Eleições na França: esquerda freia extrema direita no pleito legislativo, mas não garante maioria

Com o resultado, começa um período de incerteza sobre quem governará, já que nenhum bloco alcançou maioria absoluta

A coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP) tirou da extrema direita a vitória nas eleições legislativas da França, onde, nesta segunda-feira (8), se inicia um período de incerteza sobre quem governará, já que nenhum bloco alcançou maioria absoluta. Nessa data, o primeiro-ministro Gabriel Attal deve entregar o cargo ao presidente, Emmanuel Macron.

A NFP obteve cerca de 190 dos 577 assentos da Assembleia Nacional (câmara baixa), seguida pela aliança de centro-direita do presidente com uns 160 e o partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN) e seus aliados com mais de 140, de acordo com resultados quase finais.

Os resultados representam um revés para a líder de extrema direita Marine Le Pen, que, embora ganhe deputados, falha em seu objetivo de alcançar uma maioria, inclusive absoluta, que as projeções consideravam possível há apenas alguns dias.

"Nosso povo rejeitou claramente o pior cenário possível", declarou o líder esquerdista Jean-Luc Mélenchon, para quem a NFP deverá "governar", mas sem "estabelecer negociações" com a aliança de Macron.

O ministro do Interior, Gérald Darmanin, respondeu que "ninguém pode dizer quem ganhou a eleição" e pediu ao governo para se abrir ao partido de direita Os Republicanos (LR), que obteria cerca de 60 assentos. Os acordos tácitos entre o governo e a esquerda, concentrando o voto no candidato com mais chances de derrotar o RN em cada circunscrição, frustraram a vitória ultradireitista.

O candidato do RN a primeiro-ministro, Jordan Bardella, denunciou uma “aliança da desonra”. "A maré está subindo. Desta vez não subiu o suficiente, mas continua subindo e, como consequência, a nossa vitória foi apenas adiada", assegurou, por sua vez, Le Pen. 

Um governo do RN teria sido o primeiro de extrema direita na França desde a libertação da Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial e um novo na União Europeia, juntamente com a Itália, entre outros.

Milhares de pessoas comemoraram os resultados nas ruas de Paris e outras cidades da França, neste primeiro fim de semana de férias escolares. Artistas, atletas, sindicatos e organizações haviam se mobilizado para impedir a chegada ao poder da extrema direita, como o astro do futebol Kylian Mbappé, que havia convocado para votar "do lado certo".

Diretamente da Itália, o papa Francisco alertou neste domingo (7) contra as “tentações ideológicas e populistas”, sem mencionar nenhum país.