Em ato, mães de vítimas da Chacina do Curió dizem que não se abalaram e esperam justiça em 3º júri

Nesta terça-feira (12), mais oito policiais militares são julgados pelos 11 homicídios, três tentativas de assassinato e quatro crimes de tortura, ocorridos entre os dias 11 e 12 de novembro de 2015, na Grande Messejana

As mães das vítimas do caso conhecido como Chacina do Curió acompanham o terceiro julgamento do caso, que começou nesta manhã de terça-feira (12), no Fórum Clóvis Beviláqua, em Fortaleza. A expectativa delas, que dizem não ter se abalado pela absolvição do júri anterior, é que seja feita justiça pelos 11 homicídios, três tentativas de assassinato e quatro crimes de tortura, ocorridos entre os dias 11 e 12 de novembro de 2015, na Grande Messejana.    

"Esperamos justiça. Não podemos esperar outra coisa. Mesmo com esse resultado [anterior] frustrante, a gente não se abalou, porque o nosso abalo já vem desde aquela madrugada, então, não tem como se abalar mais. A gente não coloca esse resultado passado como uma derrota, nós buscamos justiça, o que é muito diferente", destaca Sílvia, que perdeu o filho na ocasião.

"[Esperamos] que não fique em vão, porque nós não viemos às ruas, não mostramos nossos rostos, para aparecer. Não. Foi para mostrar o que aconteceu na nossa comunidade, em todas as comunidades. É difícil o nosso dia a dia, mas nessa busca por justiça encontramos força. Encontramos força uma nas outras, encontramos força nos nossos apoiadores, nas pessoas que estão conosco, encontramos força, inclusive, em vocês [jornalistas], que vêm para nos escutar", completou. 

Nesta terceira parte, sentam no banco dos réus mais oito policiais militares: Antônio Carlos Matos Marçal, Antônio Flauber de Melo Brazil, Clênio Silva da Costa, Francisco Helder de Sousa Filho, Igor Bethoven Sousa de Oliveira, José Oliveira do Nascimento, José Wagner Silva de Souza e Maria Bárbara Moreira. Todos estavam trabalhando no dia da Chacina.

A Justiça espera que sejam ouvidas 21 pessoas durante o júri — sendo seis de vítimas sobreviventes, sete de testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa e oito interrogatórios dos réus.

Há 8,7 mil páginas no processo que reúne os oito PMs. Conforme o documento, o tenente José do Nascimento, o sargento Antônio Marçal e o cabo José Wagner estavam em uma viatura descaracterizada, que havia sido deslocada para a Grande Messejana para realizar buscas pelos suspeitos de matarem o soldado Valtermberg Chaves Serpa em um assalto.

Na região, a composição teria se encontrado com uma equipe do reservado da Coordenadoria de Inteligência Policial (CIP), da Polícia Militar do Ceará (PMCE), formada pelo cabo Clênio da Costa e pelo soldado Antônio Flauber; e por outra equipe policial, composta pelo cabo Francisco Helder, a cabo Maria Bárbara e o soldado Igor Bethoven.

Hoje, nós estamos aqui por justiça, não por vingança, que foi o que aconteceu naquela noite. Por covardia, por omissão de socorro. Pessoas que se transvestem de policial e, infelizmente, não merecem a farda que vestem", desabafou outra mãe, que acompanha o terceiro júri. 

"Eles [que se omitiram] foram tão culpados quanto os que fizeram, porque eles estavam lá, foram chamados para socorrer às vítimas, e em nenhum momento se manifestaram", completou uma terceira familiar. 

Julgamento mais longo do Ceará

A Defensoria Pública acredita que, assim como nas etapas anteriores do julgamento, que já é o mais longo da história do Ceará, o atual deve se alongar por cerca de dez dias. 

"A nossa perspectiva de novo é trabalhar com essa demora, porque são muitas testemunhas para serem ouvidas. E é muito complexo, são vários crimes que aconteceram naquela noite. Então, essa discussão toda, trazer toda a verdade desses fatos, é uma coisa complexa, que a gente acredita que vai demorar. Mas a nossa expectativa, enquanto Defensoria Pública, enquanto assistente de acusação, é que a gente faça justiça, justiça e reparação nesse terceiro júri", detalhou a defensora pública Lia Felismino. 

O que aconteceu no primeiro julgamento

Quatro policiais militares foram condenados a mais de 1.100 anos de prisão, se somadas as penas, por participação na Chacina do Curió, em junho deste ano, após mais de 60 horas de julgamento. O Colegiado de Juízes decretou a perda do cargo público dos réus, que já recorreram da sentença.

Ideraldo Amâncio, Wellington Veras Chaves e Marcus Vinícius Sousa da Costa saíram do 1º Salão do Júri do Fórum Clóvis Beviláqua presos e foram levados ao Presídio Militar. Já Antônio José de Abreu Vidal Filho foi detido nos Estados Unidos, em agosto último.

O que aconteceu no segundo julgamento

Após quase 100 horas de julgamento, oito PMs foram absolvidos da acusação de participar da Chacina do Curió, na última quarta-feira (6). São eles: Gerson Vitoriano Carvalho, Thiago Veríssimo Andrade Batista de Carvalho, Josiel Silveira Gomes, Thiago Aurélio de Souza Augusto, Ronaldo da Silva Lima, José Haroldo Uchoa Gomes, Gaudioso Menezes de Mattos Brito Goes e Francinildo José da Silva Nascimento.

O Colegiado de Juízes revogou as medidas cautelares e de restrições de direito dos militares, o que significa que eles voltarão a estar aptos a atuar no policiamento ostensivo e que terão direito a obter promoção retroativa na Corporação. O Ministério Público do Ceará (MPCE) irá recorrer da absolvição ao Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE).