A Justiça decidiu soltar três policiais militares denunciados por uma série de extorsões contra uma jovem de 19 anos grávida. Em decisão proferida neste mês de outubro, na Vara da Auditoria Militar, foram revogadas as prisões preventivas dos réus: cabo Antônio Wellington Ribeiro de Andrade e os soldados Wiver Rodrigues da Silva e Lucas Valentim Pinto Andrade.
O Diário do Nordeste teve acesso aos autos, nos quais constam que os alvarás de soltura dos acusados já foram cumpridos. Ao justificar a soltura, o magistrado destacou que a vítima não foi ouvida e nem localizada, "não sendo razoável manter a prisão para assegurar sua livre manifestação quando sequer existe data provável para oitiva".
O trio de agentes não está autorizado a retornar às atividades ostensivas junto à PMCE, não devem ficar lotados em Batalhões situados nos municípios de Maracanaú e Pacatuba, onde os crimes teriam acontecido, e devem ser lotados separadamente em batalhões distintos.
Está designada audiência para o dia 12 de março de 2025, às 11h, na qual devem ser ouvidas testemunhas de acusação
O advogado Oswaldo Cardoso, que representa os réus Lucas e Wiver "parabeniza a decisão do Judiciário por ser uma medida justa e que segue para a cristalina inocência dos exemplares militares Estaduais".
"Infelizmente, tem se tornado corriqueiras as denúncias infundadas contra agentes da Segurança Pública Cearense que desempenham com louvor o seu papel na sociedade e mais uma vez, vem caindo essas tramas. Lembro que a denunciante tem vasta ficha criminal com depoimentos controversos e que foi presa recentemente em uma situação de repercussão em todo o país, além do suposto envolvimento com facções criminosas, além de estar em prisão domiciliar. A luta em proteger juridicamente aqueles que nos protege continua e a segurança pública não vai recuar contra essas afrontas"
A DENÚNCIA
A Justiça do Ceará recebeu no dia 17 de maio deste ano uma denúncia contra o trio acusado de invadir uma casa, agredir e extorquir uma jovem de 19 anos (identidade preservada) na Grande Fortaleza.
Consta na denúncia que os acusados, no dia 25 de dezembro de 2023, feriado de Natal, encurralaram a vítima e ameaçaram prendê-la por tráfico de drogas caso ela não pagasse R$ 3 mil a eles. Essa não teria sido a primeira vez que ela foi vítima de agentes de segurança e chegou, inclusive, a ser agredida enquanto estava grávida.
A jovem fez um B.O no dia 29 de dezembro e em 23 de janeiro deste ano, foram indiciados por extorsão.
Os PMs estavam presos desde janeiro de 2024
SEQUÊNCIA DE CRIMES
Conforme a denúncia, a primeira extorsão ocorreu em outubro de 2023, dias após ela ser presa por tráfico de drogas e ser solta em audiência de custódia. Consta no B.O que ela estava em uma casa com outra mulher que seria uma traficante, quando três PMs invadiram o local para uma busca de arma de fogo, alegando que haviam recebido uma denúncia. Os agentes estavam de balaclava para cobrir o rosto, e um deles chegou a jogar spray de pimenta três vezes no rosto da jovem.
Ela estava grávida no momento e pediu para não ser agredida, mas foi colocada de joelhos e ameaçada de apanhar com pauladas. Primeiro, os agentes teriam exigido R$ 5 mil em troca de não prendê-la. A denunciante disse que ficou nervosa e aceitou arranjar a quantia no mesmo dia, e então eles foram embora.
No entanto, ela não tinha esse dinheiro, e acabou fugindo da casa. No dia seguinte, ela ficou sabendo que os PMs a "juraram de morte".
Após cerca de dois meses, outro crime. Os PMs e a vítima se encontraram novamente e ela, supostamente, foi novamente extorquida pelos servidores. Antônio Wellington, Wiver e Lucas foram presos após a Justiça aceitar a representação da Polícia Civil por prisão preventiva, busca e apreensão e quebra de sigilo telefônico.
Com o soldado Wiver, foi apreendido um celular que se conectava a um número que ameaçava a vítima, e também materiais ilícitos como crack, maconha, cocaína, munições não autorizadas e uma quantia de R$ 2.070. Com Wellington, também foram encontrados materiais de origem ilícita, como munições, aparelhos, balanças de precisão e embalagens para separação de drogas, além de um saco com cocaína e 88 pedras de crack.
Os soldados e o cabo teriam ainda cometido violação de domicílio e prevaricação. Eles haviam sido denunciados também por tortura, mas o magistrado Roberto Soares Bulcão decidiu não aceitar a denúncia neste termo especificamente.
Na Controladoria Geral de Disciplina (CGD) segue tramitando o processo disciplinar contra o trio, para apurar a conduta dos funcionários públicos na seara administrativa.
PRISÃO DA MULHER
A reportagem apurou que no início deste mês de outubro, enquanto os policiais ainda estavam presos, a mulher vítima das extorsões chegou a ser presa sob suspeita de tráfico de drogas. No último dia 11, ela passou por audiência de custódia, quando a Justiça decidiu indeferir o pedido de revogação da prisão preventiva, mas converteu a prisão cautelar em custódia domiciliar, ficando a mulher monitorada por tornozeleira eletrônica e proibida de se ausentar da sua residência.