Empresário cearense assassinado em Recife deixou 'espólio criminoso' para quadrilha, diz PF

A organização criminosa foi alvo da Operação Rebote, deflagrada pela Polícia Federal no Ceará e em outros três estados. O principal 'herdeiro' dos negócios criminosos foi preso

A quadrilha alvo da Operação Rebote, deflagrada pela Polícia Federal (PF) nesta terça-feira (12), herdou um "espólio criminoso" de um empresário cearense, suspeito de tráfico de drogas e de chefiar uma organização criminosa, que terminou assassinado em Recife (Pernambuco), em abril de 2023, segundo o chefe da Delegacia de Polícia Federal de Juazeiro do Norte, delegado Daniel Ramos.

A Polícia Federal não divulga o nome de investigados. Contudo, a reportagem apurou que o alvo inicial da PF era João Batista de Oliveira Ramos, conhecido como 'Beto da Mídia', ao abrir um inquérito policial para investigar uma lavagem de dinheiro decorrente do tráfico de drogas, em 2019. Quatro anos depois, durante a investigação, o suspeito foi executado a tiros. Ele se apresentava como empresário dos ramos de combustíveis e de construção.

"Espólio", segundo o dicionário Michaelis, é o "conjunto de bens que integra o patrimônio deixado por uma pessoa após sua morte, a ser dividido no inventário pelos herdeiros ou legatários".

Milhões de reais, empresas de fachada e uma do ramo de construção (em funcionamento), cinco postos de combustíveis, imóveis e veículos luxuosos. Esse seria o "espólio criminoso" deixado por 'Beto da Mídia' para a organização criminosa, conforme a investigação. Entre 2019 e 2023, a quadrilha movimentou pelo menos R$ 77 milhões, em contas bancárias.

O principal "herdeiro" dos negócios criminosos de 'Beto da Mídia', o seu antigo "braço direito" na quadrilha, foi preso por força de um mandado judicial, cumprido pelos policiais federais no Município de Conde, no litoral da Paraíba. O suspeito levava uma vida de luxo e estava em uma cidade de praias famosas naquele Estado.

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mandados de busca e apreensão foram cumpridos contra suspeitos de integrar a quadrilha, em quatro estados (Ceará, Paraíba, Pernambuco e São Paulo). Nos imóveis, foram apreendidos cerca de R$ 100 mil, 10 veículos (que têm valores individuais entre R$ 50 mil e R$ 200 mil) e aparelhos celulares.

A Polícia Federal ainda cumpriu ordens judiciais para sequestrar cinco postos de combustíveis - sendo que quatro ficam em Pernambuco e o outro, na Paraíba. O delegado federal Daniel Ramos afirmou que a organização criminosa realizava lavagem de dinheiro, principalmente, com a oferta de serviços e com a compra de veículos.

Quem era 'Beto da Mídia'?

Segundo o chefe da Delegacia de Polícia Federal de Juazeiro do Norte, Daniel Ramos, o homem assassinado em 2023, em Recife, havia sido preso pela PF por tráfico de drogas, em 2008. "Logo depois, ele foi condenado por tráfico de drogas. Por ter sido um alvo, a PF continuou a monitorar. E, em 2019, ele teve uma grande movimentação financeira, e a Polícia Federal instaurou um inquérito para apurar uma suposta lavagem de dinheiro", contextualizou o delegado.

Entretanto, a investigação tomou outro rumo com o assassinato de João Batista de Oliveira Ramos, aos 35 anos, na saída de uma academia, em Boa Viagem, Recife, no dia 24 de abril do ano passado.

João Batista era natural de Juazeiro do Norte, na Região do Cariri, no Ceará, e se apresentava como empresário dos ramos de combustíveis e de construção - com empresas abertas nos estados da Paraíba e de Pernambuco.

Além do processo na Justiça Federal por tráfico de drogas, 'Beto da Mídia' respondia a porte ilegal de arma de fogo, na Justiça Estadual. Conforme documentos obtidos pelo Diário do Nordeste, a Delegacia Regional de Juazeiro do Norte determinou que uma equipe de inspetores investigasse se o suspeito integrava a facção criminosa paulista Primeiro Comando da Capital (PCC), em uma Ordem de Missão Policial datada de 13 de abril de 2016.

Uma semana antes, 'Beto da Mídia' foi preso em flagrante na posse de uma pistola calibre 380, municiada com 16 cartuchos intactos, em uma chácara no bairro Betolândia, em Juazeiro do Norte, após a Polícia Militar do Ceará (PMCE) ser acionada para uma suspeita de posse de drogas e de armas de fogo, em uma festa.

Os policiais militares que atenderam a ocorrência afirmaram à Polícia Civil que João Batista confessou a posse da arma de fogo. Porém, ao ser interrogado, o suspeito negou ser o proprietário da chácara e da arma.

O Ministério Público do Ceará (MPCE) denunciou 'Beto da Mídia' apenas pelo crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito. A denúncia foi aceita pela Justiça Estadual e o acusado virou réu, em maio de 2016.

Apesar de não ter denunciado o empresário pelo crime de integrar organização criminosa, o MPCE ponderou que "há registro nos autos de que o acusado pode ser membro da famigerada associação criminosa denominada Primeiro Comando da Capital - PCC".

Antes desse caso, João Batista havia sido autuado na Polícia Civil do Ceará outras duas vezes, uma também por porte ilegal de arma de fogo, em um inquérito policial, em fevereiro de 2006; e por uso de entorpecentes, em um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO), em julho de 2011.