Catar e Estados Unidos anunciaram um acordo de trégua entre Israel e Hamas em Gaza, nessa quarta-feira (15) — que inclui a libertação de reféns nas mãos do movimento islamista palestino — após mais de 15 meses de uma guerra que deixou milhares de mortos. O primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman al Thani, afirmou em coletiva de imprensa que o acordo "para um cessar-fogo" em Gaza e um "intercâmbio de reféns e prisioneiros" entrará em vigor no domingo (19).
Após o anúncio, o gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, destacou que ainda restavam questões "a serem resolvidas", mas que esperava fechar os pontos pendentes "esta noite".
"Netanyahu apenas emitirá um comunicado oficial quando forem concluídos os detalhes finais do acordo, nos quais está trabalhando atualmente", afirmou o gabinete.
O líder catari disse esperar que a trégua se tornasse "permanente" e deu detalhes sobre a primeira fase do pacto, que durará 42 dias. "O Hamas libertará 33 prisioneiros israelenses, incluindo mulheres civis [...], crianças, pessoas idosas, civis doentes e feridos, em troca de vários prisioneiros palestinos detidos em prisões israelenses", explicou Mohammed bin Abdulrahman al Thani.
Ele ainda acrescentou: "Os detalhes sobre as fases dois e três serão definidos durante a implementação da primeira fase".
Bombardeios persistem
Em Tel Aviv, manifestantes que pediam a libertação de reféns se abraçaram assim que souberam da notícia. Na Faixa de Gaza, milhares de palestinos celebraram o pacto, que deve pôr fim aos bombardeios que devastaram quase todo o território.
Neste mesma quarta-feira, ataques aéreos israelenses mataram 18 pessoas na Cidade de Gaza e outras duas em Khan Yunis, no sul, afirmou a Defesa Civil do território palestino.
"Não posso acreditar que este pesadelo de mais de um ano esteja chegando ao fim. Perdemos tantas pessoas, perdemos tudo", disse Randa Sameeh, de 45 anos, no campo de refugiados de Nuseirat, no centro da Faixa.
Segundo balanço do Ministério de Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, divulgado na manhã desta quinta-feira, 81 mortes foram registradas no território nas últimas 24 horas em ataques israelenses, com 188 feridos. Com isso, o número oficial de mortos palestinos na guerra chega a 46.788.
O Hamas, que governa o território sitiado, afirmou que o acordo foi fruto da "tenacidade" do povo palestino e da "corajosa resistência" do movimento islamista.
"Não esqueceremos e não perdoaremos" o sofrimento da população durante a guerra, sublinhou o principal negociador do grupo palestino, Jalil al Hayya.
Quase todos os 2,4 milhões de habitantes foram deslocados pelo conflito e o cerco israelense provocou uma grave crise humanitária na Faixa.
Nos últimos dias, Egito, Estados Unidos e Catar, os três mediadores, intensificaram os esforços para pôr fim aos combates. O anúncio ocorre a menos de uma semana da posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos.
Envio de ajuda humanitária
O presidente egípcio, Abdel Fatah al Sissi, aplaudiu o acordo e destacou a "importância de acelerar a entrada de ajuda humanitária de emergência para a população de Gaza".
Pouco após o anúncio, começaram as negociações para reabrir o posto de Rafah, na fronteira de Gaza com o Egito, informou o meio egípcio Al-Qahera News, próximo aos serviços de inteligência, que citou uma fonte de segurança.
O posto fronteiriço, por onde passa parte da ajuda humanitária, está fechado desde maio, quando o Exército israelense se apoderou da área e fechou o lado palestino do posto.
"É imperativo que este cessar-fogo elimine os importantes obstáculos políticos e de segurança que dificultam a entrega de ajuda em Gaza", declarou o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Tanto a permanência do cessar-fogo quanto a retirada das tropas israelenses e a quantidade de ajuda humanitária para Gaza representaram obstáculos nas negociações.
A Arábia Saudita, uma potência regional, reivindicou a retirada "completa" das tropas israelenses e o Iraque pediu a entrega "imediata" de ajuda à população da Faixa.
O Brasil, bastante crítico de Israel durante o conflito, exortou as partes a "garantirem a cessação permanente das hostilidades".
Israel, que prometeu destruir o Hamas após o ataque de 7 de outubro, rejeita uma retirada total do território e se opõe a que seja administrado pelo Hamas ou pela Autoridade Palestina.
Os palestinos, por sua vez, afirmam que o futuro de Gaza lhes pertence e que não tolerarão qualquer ingerência estrangeira.
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, propôs na terça-feira enviar uma força internacional de segurança para Gaza e colocar o território sob responsabilidade da ONU.