O Talibã anunciou, nesta terça-feira (17), uma anistia geral em todo o Afeganistão, além da intenção de receber mulheres no governo. As medidas visam a acalmar os ânimos da população, com medo do grupo extremista desde a retomada do poder o último domingo (15). As informações são do jornal Al Jazeera.
Os comentários de Enamullah Samangani, membro da comissão cultural do Talibã, representam os primeiros sinais de governança desde que o presidente Ashraf Ghani saiu do País no domingo, quando o grupo manifestou sua tomada.
"A estrutura do governo não é totalmente clara, mas, com base na experiência, deve haver uma liderança totalmente islâmica e todos os lados devem se juntar", ressaltou Samangani, apesar de permanecer vago sobre outros detalhes da aplicação da lei e o cumprimento esperado pelo grupo extremista.
"Nosso povo é muçulmano e nós não estamos aqui para forçá-los ao Islã", disse. Apesar disso, comentários feitos por representantes talibãs predispõem aspectos do novo governo no país afegão. Mas como o Talibã deve se comportar?
O que é anistia
A palavra anistia vem do grego "amnestia" e significa esquecimento. É usada no perdão de condutas consideradas reprováveis. Ao longo da história, a anistia foi concedida na transição de guerras, regimes, grandes comoções públicas e outros fatos similares.
No caso do Talibã, a decisão se deu por uma anistia geral — crimes cometidos e já julgados podem ser perdoados pelo grupo extremista.
Ao justificar a decisão de deixar o país, Ashraf Ghani afirmou desejar evitar um "banho de sangue", pois, segundo ele, os extremistas pretendiam atacar a população local. Ainda conforme o ex-presidente, haveria um "desastre humano" caso o governo afegão continuasse lutando.
Direitos das mulheres
Conforme o jornal Al Jazeera, o porta-voz Zabihullah Mujahid destacou, em coletiva de imprensa nesta terça, que o grupo extremista respeitará os direitos das mulheres, desde que dentro das normas da lei islâmica. "Nós vamos permitir que mulheres trabalhem e estudem [...] As mulheres serão muito ativas na sociedade, mas na moldura do islã".
"Não haverá discriminação contra mulheres [...] Elas vão trabalhar ombro a ombro conosco".
A fala segue afirmação de Enamullah Samangani, membro da comissão cultural do grupo — ele afirmou que o novo governo "não quer que as mulheres sejam vítimas". "Elas deveriam estar na estrutura governamental de acordo com a lei sharia".
Antigamente, os extremistas impuseram restrições sobretudo à população feminina, que não podia trabalhar, estudar e até sair de casa sem a companhia de parentes do sexo masculino. Além disso, mulheres acusadas de adultério poderiam ser submetidas a apedrejamentos.
No entanto, o Talibã tem buscado apresentar atuação mais moderada do que a do fim dos anos 1990, considerada brutal, com penas até de execuções públicas. "Haverá uma diferença no que diz respeito às ações que iremos tomar", afirmou o porta-voz.
Planos do regime talibã
Mujahid assegurou a jornalistas que o grupo está empenhado em proteger os direitos dos trabalhadores da mídia. "Nós estamos comprometidos com a mídia dentro das nossas normas culturais. Mídia privada pode continuar a ser livre e independente. Eles podem continuar suas atividades", pontuou.
Ele garantiu que o grupo não planeja entrar nas casas das pessoas ou realizar ataques em retaliação a pessoas que serviram aos governos anteriores, a estrangeiros ou que fizeram parte das Forças Nacionais da Segurança Afegã.
Em relação a registros não confirmados de membros do Talibã entrando em casas de residentes de Cabul, o porta-voz afirmou que se tratam de impostores, os quais deveriam ser entregues ao Talibã e enfrentar a punição apropriada.
No entanto, segundo o G1, canais de televisão já substituíram as populares séries indianas e turcas por outras de teor religioso islâmico.
Como está Cabul
Nesta terça-feira, a vida já retornou ao normal em Cabul, com lojas reabrindo, pessoas circulando e trânsito intenso. Membros do grupo instauraram postos de controle e passaram a organizar o fluxo nas vias.
No Afeganistão, estudantes relataram que não conseguiram retornar às aulas após a retomada de poder por parte do Talibã. Há, também, relatos de mulheres que foram rejeitadas nos postos de trabalho.
De acordo com o portal G1, já se veem mulheres vestidas com roupas mais conservadoras nas ruas, apesar de o Talibã não ter imposto formalmente a obrigatoriedade da burca ou de que mulheres só saiam de casa acompanhadas.
Ainda conforme o G1, um comerciante de Cabul comentou à AFP que "as pessoas têm medo do desconhecido". "Os talibãs estão patrulhando a cidade em pequenos comboios. Não estão importunando ninguém, mas é claro que as pessoas estão com medo".