O processo manual de construção de barcos ou jangadas é lento. Do projeto até sua conclusão, os carpinteiros navais levam meses, podendo ultrapassar até a marca de um ano, a depender do tamanho da embarcação, ferramentas utilizadas e número de ajudantes dedicados à construção. Os profissionais precisam conhecer uma lista de recomendações e materiais primordiais para um trabalho bem executado.
Montar o molde, selecionar madeiras, serrar, laminar, aplainar, encaixar, aparafusar... o processo é longo, mas tudo começa pelo projeto, que nem sempre ele é feito da forma mais tradicional, com tracejados, linhas e números dispostos em papel. Seu Evilásio, um dos pioneiros na construção de barcos em Icapuí, no litoral cearense, demonstra, ali mesmo no quintal de sua casa, a poucos metros do mar, como eram feitos os primeiros projetos.
Em posse de fina madeira, ele começa a rabiscar o chão transpondo para a areia tudo que há em sua mente. “Era assim. A gente ia riscando e colocando para fora as ideias. Com o tempo, com a experiência, o processo fica mais fácil, quase automático”, orgulha-se Evisálio Matias da Silva, de 78 anos.
Foi dessa forma que nasceu sua primeira embarcação, há quase 50 anos. E, nos anos seguintes, surgiram incontáveis outros aparatos navegantes que colocaram Icapuí como uma das principais referências na construção naval do Ceará.
Processo
O primeiro passo é desenvolver o projeto do barco. A complexidade dependente do tamanho da embarcação. Em Icapuí, são feitos barcos com até 20 metros. Em seguida, após o projeto, é feito a caverna, ou o cavernão como muitos carpinteiros se referem.
Aos leigos, a caverna assemelha-se ao esqueleto do barco. As madeiras começam a ser dispostas dando forma a estrutura da navegação. Esse processo, para um barco de 16 metros, leva até dois meses. Após concluído, é dado início a estruturação do barco, a chamada construção tabuada.
Nesta parte o barco começa a ganhar corpo. É aqui que são feitas a popa, roda de proa, picadeiro, bordas, dentre outros. Apesar de todo o processo exigir bastante perícia dos profissionais, esta etapa é uma das mais delicadas, pois o passo seguinte já é a equipação do barco - abrigo para tripulação, instalação do motor, depósitos de combustível, água e câmaras frias, etc -, ajustes, retoques e o acabamento.
É nesta última fase que as imponentes navegações ganham cores e se preparam para ir ao mar. Quando o processo finalmente chega ao fim, as embarcações carecem de registro emitido pela Capitania dos Portos, da Marinha.
Regulação
A assessoria da Marinha explicou todas as embarcações brasileiras estão sujeitas à inscrição nas Capitanias dos Portos, Delegacias ou Agências, "excetuando-se as pertencentes à Marinha do Brasil". As embarcações de grande porte, além de inscritas, deve ser registradas no Tribunal Marítimo. Todo esse processo, que pode ser conferido aqui, é de incumbência do proprietário da embarcação e não do carpinteiro naval.
Ainda conforme a Marinha, inspeções são realizadas com periodicidade. Caso alguma embarcação seja flagrada em alto mar de forma irregular, ele pode ser apreendido e o dono está sujeito a multa.
Benefícios
O "Senhor do Estaleiros" adverte que a construção de barcos em madeira é um processo que perdura os anos devido a sua alta durabilidade e segurança de navegação. Mesmo com disseminação da fibra de vidro para construção das novas embarcações, Seu Evilásio não tem receio de ter sua atividade posta no ostracismo.
"Não há nada mais seguro que a madeira".
Além da segurança em que o material passa, a utilização da madeira ajuda na preservação do meio ambiente, já que os materiais usados para a fabricação são ecologicamente corretos. As fibras de vidro, por exemplo, podem causar irritações respiratórias e de pele.
Saiba Mais
Conheça alguns tipos de embarcações:
- Alvarenga - embarcação de fundo chato destinada ao auxílio na carga e descarga de navios fundeados
- Anfíbia - veículos capaz de operar tanto e em terra, quanto na água com meios próprios
- Apoio à Manobra - embarcação empregada nas atividades de auxílio à movimentação de outras embarcações
- Apoio a Mergulho - embarcação empregada no auxílio às atividades de mergulho
- Balsa - embarcação de fundo chato, com ou sem propulsão própria, destinada ao transporte de cargas ou passageiros
- Bote - barco de tamanho curto, sem convés, usado para pequenos serviços de transporte
- Cábrea - embarcação usada na elevação e movimentação de carga por meio de aparelho de força própria
- Caiaque - pequena embarcação com proa e popa semelhantes, dotada de um pequeno poço ao meio onde se assenta o remador
- Caique - pequeno bota de remos. Possui três bancadas, sendo uma central para o remador.
- Canoa - pequena embarcação a remos de formato afilado
- Carga Alta - navios que possuem aberturas retangulares no convéns principais e cobertas de cargas chamadas escotilhas de carga
- Carga viva - embarcação para o transporte de animais vivos (em pé)
- Draga - embarcação própria para retirar depósitos do fundo do mar ou rios
- Escuna - barco a vela com dois mastros
- Iate - embarcação de esporte e/ou recreio com comprimimento igual ou superior a 24 metros
- Jangada - embarcação a vela, armada com um só mastro com vela
- Lancha - embarcação rápida, de vários formatos e portes, com propulsão mecânica