Prestes a completar um ano da trágica morte do adolescente Mizael Fernandes da Silva, de 13 anos, a investigação acerca do crime teve um novo passo. Na última semana, o laudo da reprodução simulada dos fatos chegou ao Ministério Público do Ceará (MPCE) para análise. Segundo a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD), o inquérito do caso foi finalizado com a realização da reconstituição e três policiais militares indiciados.
Dos indiciados, um foi pelos crimes de homicídio e fraude processual, identificado como sargento Enemias Barros da Silva, e os outros dois por fraude processual. A investigação apontou que os PMs interferiram na cena do crime, com possível objetivo de dificultar o trabalho das autoridades.
A reportagem apurou que, conforme laudo da reconstituição, Mizael foi atingido com um disparo de arma de fogo enquanto dormia quase que de bruços. O resultado corrobora a versão dita pela família da vítima desde o assassinato.
Linha do tempo
Os policiais permanecem afastados e são alvos de processo disciplinar que apura o fato na seara administrativa. A Controladoria destacou que o inquérito foi novamente encaminhado ao MPCE. Por nota, o órgão ministerial informou que "a defesa dos policiais militares envolvidos no caso pediu que outros dois PMs ainda não ouvidos fossem inqueridos sobre os fatos, visto que estes policiais, segundo a defesa, teriam informações importantes acerca do ocorrido".
Com o pedido, a Promotoria de Justiça de Chorozinho retornou o inquérito sobre o caso solicitando que sejam cumpridas demais diligências," as quais foram pedidas pela defesa".
Em relação ao resultado da reprodução simulada, o MPCE reforça que o laudo encontra-se com divulgação reservada, com acesso aos advogados das partes, inclusive aos defensores públicos que acompanham a família da vítima"
Investigação
Mizael Fernandes da Silva estava na casa dos tios na madrugada do dia 1º de julho de 2020. Em entrevistas anteriores, a família do adolescente disse que a casa foi invadida pela Polícia e a vítima covardemente atingida sem que tivesse nenhuma relação com crimes.
Quase um ano depois, o fato permanece cercado por mistérios. Segundo o processo, que permanece em segredo de Justiça, o real alvo dos PMs naquela madrugada era um homem, com alguns traços físicos semelhantes aos do garoto.
A reportagem ainda apurou que o alvo da intervenção policial foi ouvido recentemente no Judiciário cearense e disse às autoridades que não tinha envolvimento com o adolescente e sequer o conhecia.
Em novembro de 2020, a DAI enviou relatório à Justiça Estadual, dizendo que apesar de outras diligências serem importantes, a autoria e a materialidade do crime estavam definidas.
Ainda há informações no inquérito de que a cena do crime teria sido alterada. Na versão dos policiais, Mizael estava armado dentro da residência e tentou reagir contra os agentes. O laudo cadavérico feito no corpo do adolescente apontou que foi encontrada apenas uma entrada de tiro, na região próxima ao peito do jovem, que se encontrava deitado no colchão. A perícia ainda constatou não haver traços genéticos do adolescente na arma de fogo apresentada pela composição investigada.
A Controladoria destacou ter determinado instauração de processo disciplinar para devida apuração do fato na seara administrativa. O processo disciplinar permanece tramitando e os policiais militares mantidos afastados.