PM suspeito de integrar esquema de ‘Bebeto do Choró’ sacou R$ 600 mil às vésperas da eleição em 2024, diz PF

De acordo com o relatório da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO), o valor pertencia ao Maurício Gomes Coelho, um 'testa de ferro' de Carlos Alberto Queiroz, o ‘Bebeto do Choró'

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A investigação da Polícia Federal contra Carlos Alberto Queiroz, o ‘Bebeto do Choró’, eleito para gerir a Prefeitura da Cidade de Choró a partir de 2025 e atualmente foragido da Justiça, traz a suposta participação de laranjas responsáveis por movimentações financeiras de alto valor. Dentro do contexto destas movimentações quase que diárias às vésperas das Eleições 2024, supostamente para a compra de votos, a Polícia aponta nomes, como o de um ex-vigilante, atualmente empresário e tido como laranja do político, e de um policial militar, responsável pela segurança da empresa constituída em nome do vigilante.

Um policial militar chegou a ser levado para depor na PF, quando os investigadores apreenderam R$ 600 mil em espécie, no dia 25 de setembro de 2024. De acordo com o relatório da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO), o valor pertencia ao empresário Maurício Gomes Coelho (atualmente preso), o ex-vigilante com rendimento mensal de R$ 2,5 mil, que se tornou empresário proprietário da MK Serviços em Construção e Transporte Escolar, com capital social de R$ 8,5 milhões.

A reportagem do Diário do Nordeste teve acesso ao depoimento do PM, que também tem a conduta apurada na seara administrativa. Conforme a Controladoria Geral de Disciplina (CGD), existe um processo disciplinar instaurado para apurar os fatos citados em inquérito da PF.

Quando detido, o agente, de nome preservado pela reportagem por ainda ser apenas investigado, disse aos policiais federais que é lotado no Batalhão de Policiamento do Raio (BPRaio) em Maracanaú, Região Metropolitana de Fortaleza, e que já vinha acompanhando a irmã de Maurício há oito meses. O policial realizou saques de emergência a pedido do Maurício, tendo a irmã do empresário repassado cheques que somavam quase R$ 600 mil.

De acordo com o PM, durante dias seguidos, em setembro do ano passado, a dinâmica matinal dele passou a ser: ir de carro blindado até uma agência bancária na Avenida Desembargador Moreira com Avenida Santos Dumont, em posse dos cheques, sacar os valores. Em seguida, voltava ao escritório da MK, no bairro Cocó, onde deixava o montante. 

O PM negou ter levado os valores para comitês ou  sedes de campanha de candidatos. Quando foi abordado, estava em posse de duas armas, uma de propriedade pessoal e a outra da corporação da PMCE. O agente levou os investigadores até a Hilux, “onde mostrou onde estava o dinheiro que havia sacado na agência do BB da Aldeota”.

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QUEM É MAURÍCIO GOMES

Maria do Rosário Araújo Pedrosa Ximenes, ex-prefeita de Canindé, afirmou em Termo de Declarações prestado ao promotor Jairo Pequeno Neto, da Promotoria de Justiça da Comarca de Canindé, em 26 de setembro de 2024, “que a empresa MK TRANSPORTES pertenceria, na verdade, a Carlos Alberto, ‘Bebeto’, e que Maurício seria o laranja dele. 

De acordo com a Ficco, a empresa MK realizou contratos com prefeituras municipais somando o montante de R$ 318 milhões. 

Maurício atuou como vigilante contratado de uma empresa de segurança privada de 2014 a 2020: “não foram localizadas, durante as pesquisas realizadas em bancos de dados, elementos que justifiquem Maurício Gomes Coelho, vigilante com remuneração média nominal de R$ 2.418,77, a constituição de empresa com capital social de R$ 8.500.000,00 (oito milhões e quinhentos mil reais), sendo possível inferir, com forte grau de segurança, que Maurício Gomes atua como interposto de terceiros”, diz trecho do relatório da Polícia.

Policiais federais estiveram em endereços vinculados a Maurício e cumpriram mandados de busca e apreensão. Primeiro, os agentes foram ao escritório localizado no bairro Cocó. No local, “não foram arrecadados objetos no local, mas tão apenas registrada a presença de máquina contadora de cédulas e sacolas no local, o que confirma que no recinto há a circulação de dinheiro em espécie”.

Já no condomínio residencial, no bairro Damas, também em Fortaleza, foi apreendido um celular do investigado, com indicação da senha de acesso. Ambos mandados foram cumpridos em outubro de 2024.

Consta ainda no relatório da Força Integrada que toda a análise de informações é “apenas uma amostra e não exaure todo o conteúdo de dados que foram extraídos do celular do investigado Maurício Coelho Gomes”.

PRISÃO

Para a Polícia Federal, “isso significa que, a partir de novas análises, poderão ser identificadas outras informações de interesse do objeto da investigação e outras condutas que possam evidenciar indícios de crime. Após a análise, é possível concluir que Maurício Gomes Coelho em princípio, possui outro aparelho celular para realização de seus negócios, sendo o aparelho ora analisado apenas de cunho pessoal”.

Maurício chegou a ser detido em um condomínio de alto padrão no bairro Benfica, em Fortaleza, no dia 8 de novembro de 2024. Na ocasião, com o empresário, foram apreendidos uma pistola 9 milímetros, 12 munições, três rádios comunicadores, dois celulares e um colete balístico. O suspeito também foi autuado em flagrante pelo crime de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito.

No dia 18 de novembro de 2024, o Ministério Público do Ceará denunciou Maurício Coelho pelo crime de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito. Na denúncia, o MPCE pontua que o acusado apresentou "o Certificado de Registro de Arma de Fogo, bem como a Guia de Tráfego Especial", entretanto "tais documentos, além de se encontrarem há cerca de 07 (sete) meses fora da validade, a autorização para transportar o referido artefato bélico era do local de origem, o qual foi registrado como sendo no município de Canindé/CE, para o estande de tiro, o que demonstra, por conseguinte, que o acusado estava portando arma de fogo sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar".