O dono de um lava jato no bairro Dionísio Torres, em Fortaleza, afirmou à Delegacia de Assuntos Internos (DAI), da Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD), que foi feito refém, agredido e ameaçado de morte por dois policiais militares e um ex-gerente bancário. O trio - que nega o cometimento dos crimes - foi preso em flagrante pela Polícia Militar do Ceará (PMCE), na última quarta-feira (16).
Conforme documentos obtidos pelo Diário do Nordeste, a vítima passou por exame de lesão corporal na Perícia Forense do Ceará (Pefoce), que confirmou que ela sofreu ofensa à integridade corporal ou à saúde, causada por objeto "contundente".
De acordo com o relato feito pelo homem à DAI, ele havia comprado dois veículos, em um valor total de R$ 311 mil, na loja de revenda de veículos do ex-gerente bancário Clécio Soares Neto, sem contrato (apenas na negociação verbal). Ele afirmou que pagou as prestações normalmente e repassou um veículo para outra loja, localizada na Avenida José Bastos, em Fortaleza.
Na tarde da última quarta-feira (16), Clécio teria chegado no lava-jato acompanhado de dois homens e dito à vítima "bora (vamos) ali resolver a situação do carro", ao passo que os outros homens levantaram as blusas e mostraram estar na posse de armas de fogo. O homem teve o celular subtraído pelo grupo e foi colocado em um carro, para ser levado até a loja da Avenida José Bastos.
No caminho, outro celular da vítima tocou, o que motivou um dos homens armados a pegar o aparelho e dar um tapa na cara dele. O homem detalhou que os suspeitos disseram que já sabiam de toda a sua vida, acessaram um sistema policial para obter os seus dados e o ameaçaram de morte.
O proprietário da loja da Avenida José Bastos não estava no local e, depois de esperarem um tempo, os três homens e o refém voltaram para o veículo, com direção ao lava-jato. Segundo a vítima, ocorreram mais agressões, os suspeitos obrigaram que ela fornecesse a senha do celular, tentaram acessar aplicativos bancários e, por fim, disseram que iam reiniciar os seus aparelhos celulares para vendê-los, a não ser que ela pagasse R$ 7 mil.
De volta ao lava-jato, os suspeitos teriam obrigado o homem a entregar dois veículos (uma Toyota Hilux e um Audi A4), com as transferências, e saíram do local. A Polícia foi acionada e começou a busca pelo trio.
Os dois veículos foram abordados por uma equipe do Comando de Policiamento de Rondas e Ações Intensivas Ostensivas (CPRaio), nas proximidades da Avenida Bezerra de Menezes, na Capital. Os automóveis estavam na posse de Clécio e de dois policiais militares, os soldados Francisco Rodrigues de Lima Neto e Ítalo Eugênio Parente Silveira, que negaram o cometimento de qualquer crime.
O oficial que fiscalizava o policiamento da PMCE na Capital foi chamado pela equipe policial ao local e deu voz de prisão aos suspeitos. Além dos veículos, foram apreendidas duas pistolas calibre 380, aparelhos celulares, notebook e outros objetos. Clécio Soares, Francisco Rodrigues e Ítalo Eugênio foram levados à DAI e autuados pelos crimes de extorsão mediante sequestro e porte ilegal de arma de fogo de uso permitido.
[ATUALIZAÇÃO ÀS 15H30]
Os suspeitos passaram por audiência de custódia na tarde desta quinta-feira (17) e tiveram prisão em flagrante convertida em preventiva. Para o juiz, as circunstâncias do fato demonstraram que a aplicação de qualquer medida cautelar diversa da prisão seria "providência inócua, pois nenhuma delas é capaz de preservar a ordem pública que se encontra vulnerada diante de uma conduta reveladora de um comportamento que demonstra, nesta ocasião, ser a liberdade dos autuados socialmente prejudicial"
Suspeitos negam cometimento de crimes
Os suspeitos negaram à DAI que cometeram qualquer crime e trataram a denúncia como falsa. Clécio Soares alegou que o dono do lava-jato não quitou o pagamento de um veículo, como combinado, e também não realizou a transferência do automóvel para o nome dele, continuando no nome da irmã de Clécio, que passou a receber multas de trânsito e cobranças de impostos.
O ex-gerente bancário justificou ainda que levou o outro homem à loja da Avenida José Bastos para receber outros veículos, como compensação às dívidas.
Já os policiais militares afirmaram aos investigadores que estavam apenas conduzindo os veículos para Clécio, que é amigo de Francisco.