A apendicite é a inflamação do apêndice, uma pequena estrutura de cerca de oito a dez centímetros, rica em glóbulos brancos, que fica na primeira porção do intestino grosso – chamada de ceco – e que não tem uma função muito bem definida no organismo, a não ser ajudar a produzir defesas naturais. Paradoxalmente, por servir de passagem para as fezes, esse órgão acaba ficando mais vulnerável à ação das bactérias contidas no material fecal.
Constitui uma causa comum de dor abdominal aguda no mundo ocidental, requerendo, invariavelmente, tratamento cirúrgico. Ocorre em qualquer idade, mas tem predileção pela população mais jovem.
De acordo com a médica cirurgiã abdominal Nubyhélia Carvalho*, o diagnóstico e o tratamento precoce dessa patologia são fundamentais para evitar o risco de complicações, além de contribuírem para menor tempo de internação hospitalar do paciente e recuperação pós-operatória mais rápida.
“Na prática clínica vemos que quadros avançados de apendicite aguda, apesar de atualmente serem menos comuns, podem levar a desfechos muito desfavoráveis, como necessidade de ressecção do cólon, risco de ostomia (procedimento cirúrgico realizado no aparelho digestivo ou urinário, que tem como objetivo criar um desvio dos conteúdos que passam por estes sistemas para o meio externo) e até mesmo óbito em casos mais avançados”, alerta.
O que é apendicite?
Trata-se da inflamação do apêndice cecal, que é uma pequena parte do intestino localizado no cólon direito. É mais comum ocorrer em populações jovens entre 10 a 19 anos, mas apresenta ainda uma alta taxa de prevalência até em torno dos 30 anos de idade. Apesar de menos comum, pode ocorrer depois dessa faixa etária e também em pacientes idosos, acrescenta a médica cirurgiã do aparelho digestivo.
Quais as causas?
Apesar de não haver consenso sobre uma causa definida, uma das teorias que existem é que a inflamação ocorre por obstrução do apêndice, que é um órgão em fundo cego. “Essa obstrução poderia ser causada por restos fecais, aumento de células inflamatórias (hiperplasia linfoide), tumores ou até corpo estranho, levando a um aumento de bactérias nesse local”, detalha Nubyhélia Carvalho.
No entanto, muitos estudos contestam essa teoria pois não encontraram obstrução do interior do apêndice após avaliação da biópsia, adiciona a médica cirurgiã.
A literatura sugere ainda que fatores ambientais (dieta, flora intestinal, infecções) e fatores genéticos podem contribuir para o desenvolvimento de apendicite aguda. “Quando não diagnosticada, a inflamação ocasionada pela apendicite aguda pode levar à necrose e até perfuração do apêndice”, exalta.
Quais os sintomas?
O quadro clínico clássico é de um paciente com dor próxima à cicatriz umbilical, acompanhada de perda de apetite, náusea e vômitos. Com a progressão do quadro, vista em torno de 75% dos casos, a dor migra para a região inferior direita do abdome (onde o apêndice cecal está localizado), com importante sensibilidade no local, principalmente ao toque.
Como tratar?
O tratamento definitivo é realizado através da cirurgia com a remoção do apêndice, associado ao uso de antibiótico.
Qual exame detecta apendicite?
Em muitos casos, a história clínica e o exame físico com dor importante no abdome inferior à direita são suficientes para o diagnóstico de apendicite aguda, diz a médica cirurgiã. “Em casos de dúvida no diagnóstico ou necessidade de confirmação, um exame de imagem pode ser realizado, sendo a tomografia de abdome total o de maior acurácia. Em mulheres grávidas a ressonância magnética é o exame de escolha”, frisa Nubyhélia Carvalho.
Como evitar?
Não há descrição de condutas a serem realizadas com intuito de evitar o risco de desenvolver apendicite aguda, tendo em vista que não há um consenso sobre sua causa, comenta a médica cirurgiã.
Como é feita a cirurgia de apendicite, quanto tempo dura e como é a recuperação?
A cirurgia é realizada por vídeo na grande maioria dos casos, principalmente quando o diagnóstico é inicial. “Nesses casos, demora em torno de 30 minutos a 1 hora, e o paciente tem maiores chances de apresentar um internamento hospitalar reduzido (em torno de 24h), além de recuperação mais rápida”, avalia a médica cirurgiã. “Nos casos em que a inflamação está muito avançada, com perfuração do apêndice e contaminação do abdome, pode ser necessário uso de drenos abdominais e há maior risco de necessidade de converter a técnica cirúrgica para a aberta”, adiciona.
Por fim, em pacientes que já foram submetidos a cirurgias abdominais prévias, o risco de conversão também é maior pela possibilidade de existirem aderências intra-abdominais.
“Além da técnica cirúrgica empregada e do grau de inflamação do apêndice, o tempo de internação e a recuperação desses pacientes varia de acordo com a idade e presença de comorbidades do paciente”, cita Nubyhélia Carvalho.
O que pode ser confundido com a apendicite?
Em crianças pode ser confundido com divertículo de Meckel, intuscepção intestinal ou até mesmo um quadro de gastroenterite. Em mulheres jovens, as causas ginecológicas são os principais diagnósticos diferenciais, como endometriose, gravidez ectópica, doença inflamatória pélvica, cisto ovariano roto, cisto ovariano torcido e salpingite. Já em pacientes mais velhos, doenças como diverticulite, tumores ou doença inflamatória intestinal podem ser confundidos com apendicite aguda.
*Nubyhélia Carvalho é médica cirurgiã do aparelho digestivo, formada pela Universidade de Fortaleza (Unifor). Especializada em Cirurgia Geral e Cirurgia do Aparelho Digestivo, ambas pelo Hospital Geral de Fortaleza (HGF), e é membro titular no Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva. Além de fazer parte do corpo cirúrgico do Hospital São Carlos e Hospital Monte Klinikum, atua como preceptora do Serviço de Cirurgia Digestiva do HGF e faz parte da equipe de Transplante Hepático Dra. Ivelise Brasil. Instagram: @dranubyhelia e www.dranubyhelia.com.br