30 crianças foram assassinadas no Ceará em um intervalo de três anos

Elas tinham de meses de vida a 11 anos de idade. Três vítimas tiveram a vida ceifada por armas de fogo, nas últimas duas semanas

Bebês que estão nos primeiros meses de vida, crianças que saem de casa para brincar ou mesmo aquelas que têm a casa invadida por criminosos estão entre as vítimas da violência, no Ceará. Em um intervalo de três anos, 30 crianças (que têm menos de 12 anos de idade) foram mortas no Estado, de acordo com dados coletados do site da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).

Os números são de 6 de setembro de 2019 a 5 de setembro de 2022. Em média, a cada 12 meses desse período, 10 crianças foram assassinadas. Elas tinham de meses de vida (que não são especificados pelas estatísticas da SSPDS) a 11 anos. Três vítimas tiveram a vida ceifada por armas de fogo, nas últimas duas semanas.

Entre os 30 crimes, 12 ocorreram em Fortaleza. E os outros, nos municípios de Maracanaú (dois), Brejo Santo, Beberibe, Itarema, Caucaia, Granja, Guaiúba, Russas, Tauá, Bela Cruz, Jardim, Ibaretama, Tejuçuoca, Missão Velha, Eusébio, Horizonte e Poranga.

Confira mais estatísticas:

O  sociólogo Thiago de Holanda, membro do Comitê de Prevenção à Violência, da Assembleia Legislativa do Ceará, afirma que o grupo já vem chamando atenção do Estado, nos últimos anos, sobre o número de mortes de crianças, o qual chama de "absurdo, estarrecedor, que a gente não pode aceitar".

A gente foi levantando essa questão do agravamento da violência armada no Ceará e como isso influenciava na morte de pessoas que não estavam no perfil mais recorrente das estatísticas de morte. Passou também a afetar crianças, idosos. Por conta da pandemia e do isolamento social, as crianças não estavam indo para a escola e estavam mais expostas à violência comunitária. Passa a ter mais confrontos entre grupos armados, e com a Polícia também, tiroteios e acertos de conta, com as crianças por perto, e elas acabam morrendo."
Thiago de Holanda
Sociólogo

O Comitê de Prevenção à Violência elaborou um estudo, em 2020, sobre a morte de meninas (crianças e adolescentes do sexo feminino) no Ceará, no qual fez mais de 60 recomendações às autoridades para diminuir as taxas de homicídios desse público. Entre elas, o fortalecimento da polícia investigativa, o fomento a programas culturais nas periferias e a ampliação da proteção às vítimas e familiares.

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social ressaltou que os anos de 2022 e 2021 têm apresentado redução no número de homicídios de crianças, no Estado, na comparação com 2020.

A Pasta pontuou que realiza um trabalho preventivo por meio do Comando para Prevenção e Apoio às Comunidades (Copac) da Polícia Militar do Ceará (PMCE), que engloba o Programa Estadual de Proteção Territorial e Gestão de Riscos (Proteger), com 36 bases instaladas em Fortaleza e Região Metropolitana, além do Grupo de Segurança Escolar (GSE), do Grupo de Segurança Comunitária (GSC) e do Grupo de Apoio a Vítimas de Violência (Gavv).

A investigação de homicídios foi fortalecida, segundo a SSPDS, com a nomeação de 500 novos policiais civis, dos quais 100 deles foram designados para o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP); e com a ampliação do efetivo da Coordenadoria de Medicina Legal (Comel) e do Núcleo de Balística Forense (Nubaf), ligados à Coordenadoria de Perícia Criminal (Copec), da Perícia Forense do Ceará (Pefoce).

Em conjunto ao trabalho da segurança pública, há ainda outras iniciativas promovidas pelo Governo do Ceará. Hoje, o Estado possui 392 escolas que atendem em tempo integral. Desse número, 261 são de Ensino Médio, que se somam às 131 escolas estaduais de educação profissional, que ofertam, ao mesmo tempo, ensino médio e cursos técnicos. Outra medida importante é a instalação de equipamentos públicos, que proporcionem lazer e esporte às crianças e adolescentes, respeitando o que está disposto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). É o caso das 193 brinquedo praças existentes no Estado e as 278 areninhas, construídas em todo o território cearense."
SSPDS
Em nota

Três mortos em duas semanas

Somente nas últimas duas semanas, a violência deixou três crianças mortas, no Ceará. A última vítima foi uma menina de 2 anos, que foi morta a tiros junta do primo, de 28 anos (que era o alvo da ação ação criminosa), no bairro Messejana, em Fortaleza, no último sábado (3). Outra criança, de 7 anos, também foi baleada, mas não corre risco de morte. Ninguém ainda foi preso pelo duplo homicídio combinado com tentativa de homicídio.

Uma criança de 5 anos também foi morta junto de um adulto (desta vez um homem de 42 anos), no Município de Poranga, na última quinta-feira (1º). Quatro suspeitos já foram capturados pelo duplo homicídio.

Emerson Ribeiro Alves, de 18 anos, sem antecedentes criminais, foi preso pela Polícia Militar do Ceará (PMCE) por envolvimento no crime, em Poranga, no último sábado. Antes dele, já haviam sido detidos Rodrigo Vidal Araújo, o 'Rodrigo da Caucaia', 21, no mesmo Município, e Antônio Lucas Alves Bezerra da Silva, o 'Lucas do Pedão', em Piracuruca, no Piauí. 

Rodrigo tinha passagens pela Polícia por posse ilegal de arma de fogo e Lucas, por lesão corporal dolosa, porte ilegal de arma de fogo e dano. Um adolescente de 17 anos também foi apreendido pelo crime, em Poranga.

A primeira morte violenta de uma criança no Ceará, em 2022, ocorreu no dia 20 de agosto último. Um bebê de apenas 9 meses de idade não resistiu a um tiro sofrido em uma ação criminosa, no bairro Pici, em Fortaleza. Um homem de 27 anos - que já tinha passagens pela Polícia por roubo e corrupção de menor e que não teve a identidade revelada - foi preso pelo crime, na última sexta-feira (2).

O alvo do ataque criminoso seria um rapaz que ficou ferido e fugiu, sem procurar atendimento médico de imediato. Entretanto, outro homem e o bebê de 9 meses também foram baleados.