Nessa quinta-feira (24) a Rússia atacou à Ucrânia e, no mesmo dia, nove aeronaves chinesas foram avistadas na zona de defesa aérea de Taiwan. Com o conflito no leste europeu cresce a preocupação de que a China decida invadir a pequena nação insular.
As autoridades de Taiwan acompanham atentamente o conflito entre Moscou e Kiev, já que, historicamente, Pequim não reconhece a independência do estado, formado por um conjunto de ilhas localizadas ao sul do território do país asiático, e prometeu que algum dia retomará este território, usando a força se necessário.
China pode invadir Taiwan?
Antes do avanço russo, o chefe da Força Aérea americana no Pacífico, general Kenneth Wilsbach, alertou, no dia 16 de fevereiro, que a China poderia se aproveitar da crise ucraniana para fazer algo "provocativo" na Ásia, enquanto as potências ocidentais se concentram em aliviar as tensões com a Rússia.
"Não me surpreenderia se [a China] tentassem algo que possa ser provocativo para ver como a comunidade internacional reage."
Há anos, Pequim é acusada de provocar tensões na região, ao tomar ilhas e atóis importantes no Mar da China Meridional. A China reivindica soberania sobre quase todo esse mar, incluindo partes reivindicadas por Taiwan, Brunei, Malásia, Filipinas e Vietnã.
Para a professora e especialista em Direito Internacional, Sarah Lima, um eventual sucesso da Rússia em anexar a Ucrânia pode encorajar a China a invadir Taiwan.
"Pode funcionar como incentivo, principalmente se as sanções aplicadas não efetuarem pressão considerável na Rússia, não se mostrando efetivas. Isso poderia simbolizar um fracasso dos EUA e uma demonstração de fraqueza de outros países da União Europeia. Poderia também encorajar uma aliança entre China e Rússia."
No entanto, a docente frisa que não tem como prevê se ou quando Pequim agirá contra Taiwan. "Seria precipitado nos antecipamos em falar de reais chances. Tudo vai depender de como as peças vão se mover nesse tabuleiro da geopolítica", explica.
Até o momento, autoridades chinesas têm sido cautelosas a respeito da crise na Ucrânia, mas vêm demonstrando um crescente apoio ao presidente russo Vladimir Putin. Ambos os países assinaram uma declaração sobre vários objetivos de política externa, incluindo um freio na expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Origem do conflito entre China e Taiwan
A relação conflituosa entre os dois países é uma herança da Guerra Civil Chinesa, quando nacionalistas e comunistas disputaram o poder da China. O fim do combate aconteceu em 1949 com a vitória dos esquerdistas.
Antes do fim do conflito, Taiwan integrava o território chinês, detalha a especialista em Direito Internacional. Mas com derrota dos nacionalistas, o antigo governo fugiu para Taiwan, fundando a República da China — nome oficial do país.
"Taiwan (República da China) se denomina Estado independente desde 1949, sendo reconhecida como tal por vários outros países. A China (República Popular da China), no entanto, reivindica Taiwan como parte inalienável de seu território."
Apesar das muitas diferenças geoestratégicas entre Ucrânia e Taiwan, a docente destaca algumas semelhanças, como a origem do conflito e a relação com países do Ocidente, como os Estados Unidos.
"A semelhança é que estamos falando de dois territórios que, embora independentes, tentam cortar as amarras com países cujos terrotórios foram compartilhados — URSS/Rússia e China. Outra semelhança reside na importância estratégica, em termos de geopolítica, dessas regiões para os EUA e seus aliados."
China considera Taiwan parte 'inalienável'
Na quarta-feira (23), a porta-voz do ministério das Relações Exteriores chinês, Hua Chunying, negou qualquer paralelo entre a crise no leste europeu e as reivindicações territoriais sobre Taiwan. Ela ainda afirmou que "Taiwan obviamente não é a Ucrânia".
"Taiwan sempre foi uma parte inalienável do território chinês. Este é um fato irrefutável do ponto de vista legal e histórico", disse a alta funcionária, que chamou as autoridades taiwanesas de "imprudentes" por "transformar a questão da Ucrânia em um tema candente", declarou Chunying em coletiva de imprensa.
Pressão militar chinesa
No episódio de quinta-feira, anunciado pelo Ministério da Defesa de Taiwan, a Força Aérea avistou oito caças chineses J-16 e um avião de reconhecimento Y-8 em uma área a nordeste das Ilhas Pratas.Apesar das aeronaves não se aproximem o suficiente, a nação reclama que as missões da força aérea chinesa tem sido regulares nos últimos dois anos.
A China aumentou a pressão militar, diplomática e econômica sobre Taiwan desde que Tsai Ing-wen chegou ao poder, em 2016, por sua rejeição à posição chinesa de que a ilha faz parte de seu território.
No último trimestre de 2021, registrou-se um aumento significativo nas incursões de caças chineses na zona de identificação de defesa aérea de Taiwan. No ano passado, 969 aviões de guerra chineses penetraram nesta área, mais do que o dobro dos 380 caças que entraram em 2020, segundo um banco de dados compilado pela agência de notícias AFP.
Telegram
Antes de ir, que tal se atualizar com as notícias mais importantes do dia? Acesse o Telegram do DN e acompanhe o que está acontecendo no Brasil e no mundo com apenas um clique: https://t.me/diario_do_nordeste