Dias após o anúncio da troca de comando da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS-CE), o governador Elmano de Freitas (PT) concedeu uma entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste. Entre os assuntos, os motivos que o levaram a trazer um novo secretário para uma das pastas mais delicadas da gestão e como pretende baixar os números de crimes violentos no Estado. Elmano pontua que percebeu "na população uma profunda sensação de insegurança" que, segundo ele, pode ser "combatida" com o reforço no policiamento ostensivo.
Para o governador, é preciso que a população sinta "com mais intensidade a presença do Estado" e a escolha do novo secretário, Roberto Sá, que toma posse nesta segunda-feira (3), está atrelada a esta vontade.
"Vamos já colocar na rua mais policiais militares, mais policiais civis. Fizemos compra de equipamentos. Eu continuo acreditando- e eu defendi - que nós temos que fortalecer muito no Ceará, Polícia Civil, Inteligência que nós vamos estruturar, mantendo a Polícia Militar forte, mas isso tem que corresponder à mais presença do Estado, dos territórios", disse Elmano, em entrevista exclusiva, que será publicada na íntegra no Diário do Nordeste, nesta terça-feira (4).
"O cidadão perceber que quando ele sai à rua, quando ele vai para o trabalho, o Estado está presente para proteger. E isso é uma coisa que me motivou a fazer a mudança: perceber que essa presença não estava sendo... nós não estávamos conseguindo construir. O perfil do novo secretário de segurança, de ter sido o homem do Bope, de ter sido a Polícia Militar, depois se formado em Direito, ter ido para a Polícia Federal, ser um delegado reconhecido, porque tem essa característica de ser capaz de planejar, de pensar a estratégia, e ao mesmo tempo ter muito conhecimento de campo, de disputa de território, como policial, como tenente coronel da PM, do Bope"
PRESSÃO POLÍTICA
O aumento das mortes violentas no Estado é um número que chama a atenção. De janeiro a abril deste ano de 2024, foram registrados 1.139 Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs), enquanto que em igual período do ano passado foram 947 casos.
Para especialistas, a escalada da violência junto a declaração polêmica do ex-titular da SSPDS, Samuel Elanio, nos últimos dias corroboraram para a decisão do governo.
Elmano, no entanto, foi taxativo ao declarar que não houve pressão politica acerca da troca do comando e acredita que o secretário escolhido tem ao perfil necessário para garantir uma política de segurança que "deixe o cidadão mais tranquilo". "Eu volto a dizer: os índices melhoram e a pessoa continua aumentando o medo. Então tem algo. E na minha compreensão, o elemento central é a presença", defende o governador.
Sobre o aumento dos homicídios, o governador afirma que "grande parte das mortes que nós temos no estado do Ceará são jovens que foram capturados por uma organização criminosa, que vão matar outros jovens, também capturados, que são colocados em uma guerra"
"A minha compreensão é de que a gente só vence isso com muita Inteligência e Polícia Civil para investigar a cabeça da hierarquia dessas organizações. Uma parte no Ceará e outra parte dela não está no Ceará. A minha busca pelo diretor-geral da PF ( que indicou Roberto Sá para a função) tem a ver com a compreensão que tenho, porque eu queria que o diretor-geral pudesse conversar conosco, porque eu só creio que nós somos capazes de vencê-los, de diminuir a força deles, a gente tendo muita integração com o Governo Federal", pondera Elmano.
Roberto Sá chega com carta branca do governo para montar sua equipe e fazer as trocas que avaliar necessárias, inclusive nos comandos das polícias civil e militar. O governador disse que as mudanças que o novo secretário achar necessárias serão decididas em conjunto com ele. Além disso, serão anunciados investimentos em controle de fronteiras.
"Tenho muita confiança no secretário que nós escolhemos para ter uma alteração significativa, não da noite pro dia, todo mundo sabe que não é assim, todo mundo sabe que nós não não produzimos nem droga… Nós temos dificuldade nas nossas fronteiras. Nós compramos equipamentos para controlar as fronteiras do Ceará. Nós também vamos apresentar essas essas ações"
MILÍCIA NO CEARÁ
Questionado sobre atuação criminosa de policiais no Ceará, até mesmo envolvimento com milícias, Elmano de Freitas disse que atualmente são 21 mil homens na corporação do Estado e que os envolvimentos com crimes são minoria.
"Não tem mil policiais com problemas no procedimento, não tem 500. Eu penso que a ampla maioria dos policiais atua de maneira a cumprir o seu dever. Desvio em uma instituição com 21 mil homens faz parte de qualquer instituição", defendeu.
O governador ainda destacou o papel da Controladoria Geral de Disciplina (CGD) atuando para investigar, afastar e, se com provas, expulsar ou demitir policiais envolvidos em crimes.