absoluta maioria deles (93%).
5 - A incidência de eventos adversos graves como miocardite é extremamente baixa e inferior ao risco da própria Covid-19.
6 - A redução de 60% no número de casos e de 58% de mortes por Covid-19 nos últimos 60 dias não é motivo para a interrupção. A vacinação é um dos fatores, senão o principal, que colaborou para esse avanço.