Um dos comandantes da Jihad Islâmica morreu, nesta segunda-feira (17), em um ataque aéreo de Israel na Faixa de Gaza. Já são mais de 200 mortos, em sua grande maioria palestinos, por ofensivas que ocorrem desde 10 de maio.
Na madrugada de domingo para segunda-feira, a aviação israelense efetuou dezenas de bombardeios na Faixa de Gaza, onde vários grupos armados lançaram foguetes contra o território de Israel. No início da manhã, as ruas do território, onde moram dois milhões de pessoas, estavam desertas.
O exército israelense informou em um comunicado que atacou noves casas que pertencem a comandantes do Hamas, incluindo algumas que eram utilizadas para "armazenar armas".
A Jihad Islâmica, segundo grupo armado palestino na Faixa de Gaza, anunciou que Hosam Abu Harbid, um de seus principais comandantes, morreu em um ataque.
"Nunca aconteceram bombardeios deste calibre", afirmou Mad Abed Rabbo, de 39 anos, que mora na zona oeste da cidade de Gaza e disse que tem o sentimento de "horror, medo".
Destruição e mortes na Faixa de Gaza
Desde 10 de maio, pelo menos 198 palestinos morreram, incluindo 58 crianças e adolescentes, e mais de 1.200 ficaram feridos. Do lado de Israel, 10 pessoas morreram, incluindo uma criança, e 294 ficaram nos ataques de foguetes lançados a partir da Faixa de Gaza.
Apenas no domingo (16), 42 palestinos, incluindo oito menores de idade e dois médicos, morreram nos bombardeios israelenses em Gaza. Esse é maior número de vítimas em um único dia, segundo o ministério da Saúde local.
Centenas de edifícios foram danificados na Faixa de Gaza e os cortes de energia elétrica se tornaram mais intensos. No sábado (15), um ataque de mísseis destruiu um prédio de 12 andares, que abrigava escritórios da emissora Al Jazeera e da agência americana de notícias Associated Press (AP).
Quase 40 mil palestinos abandonaram suas casas, informou o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU. As equipes de resgate e os moradores tentavam retirar os escombros e apagar os incêndios, incluindo um em uma fábrica de colchões de espuma.
Os israelenses, especialmente os do sul do país que vivem com alertas contínuos de foguetes, ouviram um apelo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu para que "limitem suas atividades ao ar livre".
Os grupos armados palestinos, incluindo o braço militar do Hamas, lançaram mais de 3.150 projéteis contra Israel desde o início das hostilidades. A maioria é interceptada pelo sistema antimíssil de Israel, o 'Domo de Ferro'.
Violência extrema
Além do conflito com o Hamas, também existe a escalada entre árabes e judeus em várias cidades mistas de Israel, um nível de violência que não era observado há décadas, de acordo com a polícia israelense.
Na sexta-feira (14), Israel ameaçou atacar a Faixa de Gaza por terra. O país tem capacidade bélica e estrutura de proteção à população civil bastante superior à da Palestina.
"Nossa campanha contra as organizações terroristas segue a pleno vapor", afirmou no domingo o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, justificando o bombardeio de um edifício de 13 andares que abrigava os escritórios dos veículos de mídia.
Era um "alvo perfeitamente legítimo", declarou, antes de explicar que o ataque foi baseado em informações dos serviços de inteligência. O exército israelense, que alega ter como alvos as áreas e equipamentos do Hamas, alguns comandantes e túneis subterrâneos, acusa o movimento islamista de usar os civis como "escudos".
A onda de violência começou após uma série de foguetes lançados pelo Hamas contra Israel em "solidariedade" com centenas de palestinos feridos nos distúrbios com a polícia israelense em Jerusalém Oriental.
A origem das manifestações foi a ameaça de expulsão forçada de famílias palestinas a favor de colonos israelenses no bairro de Sheikh Jarrah.
Em Jerusalém Oriental, a polícia reprimiu os fiéis reuniram na Esplanada das Mesquitas para a última grande oração antes do fim do Ramadã - mês de jejum muçulmano - no dia 7.
Os palestinos protestaram contra a proibição de acesso à Cidade Velha e a comemoração do 'Dia de Jerusalém', na segunda-feira (10), feriado nacional que celebra a ocupação do território palestino por Israel em 1967.
As hostilidades já chegaram à Cisjordânia, território palestino também ocupado por Israel desde 1967, onde os confrontos com o exército israelense deixaram 19 mortos entre os palestinos na última semana.
O último grande confronto entre Israel e Hamas aconteceu em 2014. O conflito de 51 dias destruiu a Faixa de Gaza e deixou pelo menos 2.251 mortos do lado palestino, a maioria civis, e 74 em Israel, a maioria soldados.
Crise 'incontrolável'
A violência "tem o potencial de provocar uma crise de segurança e humanitária incontrolável e estimular ainda mais o extremismo", alertou no domingo o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, em uma reunião de emergência do Conselho de Segurança.
"Este ciclo insensato de derramamento de sangre, terror e destruição deve parar imediatamente", implorou, mas a terceira reunião virtual sobre o tema acabou sem avanços.
De acordo com fontes diplomáticas entrevistadas pela AFP, os representantes dos Estados Unidos se negaram novamente no domingo a divulgar uma declaração conjunta.
Nesta segunda-feira, o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, pediu a Israel e aos palestinos que "protejam os civis, especialmente as crianças", reiterando que Israel, "como democracia", tem um "dever especial" neste sentido.
Em declaração à imprensa, a porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores, Hua Chunying, considerou que Washington se opõe à vontade da comunidade internacional.
"Os Estados Unidos repetem que se preocupam com os direitos dos muçulmanos (...) mas ignoram o sofrimento dos palestinos", criticou Hua.