Um caso de um falso sequestro para extorquir parentes foi desvendado pela Polícia Civil do Ceará nesta semana. Em poucas horas, investigadores concluíram que a suposta vítima se tratava da mentora do crime. Enquanto familiares de Ionara Moreira Osterno Agostinho recebiam ligações e vídeos da mulher sendo ameaçada de morte, ela estava no motel, na companhia de um casal que participava da extorsão.
A reportagem do Diário do Nordeste teve acesso a documentos que indicam como Ionara agiu na companhia de outros dois suspeitos, identificados como Daniel Osório Cunha Filho, 22, e Yohana Vieira Praxedes, 27. A intenção da farsa era extorquir R$ 40 mil da própria família, para pagar dívidas aos agiotas do bairro.
Na última segunda-feira (14), um irmão de Ionara recebeu vídeo onde a mulher aparecia amarrada pelas mãos e pés e sendo chutada por um homem que cobrava pagamento de uma dívida. O homem dizia na filmagem que a família tinha até 17h para pagar R$ 40 mil, ou "iriam pegar apenas o corpo dela".
Ciente que Ionara tinha dívidas, o irmão se preocupou e informou o caso à Polícia. A informação foi encaminhada para a Delegacia Antissequestro e as ligações ameaçadoras se estenderam aos outros parentes.
A mãe de Ionara chegou a negociar com o suposto sequestrador e reduzir o valor para R$ 5 mil, que não foi depositado
Durante as buscas, um policial avistou o veículo que teria sido utilizado para raptar a vítima. No momento da abordagem, três ocupantes estavam no automóvel. Como naquele momento não havia restrição para o flagrante, o trio foi liberado. Horas depois, o delegado que presidia a investigação do sequestro conversou com o policial militar, que reconheceu todas as características físicas de Ionara, Yohana e Daniel, no carro abordado.
O FLAGRANTE
A suspeita que o sequestro não era real ganhava força e outras testemunhas ligadas à falsa vítima foram ouvidas. Uma delas contou ter conversado com Ionara horas antes, e ela aparentado estar tranquila. A Polícia localizou o trio, que teria confessado o crime.
Ionara teria dito em depoimento que por ser usuária de cocaína há mais de uma década, costumava sempre ter problemas financeiros. Ela confessou ter premeditado a extorsão e que tinha vergonha de pedir dinheiro à família. Já Daniel e a esposa foram convencidos por ela a participar da ação, em troca que todos ganhassem parte da quantia exigida.
Na última quarta-feira (16), os suspeitos passaram por audiência de custódia e tiveram a prisão convertida em preventiva. Ionara chegou a alegar ser genitora de criança menor de 12 anos, que dependia dos seus cuidados, mas, para o juiz, "as circunstâncias em que ocorreu o crime e as condições pessoais da agente demonstram a sua periculosidade, inclusive para o desenvolvimento do seu filho, em especial por submeter os mesmos a evidente situação de risco decorrente da convivência com pessoa com conduta perigosa".