Trump busca driblar impeachment e conquistar reeleição em 2020

EUA já vivem clima de pré-campanha presidencial numa semana em que os deputados formalizaram pedido de impeachment contra o presidente e uma senadora desistiu de disputar a indicação pelo partido da oposição

Maior economia do mundo, os Estados Unidos vão realizar eleições presidenciais em 2020, com Donald Trump em busca da reeleição, mas ainda sem saber quem será o adversário no pleito marcado para o começo de novembro.

Dois fatos relevantes agitaram o cenário pré-eleitoral na última semana: o anúncio da desistência da senadora negra Kamala Harris de disputar a vaga pela candidatura democrata (oposição), na última terça-feira, e o pedido formal da presidente da Câmara de Representantes, a também democrata Nancy Pelosi, para submeter Trump a um processo de impeachment.

O risco de o presidente ser afastado do cargo no ano eleitoral é mínimo. O Senado é controlado pelo Partido Republicano, que tem a maioria dos assentos e deverá barrar o impeachment de Trump.

Os parlamentares do Partido Democrata acusam Trump de ter abusado do poder ao adiar a entrega de ajuda para a Ucrânia como forma de pressionar o governo de Kiev a investigar um de seus principais rivais, o ex-vice-presidente de Obama, Joe Biden.

A lista de candidatos às primárias democratas continua grande (15 nomes). Biden aparece na liderança das pesquisas, seguido pela senadora Elizabeth Warren, o colega socialista Bernie Sanders e, em um inesperado quarto lugar - e em ascensão -, o prefeito gay assumido da pequena cidade de South Bend (no Estado de Indiana), Pete Buttigieg.

No mês passado, o ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, também anunciou que é candidato à indicação democrata. Com uma fortuna pessoal de US$ 50 bilhões, Bloomberg tem um perfil de centro, que de acordo com analistas poderia conquistar simpatizantes do moderado Biden. Alguns acreditam que sua imagem de um homem que alcançou sua posição graças a seus esforços e seu apoio à luta contra as mudanças climáticas faz dele a melhor aposta contra Trump.

Política externa

Enquanto a oposição não define o candidato, Trump usa a política externa para reforçar o discurso de recuperar o prestígio dos EUA como a nação mais poderosa do mundo.

Da Síria à Otan, passando pelas guerras comerciais lançadas pelo Twitter, Trump impôs ao mundo sua concepção muito pessoal de relações internacionais e, com a eleição de 2020, deve insistir nessa estratégia apoiada por sua base. O magnata do setor imobiliário anunciou em 2019 o que talvez tenha sido sua vitória mais sólida na cena mundial até o momento: a morte do líder do grupo extremista Estado Islâmico (EI), Abu Bakr al-Bagdadi, em uma operação de seu governo na Síria.

Tumultuada foi sua agressiva estratégia comercial com a China. Frustraram-se, até então, as expectativas de que as duas maiores economias do mundo cheguem a acordo.

Brian Katulis, membro do Center for American Progress (um centro de estudos), classificou a política externa como o "tema latente" das futuras eleições, mas disse não estranhar que Trump encontre uma maneira de empurrá-la para debaixo do tapete. "Esta é uma presidência de programa de reality show. Embora não tenha conseguido grandes conquistas, ele dirá que sim", comentou. "Usará outros países e seus líderes para alavancar sua campanha de reeleição", insistiu Katulis.

Já para Nile Gardiner, ex-conselheiro da premiê britânica Margaret Thatcher e especialista do "think tank" (centro de estudos) conservador Heritage Foundation em Washington, o presidente obteve êxitos "significativos".

"A política externa de Trump é prospectiva, e não isolacionista", alegou Gardiner, acrescentando que os líderes europeus "estão se preparando para a possibilidade muito forte de reeleição de Trump", analisou Gardiner.

Mais empregos

Analistas consideram que os dados da economia favorecem a reeleição de Trump. Em novembro, o país criou 266 mil empregos, número muito acima das expectativas dos bancos, que esperavam 182 mil novos postos de trabalho. Neste ano, o desemprego chegou a atingir a menor taxa em 50 anos.

Iowa

A disputa pela indicação do Partido Democrata começa em Iowa, estado na região centro-oeste dos EUA, com as primeiras votações das primárias marcadas para o dia 3 de fevereiro. Iowa é o maior produtor de soja e etanol, além de ter o maior rebanho suíno do país.