As cardiomiopatias atingem o músculo cardíaco, causando alterações na anatomia e na função cardíaca. Contudo, não são ligadas estritamente a outras doenças do coração, como hipertensão arterial ou doença da artéria coronária.
Quem é afetado pode não sofrer de maneira grave com sintomas, apesar de o cansaço ser um dos mais aparentes. “Os diversos tipos de cardiomiopatias têm em comum a distorção da arquitetura das cavidades do coração, levando à alteração de sua geometria, o que é incompatível com seu funcionamento adequado”, descreve a médica cardiologista e clínica geral Germana Linhares*.
“Apesar das medicações costumeiramente utilizadas para tratar as cardiomiopatias terem proporcionado uma melhora inegável do curso da doença, seu tratamento requer dedicação do paciente, família e da equipe multiprofissional”, destaca a médica.
Ela acrescenta que é essencial que o paciente se dedique ao tratamento e entenda que a quantidade de comprimidos prescrita pelo médico é necessária para a sua recuperação ou pelo menos para melhorar a sua qualidade de vida. E alerta: “Em casos refratários ao tratamento medicamentoso, o transplante cardíaco pode estar indicado e felizmente está disponível em nosso meio”.
O que são cardiomiopatias?
São doenças que acometem o músculo cardíaco. O coração é um órgão formado principalmente por tecido muscular e seu funcionamento assemelha-se ao de uma bomba propulsora, afirma a cardiologista. O suprimento de sangue para a circulação depende da contração do músculo cardíaco, de forma que a integridade deste órgão é fundamental para o bom funcionamento do organismo.
Quais os tipos?
São vários os tipos de cardiomiopatias. Miocardiopatia hipertrófica e miocardiopatia dilatada são as duas mais comuns, explica a médica. Como o nome está dizendo, na miocardiopatia hipertrófica alguns segmentos do ventrículo aumentam sua espessura de forma que a cavidade cardíaca diminui. Assim, o músculo cardíaco torna-se rígido e o sangue tem dificuldade de fluir.
“Em muitos casos desta miocardiopatia, que é de natureza genética, não há qualquer sintoma e a evolução é favorável. Nos casos sintomáticos, pode haver dor no peito, dispneia (falta de ar) e síncope (desmaio). Há tratamento medicamentoso e os pacientes devem ser avaliados para a existência de arritmia”, detalha Germana Linhares.
Já a miocardiopatia dilatada é conhecida popularmente como “coração crescido”. Como o nome sugere, neste caso a cavidade do coração surge aumentada e a sua forma torna-se esférica, tornando a sua contração muito pouco eficiente. A miocardiopatia dilatada pode ser o evento final de uma série de doenças que atingem o coração, adianta a médica.
Alguns tipos menos comuns incluem a miocardiopatia restritiva, caracterizada pela inabilidade do músculo cardíaco em encher-se de volume adequado de sangue para então distribuir para a circulação.
Quais são os sintomas?
Os sintomas são bem variáveis. Pode haver:
- Fadiga
- Tosse noturna
- Edema (inchaço)
- Aumento do volume do abdome
Estes sinais e sintomas são consequentes ao bombeamento insuficiente de sangue e recebem o nome de insuficiência cardíaca.
“Alguns pacientes têm um quadro clínico bem dramático, com falta de ar e inchaço generalizado. Em outras situações o quadro é mais insidioso, com sintomas pouco específicos e de progressão lenta, o que faz com que o diagnóstico seja tardio, com evidente prejuízo para a pessoa”, frisa a cardiologista.
Quais são as principais causas?
As causas das cardiomiopatias são inúmeras. Curiosamente, em um percentual bem expressivo das cardiomiopatias não há causa identificada, apesar dos esforços para o diagnóstico, explica a cardiologista. É importante, acrescenta, que seja excluída a doença cardíaca isquêmica, muito comum, que acomete o coração por diminuir o suprimento de sangue necessário para “nutrir” o músculo cardíaco.
“No Brasil, a doença de Chagas ainda é uma causa frequente de cardiomiopatia e que, nesse caso, costuma ter evolução mais grave que as demais. Uso de álcool de forma abusiva pode gerar cardiomiopatia, assim como negligenciar uma doença bem comum como hipertensão arterial sistêmica”, diz Germana Linhares.
Doenças das válvulas cardíacas também podem culminar com a dilatação do coração, pois impõem sobrecarga a ele. Em nosso meio, a febre reumática lamentavelmente é uma causa comum, frisa a médica.
Como tratar?
Durante muitas décadas as únicas alternativas disponíveis eram a digoxina e o diurético, que beneficiavam o paciente por diminuir seus sintomas, sem, contudo, melhorar o curso da doença, relembra a médica.
Após longo período de estagnação, nos anos 1990 foram incorporados três grupos de medicamentos, que demonstraram diminuição da taxa de hospitalizações e aumento da sobrevida. São exemplos de cada grupo, detalha Germana Linhares, o captopril, o carvedilol e a espironolactona.
Mais recentemente, o sacubitril valsartana veio substituir o captopril em casos selecionados e uma nova classe medicamentosa denominada gliflozinas (dapagliflozina, empagliflozina) também está fazendo parte da terapia medicamentosa das cardiomiopatias.
“Cada um destes grupos atua de forma aditiva na melhora do prognóstico dos pacientes, aumentando a sobrevida da pessoa e diminuindo as taxas de hospitalização. São, portanto, considerados os pilares do tratamento”, avalia a cardiologista.
Quem tem cardiomiopatia pode trabalhar?
Em algumas situações, sim. “Nem sempre a doença compromete muito a capacidade física. Cada caso deve ser avaliado detalhadamente pelo cardiologista e perito quanto à segurança”, ressalta a médica.
*Germana Linhares é clínica geral e cardiologista formada pela Universidade Federal do Ceará, com residência em Cardiologia no Instituto do Coração – InCor. É especialista e vinculada à Sociedade Brasileira de Cardiologia. Tem Doutorado em Ciências pela Universidade de São Paulo. É médica assistente da Unidade de Insuficiência Cardíaca e Transplante do Hospital de Messejana e da equipe de transplante renal do Hospital Geral de Fortaleza. Atua em seus consultórios em Fortaleza, no bairro Meireles.