O júri da Chacina do Curió chega ao quinto dia consecutivo. Há expectativa que a sessão se encerre ainda neste sábado (24), logo após o colegiado de juízes da 1ª Vara do Júri de Fortaleza divulgar sentença de condenação ou absolvição para os quatro policiais militares, réus no caso.
A sessão foi suspensa às 20h17 dessa sexta-feira (23), após a leitura dos quesitos que antecedem a votação dos jurados. Durante duas horas os magistrados leram cada um dos pontos dos quesitos. Passada a leitura, as defesas dos réus Ideraldo Amâncio, Wellington Veras Chagas, Marcus Vinícius Sousa da Costa e Antônio José de Abreu Vidal Filho impugnaram parte dos quesitos.
A impugnação em comum dos advogados de todos os réus se deu sob alegação que a "quesitação apresentada é genérica e que pode violar plenitude de defesa, bem como pode violar a devida fundamentação das decisões judiciais".
O advogado Roberto Duarte, que representa o PM Ideraldo Amâncio, pediu ainda que no documento fosse trocado o verbo 'concorrer' por 'participar', se referindo à acusação do Ministério Público do Ceará (MPCE) que Amâncio tenha envolvimento nas 11 mortes ocorridas na Grande Messejana, em novembro de 2015.
O MP não concordou com as impugnações e por meio do promotor de Justiça, Luís Bezerra Neto, disse que os quesitos estavam bem redigidos.
Às 20h17, Marcos Aurélio Marques Nogueira, presidente do colegiado e titular da 1ª Vara Júri, suspendeu a sessão, ainda sem a decisão de negar ou acolher os pedidos feitos pelas defesas.
DEBATES
A manhã e a tarde dessa sexta-feira (23) foram marcadas pelos debates entre acusação e defesa. Ainda pela manhã, houve muita comoção para familiares das vítimas assassinadas, quando o MP mostrou vídeos do socorro às pessoas baleadas na Chacina do Curió. Familiares que estavam na plateia se emocionaram e deixaram o salão do júri.
As imagens de câmeras de rua mostram vários jovens estirados no chão ou sendo socorridos em carros, muitos deles baleados - e já mortos.
Veja as alegações da participação de cada réu, segundo os promotores:
- PM Wellington Chagas: estava com o veículo com placas adulteradas, segundo câmeras do Detran; e apresentou depoimentos controversos (em um deles, o PM disse que não desceu do carro e em outro, afirma que desceu);
- PM Marcus Vinícius - teve seu carro identificado por perícia, seguindo o comboio de carros que estariam sendo utilizados na Chacina, e mudou de versão durante a investigação (disse antes que o carro não era dele e, em juízo, que o veículo era dele, mas que não participou dos crimes)
- PM Antonio Abreu Filho - também estaria com veículo adulterado; dados da ERB (Estação Rádio Base) mostraram que o celular dele estava na região da Grande Messejana. Ele negou, em depoimento inicial, que não estava no local; em juízo, confirmou que estava, mas prestando solidariedade à família do soldado Serpa;
- PM Ideraldo Amâncio - único réu que alegou estar em casa, mas foi depor com um veículo igual a outro filmado na região dos crimes, com placa adulterada. O MPCE também contesta o vizinho do PM, que disse em depoimento em 2017 que não viu Ideraldo em casa naquela noite, mas no julgamento alegou que viu - ocasião pela qual o Órgão pediu que o mesmo respondesse por falso testemunho perante a Justiça, o que foi negado.
Em seguida, o MP defendeu a prisão dos acusados, ou seja, que eles não recorram em liberdade caso haja sentença a favor da condenação.
O QUE DIZ A DEFESA?
A defesa de cada réu teve cerca de 40 minutos para se manifestar. Eles alegaram não haver provas suficientes quanto à autoria das mortes ou mesmo negaram a autoria.
“Não há provas de quem fez o quê. Não tem imagem nem reconhecimento de ninguém que tenha feito alguma coisa, nem foram feitas as perícias que deveriam ter sido feitas”, disse ao Sistema Verdes Mares o advogado Walmir Medeiros, membro da defesa do PM Marcus Vinícius.
Talvane Moura, advogado do PM Ideraldo Amâncio, também crê na absolvição do cliente. “Ele estava em casa no dia do ocorrido e nada fez. Quem praticou esse delito merece reprovação adequada e justa, mas não é o caso dele”, garante.
Julgamento: veja resumo dia a dia
1º dia (20/06)
No primeiro dia de sessão do Júri, foram ouvidas três vítimas e duas testemunhas de acusação em sessão que durou 12 horas. Depoimentos violentos lembraram agressões e alvejamentos até de quem tentava socorrer vítimas feridas, na noite da chacina.
2º dia (21/06)
Na quarta-feira, foram ouvidas sete testemunhas arroladas pela defesa dos acusados, que buscaram ressaltar boa trajetória dos PMs na profissão e na vida pessoal. Ao fim do dia, chegou-se a 22 horas de julgamento.
3º dia (22/06)
Os réus Antônio José de Abreu Vidal Filho, Marcus Vinícius Sousa da Costa, Wellington Veras Chagas e Ideraldo Amâncio prestaram depoimento. Eles chegaram a se emocionar durante os interrogatórios e negaram participação nos crimes.
Todos, por orientação da defesa e por direito deles, não responderam às perguntas do Ministério Público, para o qual há provas nos autos que "os colocam no local dos fatos". Eles responderam apenas ao colegiado de juízes e aos próprios advogados. O julgamento acumula 32 horas de duração.
4º DIA (23/06)
Acusação (MPCE e Defensoria Pública do Ceará) e os advogados de defesa protagonizaram os debates. A acusação dispensou a réplica e a sessão terminou com a leitura dos quesitos, momento que antecede a votação dos sete jurados.