As testemunhas de defesa foram ao Júri da Chacina do Curió nesta quarta-feira (21) para depor a favor dos quatro policiais militares (PMs) acusados de participação na matança. Entre os oito convocados do dia, sete prestaram depoimento, como amigos, vizinhos, conhecidos e até um major da PM, que já foi superior de dois réus. A oitava testemunha de defesa foi dispensada pelos advogados.
A oitiva dos acusados começaria ainda nesta quarta, mas o colegiado de juízes decidiu, após acordo com defesa e acusação, a etapa de interrogatórios começará somente na quinta-feira (22), a partir das 9h.
Um dos depoimentos desta quarta foi o de um vizinho do réu Ideraldo Amâncio. Ele foi a quinta testemunha e falou sobre o quanto ele é "gente boa" e que no dia da morte das 11 pessoas ele estava fumando na porta de casa e viu o policial entrando para a residência dele.
"Até hoje não acredito que ele participou disso", assinalou. Questionando pela acusação, que é o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), sobre datas e horários, ele não soube responder.
O que ele de fato soube responder é que o carro do soldado PM Ideraldo Amâncio era um Fiat Siena Preto. Esse modelo é justamente o que as vítimas sobreviventes indicaram que tinham pessoas dentro atirando contra eles.
A história do Siena Preto é que, segundo os autos do processo, o soldado Amâncio, dono do carro, mentiu que não estava na região do Curió no dia da chacina. No entanto, investigações descobriram que o carro estava, sim, nas imediações.
O Siena, inclusive, teve as placas adulterados. Com esse mesmo carro, ainda, o PM acusado foi prestar depoimento na Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD). Lá, os policiais constataram a fraude na placa.
Acusação alegou falso testemunho
O MPCE solicitou que essa testemunha respondesse por falso testemunho. Houve um princípio de desentendimento entre as partes, mas os juízes acabaram negando o pedido da acusação e o homem foi liberado.
A sétima testemunha do dia, foi um major da Polícia Militar do Ceará (PMCE), que já foi chefe dos réus Wellington Veras e Ideraldo Amâncio. Ele depôs que os PMs tinham boa ficha, sem problemas e sem ato de indisciplina.
Teses da defesa
As testemunhas foram arroladas pelas defesas do PM Wellington Veras Chagas e Ideraldo Amâncio. Os advogados trabalham com duas principais teses: de que os militares não estavam na cena do crime ou que não é possível individualizar a conduta de cada acusado.
As apurações dos crimes mostram que os dois estão entre os policiais que tentaram adulterar as placas de seus veículos para não serem flagrados. Perícias realizadas à época constataram divergências entre números, que teriam sido mudados na noite da chacina, segundo os promotores de Justiça.