As delegadas Patrícia Bezerra e Anna Cláudia Nery, alvos de mandados de condução coercitiva durante a deflagração da Operação "Vereda" da Polícia Federal, se pronunciaram à imprensa pela primeira vez na tarde de ontem. As duas, que atuavam na Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas (DCTD) até o último dia 7, negaram envolvimento nas denúncias de corrupção e extorsão venda de anabolizantes investigada pela PF.
Lucas Aragão, outro delegado adjunto da DCTD que também está sendo investigado, não compareceu à coletiva. Conforme o presidente da Associação de Delegados da Polícia do Ceará (Adepol-CE), Milton Castelo, Aragão está doente. Atualmente, Lucas Aragão e Patrícia Bezerra, ex-diretora da Especializada, estão afastados da Polícia Civil. Já Anna Nery foi transferida para outra unidade.
Os servidores começaram a ser alvos da operação após a delação premiada do português Carlos Miguel Oliveira, preso duas vezes por equipes da Divisão, sob a suspeita de vender no Estado do Ceará anabolizantes vindos da Europa.
Se comprovada a participação dos policiais civis e demais investigados, eles podem vir a responder por crimes como peculato, concussão, corrupção passiva, associação criminosa, tráfico de drogas e comercialização ilegal de anabolizantes.
Para o assessor jurídico da Adepol, Leandro Vasques, classificar os três delegados como envolvidos nos crimes é uma incompetência da Justiça Federal. "O nascedouro da investigação se dá na delação de um meliante que, em 2015, teria sido alvo de alguma abordagem ilícita dos policiais. Contudo, é preciso consignar que nenhum dos três delegados que foi alvo da operação, atuava na Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas naquele tempo (2015)", disse Vasques.
Conforme a defesa, na próxima segunda-feira (18), um questionamento será encaminhado à Justiça Federal, já que, segundo o advogado, não há provas que comprometam os delegados.
Durante a entrevista, Patrícia Bezerra relembrou, emocionada, sua trajetória à frente da DCTD. Conforme a delegada, em 2017, sob a sua direção, a Divisão apreendeu 200% de drogas a mais do que em igual período de 2016. "Uma semana depois do que passou, o que posso dizer, é que eu sinto muitíssimo por ter assistido à destruição de um trabalho tão bem feito" relatou a delegada.
Sem entender
Patrícia ressalta que mesmo após análise do material em poder da PF, ela não entende o que levou a Polícia Federal apontar ela e os outros dois delegados da DCTD como suspeitos de qualquer crime. "É preciso que se esclareça esse suposto esquema que nos colocaram. A operação foi divulgada como sendo de combate ao tráfico de drogas, sem que nenhuma grama de maconha tenha sido apreendida", argumenta Patrícia.
Questionada sobre a relação da equipe dela com colaboradores (investigados pela PF), Patrícia afirma ser uma prática comum na Polícia Judiciária, principalmente no combate ao tráfico de drogas. "Não é segredo para a PF que os informantes existem. Não entendi qual seria o crime a ser investigado pela pratica do uso deles", relata.
A delegada Anna Cláudia também demonstrou indignação ao lembrar da abordagem dos policiais quando a operação foi deflagrada. "Fomos tratados como bandidos. Entraram policiais extremamente armados nas nossas casas à procura de drogas", disse a ex-adjunta da DCTD.