‘Cadê o gringo do 01?’ O que se sabe até agora sobre o latrocínio de turista no Cumbuco

Quatro suspeitos pelo crime foram presos, mas um deles solto após decisão proferida em audiência de custódia

A investigação acerca do latrocínio da turista Ruth Mary Silva de Oliveira Ribeiro, de Macapá, e do companheiro dela baleado, o britânico Philip Donald Eric Gray, tem os primeiros apontamentos do que teria acontecido instantes antes do crime e durante a fuga dos suspeitos. A reportagem do Diário do Nordeste teve acesso a um relatório técnico da Polícia Civil do Ceará (PCCE), "elaborado com o objetivo de identificar a autoria responsável" e entrevistou o delegado à frente da investigação do caso ocorrido no Cumbuco, litoral do Ceará.

Conforme investigação da Delegacia de Proteção ao Turista (Deprotur), criminosos estavam de 'campana' à espera das vítimas horas antes do crime, enquanto o casal seguia na praia. Um dos homicidas teria chegado a entrar na pousada perguntando: "cadê o gringo do 01?".

Quatro suspeitos pelo crime foram presos, mas um deles solto após decisão proferida em audiência de custódia. Para a Justiça, não há provas de que Igor Teixeira Lopes tenha participado diretamente do crime e, desta forma, o juiz entendeu que "as medidas cautelares são cabíveis e suficientes, devendo ser consideradas, no presente caso".

O delegado Andrade Júnior disse em entrevista que os criminosos tinham informação exata sobre o "check-out" das vítimas e que elas estavam em posse de alta quantia em dinheiro. Um dos suspeitos foi ao hotel horas antes e recebeu informação que o britânico estava na praia. 

Dois homens teriam ficado "de campana" em frente ao estabelecimento comercial. Às 15h50 do dia 29 de julho, quando as vítimas se preparavam para retornar à Fortaleza, o crime aconteceu.

"O motoqueiro ficou em frente e o garupeiro entrou anunciando o assalto. Pilotaram a moto até o HB20. Trocaram de roupa e empreenderam fuga até Fortaleza. Quem praticou o crime sabia que eles iam sair naquele dia e naquele horário", disse o delegado.

"Nós estamos excluindo quem não sabia que eles estavam em posse deste valor. Passaram mais de 60 horas lá hospedados com esse dinheiro, podia ter tido um arrombamento noturno, por exemplo"
Delegado da Deprotur, Andrade Júnior

TENTATIVA DE OCULTAR PROVAS

A PCCE chegou ainda a apurar uma suposta tentativa de ocultar provas. Isto porque, teria sido encontrada em um desmanche uma moto usada na ação criminosa. Foram anexadas aos autos fotos de comparação entre a moto em ato de desmanche encontrada em uma oficina e a moto utilizada no crime.

"O ato do desmanche da moto supramencionada é, por si só, é demasiadamente suspeito, haja vista o fato de o desfazimento das peças desencadear, naturalmente, uma possível 'queima de arquivo' de elementos de informação relevantes para os trabalhos apuratórios da polícia judiciária"

PRISÕES

Seguem presos preventivamente pelo latrocínio: Artur Edmundo Ferreira Felisberto, Frederico Bruno Ricarte da Silva, este com extensa ficha criminal, e um terceiro, detido em Horizonte nessa segunda-feira (5) e de identidade ainda não revelada.

Artur e Frederico negam participação no crime. Já o outro preso teria ficado em silêncio durante o primeiro depoimento.

O autor dos disparos no casal segue foragido e sem a identidade revelada

A Polícia pediu a quebra do sigilo telefônico, telemático e a extração dos dados do Whatsapp dos celulares apreendidos junto aos suspeitos detidos. 

COMO O CRIME ACONTECEU

Ainda segundo o relatório, as vítimas estavam na recepção da pousada onde estavam hospedadas, "aguardando um veículo por aplicativo para se deslocar para cidade de Fortaleza, com intuito de embarcar no Aeroporto Pinto Martins, com destino à cidade de Macapá, por volta das 15h30min., do dia 29 de julho do ano em curso".

Um dos assaltantes chega ao local já com arma em punho, entra no hotel e anuncia o assalto, vindo a entrar em luta corporal com a turista brasileira, "disparando arma de fogo, fugindo logo em seguida, em uma motocicleta".

Imagens do Sistema de Videomonitoramento indicam a sequência da rota de fuga dos criminosos

Ao localizar o veículo identificado, o carro era conduzido por Frederico, acompanhado da esposa dele e de Igor Teixeira. Frederico chegou a dizer que tinha emprestado o carro a Artur Edmundo, proprietário de uma oficina de motos.

"Em continuidade, as equipes chegaram no local onde funciona a mencionada oficina, entretanto, sem localizar Artur, sendo que, no interior do estabelecimento, realizaram o recolhimento, material apreendido, de um capacete e de duas camisas, de malha, na cor vermelha, de mangas longas, material compatível com o vestuário utilizado pelos autores do crime, sendo ressaltado, também, que junto aos, inicialmente abordado foram apreendidos três aparelhos de telefonia celular". Artur Edmundo se apresentou na delegacia horas depois.

VÍTIMAS RESISTIRAM

De acordo com a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), os suspeitos já chegaram à pousada munidos de informações sobre um casal com uma grande quantia em dinheiro — a indicação é de que eles tinham R$ 30 mil em espécie, valor adquirido em uma casa de câmbio. 

Ao localizar o casal, os envolvidos no crime tentaram roubá-los, mas as vítimas ofereceram resistência. O dinheiro não foi levado.