Após o anúncio da prisão de Katiuscia Torres, conhecida como Kat Torres, diversas supostas vítimas denunciaram a life coach por golpes aplicados nos Estados Unidos. Segundo reportagem do jornal O Globo, a guru espiritual estudava os alvos para saber com extorqui-las.
A brasileira atuava como uma espécie de guru de uma seita que promete dinheiro, sucesso profissional e até trazer o amor desejado através de feitiços, hipnose e consumo de um chá alucinógeno chamado Ayahuasca.
Uma das mulheres que acusam Kat, identificada pelo nome fictício de Maria, disse ter sido extorquida em mais de R$ 150 mil em quatro anos. A suposta vítima alega que viajou para os EUA, na esperança de reconquistar o ex-namorado, após passar por sessões de bruxaria.
Segundo Maria, ela passou a se consultar com a life coach, que a orientava como agir com os namorados. O valor de cada consulta na época era de cerca de R$ 1 mil.
"Ela ficou cinco anos me acompanhando com todos os caras que eu saí. Ela sabia que eu era insegura e sempre falava para eu ir para as consultas para ter mais confiança. Para falar com os homens, ela escrevia a mensagem e eu só encaminhava. E os conselhos davam certo, por isso eu confiava. Tenho uma família muito bem estruturada, meu foco nunca foi ganhar dinheiro. Mas ela queria o meu dinheiro e conseguiu", disse ela ao jornal O Globo.
A mulher conta que vinha passando por uma crise no relacionamento com o namorado e Kat a aconselhou a abandonar a psicóloga. Ao mesmo tempo, a convenceu a ir encontrá-la nos EUA, sob o argumento de que ela estava com uma "energia muito pesada", onde ela seria submeteria a um "banho de iniciação" que custaria US$ 10 mil e uma série de sessões de bruxaria, cada uma a US$ 800.
Segundo argumentos de Kate, as sessões serviriam para reequilibrar Maria e trazer o namorado de volta em três meses. Maria pagou antecipadamente pelos trabalhos místicos e desembarcou em Houston, nos Estados Unidos, dois dias depois.
Ao chegar à casa de Kat, conforme Maria, ela conheceu Letícia Maia Alvarenga, de 21 anos, e Desirrê Freitas, de 26, que também foram presas, além de outra mulher identificada apenas como Flaire, que teria se mudado para lá após sofrer abusos sexuais. Somente após cinco dias convivendo com elas, percebeu que havia caído em um golpe.
"Comecei a ver que os banhos com cristais não funcionavam, o meu ex não me procurava, e as meninas deixaram escapar que a Kat as proibiram de falar de negócios comigo. A Flare, uma terceira menina que trabalhava com a Kat, também disse que o meu ex-namorado não era o homem para a minha vida. Então, depois de cinco dias, eu vim embora e nunca mais falei com nenhuma delas", disse Maria.
Catadora enganada
Com a repercussão do caso envolvendo a brasileira, pelo menos outras sete possíveis vítimas acusaram a guru. Entre elas, a catadora de recicláveis Maiara Ribeiro, de 28 anos, que foi levada a acreditar que teria a autoestima recuperada.
Na época, a vítima e o marido estavam desempregados. Após contactar Kate pelo Instagram, a mulher disse que a life coach prometeu ajudá-la a ter mais autoestima. Por mensagem, convidou a catadora de recicláveis para passar uma semana na Califórnia com ela, alegando que custearia gastos com passaporte, visto e despesa. Contudo, a promessa não foi cumprida.
"Ela me dizia que eu voltaria da Califórnia uma mulher muito mais confiante e com dinheiro. Mas em momento algum ela me ofereceu um emprego ou disse para eu levar o meu marido e minhas duas filhas. Eu só acreditei, fui atrás dos documentos e encaminhei para que ela pagasse. Estava disposta a arriscar para ter uma vida melhor, mas infelizmente fui enganada — contou Maiara.
Ainda segundo Maiara, Kat chegou a divulgar nos stories de seu antigo Instagram que a levaria para uma "imersão de autoestima". Mas, após a promessa, Kat sumiu por uma semana e não respondeu mais as mensagens.
Suposto desaparecimento
A história de Kat veio à tona em outubro, quando passou a circular nas redes sociais a história de que Letícia e Desirré estariam sendo mantidas presas nos EUA pela guru. A influenciadora e "guru" negou as acusações, e as duas garotas também já saíram em defesa dela.
O suposto desaparecimento das brasileiras mobilizou diversos internautas. Familiares e amigos de Letícia afirmaram que ela deixou o País para trabalhar como au pair, ou babá, na casa de Kat Torres. Um perfil dela foi encontrado em um site de prostituição.
Em 16 de outubro, Letícia fez uma live no Instagram e desmentiu que estava presa por Kat. Yasmin Brunet entrou na transmissão e comentou pedindo que a menina mostrasse o cômodo onde estava.
Após o comentário, Letícia suspendeu a live e passou a acusar Brunet, afirmando que Desirré estaria presa no "cativeiro" da modelo e que voltaria lá para tentar salvá-la. Ela afirmou que Brunet tinha um esquema de tráfico de mulheres, com envolvimento de Luiz Bacci e do próprio pai.
Logo após ser acusada, a modelo negou envolvimento no caso e afirmou que os seus advogados já teriam sido acionados. Em seguida, Letícia recuou e desmentiu a própria acusação.
"A gente não teve escolha e foi obrigado a começar a fazer deboche e piada com o caso. E já que a Yasmin estava incriminando a Kat e o Luiz [Bacci, da Record TV] também, começamos a incriminar eles pra eles verem como é ser inocente de algo e ver a sua vida virar esse curso que está”, comentou a jovem no dia 18 de outubro.
Prisão das brasileiras
Já no início de novembro, Yasmim, que processou as três por divulgar informações falsas, publicou fotos de Kate, Letícia e Desirré presas na cadeia do condado de Cumberland, no estado da Carolina do Norte. Conforme informação do jornal Metrópoles, e confirmada pela defesa da modelo, as brasileiras seriam deportadas dos Estados Unidos.