Os órgãos de saúde dos Estados Unidos e de Israel investigam se imunizantes contra a Covid-19 que utilizam a tecnologia de RNA mensageiro, como as vacinas desenvolvidas pela Pfizer e pela Moderna, podem causar inflamação leve no músculo do coração.
No início de junho, o Ministério da Saúde israelense publicou um comunicado afirmando que investiga a ligação entre o uso da vacina da Pfizer e a ocorrência de miocardite em homens mais jovens.
Segundo a autoridade do país, 148 casos de miocardite próximos da data de vacinação foram registrados entre dezembro de 2020 e maio de 2021. O comunicado apronta que a inflamação acontece com maior frequência em jovens com idades entre 16 e 19 anos, e 95% dos casos são considerados leves.
"Existe alguma probabilidade de uma possível ligação entre a segunda dose da vacina e o surgimento da miocardite em homens com idades entre 16 e 30 anos", disse o Ministério da Saúde de Israel no texto.
O comunicado ainda informou que a recomendação para vacinar adolescentes de 12 a 15 anos deve ser discutida pelo fórum da Força-Tarefa de Contenção da Pandemia e submetido à aprovação do diretor-geral da pasta da saúde.
Em 17 de maio, os Estados Unidos, por meio do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), também afirmou ter registrado alguns raros casos brandos de miocardite que se seguiram à imunização com uma das vacinas de RNA mensageiro. Nos país norte-americano, são usados dois imunizantes com a tecnologia — Pfizer/BioNTech e Moderna).
O comunicado explica que a inflamação pode ser considerado um potencial efeito adverso dessas vacinas. De acordo com o CDC, os casos ocorrem predominantemente em adolescentes e jovens adultos, é mais frequente em homens e acontecem tipicamente quatro dias após a vacinação com a segunda dose. No país, crianças a partir de 12 anos de idade podem ser vacinadas.
Segundo o CDC, 789 casos foram registrados nos EUA até o dia 31 de maio; 216 ocorreram após a primeira dose e 573, depois da segunda dose.
Reação exagerada do organismo
Segundo o cardiologista do hospital HCor, Jasvan Leite, caso seja comprovada a ligação entre os imunizantes e a inflamação no coração, o efeito não seria exclusivo das novas vacinas.
O médico explica que em 80% a 90% dos casos de miocardite, alguma infecção viral atingiu o trato respiratório ou o trato gastrointestinal alguns dias antes. O que acontece nesses casos é que a resposta imunológica para combater o vírus pode ser exagerada e as substâncias inflamatórias liberadas pelo organismo chegam a outras partes do corpo e podem prejudicá-las.
"As vacinas também pode gerar resposta inflamatória, pois traz a presença de um corpo estranho", afirma Leite. "É por isso que muitas pessoas têm febre ou dores no corpo após a imunização, e isso é normal."
Todas as vacinas carregam, de alguma forma, um antígeno — um pedaço do vírus, ou o vírus inteiro inativado, incapaz de gerar doença — que serve para acionar o sistema imunológico e produzir moléculas específicas para combater o patógeno e gerar proteção contra a infecção.
Quando a miocardite é um efeito adverso da vacina, os casos são predominantemente leves e se manifestam com uma dor no tórax, diz o médico. Leite estima que menos de 1% de todos esses casos evoluam para quadros mais graves, gerando arritmias ou insuficiência cardíaca.
Ainda não é possível saber porque esse tipo de inflamação no coração após a vacinação é mais comum em homens, mas sabe-se que a resposta imunológica é mais intensa em jovens do que em pessoas mais velhas, o que pode aumentar as chances de haver resposta inflamatória associada à resposta imunológica.
Casos no Brasil
O imunizante da Pfizer é utilizado na campanha de vacinação no Brasil, mas, segundo o Ministério da Saúde, não havia nenhuma suspeita de miocardite relacionada à aplicação do farmáco no País até a última quarta-feira (9).
"É importante esclarecer que os eventos adversos são associados a qualquer reação após a vacinação, ou seja, não há, necessariamente, relação direta com a vacina. Todos são investigados detalhadamente pelas autoridades de vigilância locais, supervisionadas pelo Ministério da Saúde, com apoio de especialistas", disse a pasta.
Para Leite, do HCor, os casos raros não devem trazer desconfiança sobre o uso dessas vacinas. "As vacinas são seguras, e os efeitos colaterais podem acontecer como em qualquer outro imunizante", explicou.