Dentista diz que desapareceu por dívidas, excesso de trabalho e problemas de saúde mental: 'Veio a sobrecarga'

Sérgio Paiva afirmou que ingeriu medicações e ficou desnorteado. O profissional saiu de Eusébio, onde mora, e foi localizado apenas no município de Russas

O cirurgião-dentista Sérgio Henrique Alves Paiva, de 35 anos, relatou que desapareceu de casa em Eusébio, na Região Metropolitana de Fortaleza, por conta de dívidas que o levaram ao excesso de trabalho e ao agravamento de problemas de saúde mental. O cearense passou quatro dias sumido antes de ser encontrado pela família após uma conhecida da esposa dele informar que o avistou em uma pousada no município de Russas. 

"Foram mais dívidas que acabaram sendo contraídas no dia a dia, e no próprio trabalho veio a sobrecarga. Minha esposa ficou um tempo parada por conta do nascimento da Mariana [filha do casal], e isso gerou uma pressão muito grande", comentou o profissional.

Ele disse que foi como tivesse ultrapassado seu limite: "Acabei buscando mais e mais pacientes, fiquei sobrecarregado porque tinha muito tratamento para entregar e não consegui fazer em tempo hábil. Isso acabou me desnorteando e foi se somando. Eu nunca fui uma pessoa de compartilhar muito meus sentimentos. 

Sérgio sumiu no último dia 18 de dezembro, segundo ele, após uma madrugada mal dormida e uma crise forte de dor de cabeça, além de uma discussão com a esposa. Ele conta que a decisão de sumir para o Interior do Estado não foi planejada: "Foi como se fosse um surto. Eu saí do condomínio e não me lembro nem em que altura eu peguei a moto". 

Ele detalha que pediu a um motoqueiro para deixá-lo no Terminal de Messejana e comprou uma passagem para Russas, mesmo não tendo parentes na cidade. O dentista comprou remédios e conta que tomou uma "carga de medicação muito alta", apagou e perdeu o ponto de descida, indo parar em Missão Velha, na região do Cariri. 

O dentista conseguiu retornar para Russas, onde foi a uma pousada e voltou a tomar remédios. "Cheguei em Russas na quinta-feira à tarde. Eu ainda estava bem desnorteado, tanto por conta das pressões que vinham acontecendo, e também por conta das medicações. É como se eu tivesse ficado alguns dias dopado, me lembro de flashes, foram basicamente três dias assim", comenta. 

Reencontro com a família e atenção ao emocional

Com a repercussão do caso, uma conhecida da esposa dele, Ana Paula Arruda, conhecia alguém que trabalha na pousada e tinha visto Sérgio. No último domingo (22), duas tias e um primo foram buscá-lo. 

"Eu estava deitado, acho que eu estava começando a retomar a consciência no sentido de sair do efeito das medicações. Foi todo aquele choque, já de imediato foram me levando para dentro do carro para ir para a casa da minha mãe em Limoeiro do Norte", relembra. 

A esposa e a filha de sete meses foram ao encontro dele na segunda-feira (23). Eles voltaram para casa, em Eusébio, no dia seguinte, na véspera de Natal: "Passei a madrugada inteira olhando para minha filha e sentindo gratidão por poder continuar minha vida". 

De volta em casa com a família, Sérgio indicou que está descansando e afastado de todas as suas atividades profissionais até o começo de janeiro. Ele também contou que já tem psicólogo e psiquiatra marcados para dar início aos tratamentos. 

"Essa questão de saúde mental, muitas vezes, a gente vê de fora e acha que vai dar conta. Mas a gente não manda na nossa mente, tem que procurar ajuda mesmo. E eu vou realmente me cuidar. Já tive crise de ansiedade, mas nada perto do que aconteceu", constata.