Redes de Jaguaruana movimentam economia local e recebem selo de qualidade e originalidade

Medida servirá para combater concorrência desleal, na qual fabricantes de outras cidades e de outros estados atribuem a suas peças a origem de Jaguaruana

No Baixo Vale do Jaguaribe, a cidade de Jaguaruana é polo de fabricação de um produto que tem raízes na cultura regional – a rede de dormir. A produção mensal é estimada em 100 mil peças e gera em torno de oito mil empregos diretos e indiretos, tendo a liderança de exportação nacional.

Os indicadores são favoráveis e a rede de Jaguaruana passou a ser sinônimo de boa qualidade. A atividade, entretanto, sofre com a concorrência desleal, quando fabricantes de outras cidades e de outros estados atribuem a suas peças a origem de Jaguaruana.

A pandemia do novo coronavírus também trouxe impacto para o setor no período de março a julho de 2020, quando as vendas caíram, cerca de 80% e a produção ficou parcialmente suspensa.

"Agora já voltamos ao nível anterior à pandemia”, observou o presidente da Associação dos Artesãos e Fabricantes de Jaguaruana (Asfarja), José Pinheiro Júnior.

Permaneceu, entretanto, o aspecto da concorrência que atribui a redes fabricadas em São Bento, na Paraíba, ou em outros estados e cidades, a origem das peças como se fosse de Jaguaruana.  

“Se você for comprar uma rede em Juazeiro do Norte, por exemplo, o vendedor diz que é boa, é de Jaguaruana, mas pode não ser e se tiver qualidade ruim vai queimar o nosso produto”, explicou Pinheiro Júnior.

Indicação de Procedência

Esse problema, entretanto, pode começar a ser resolvido em breve. A cidade é a primeira do Ceará a conquistar a “Indicação de Procedência” do tipo Indicação Geográfica (IG). O título é um reconhecimento nacional por originalidade e valor das redes de dormir fabricadas no município.

A Indicação Geográfica (IG) é um título de Propriedade Industrial que reconhece nacionalmente a origem de determinado produto ou serviço por possuir características específicas de um território, seja por fatores naturais ou humanos.

O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Jaguaruana, Gledson Farias, espera que a atividade volte a crescer a partir do selo. “Somos os maiores produtores e exportadores de rede de dormir e esse reconhecimento vai alavancar a economia local, fortalecer as exportações e assegurar milhares de empregos nas indústrias e nas unidades artesanais e familiares”.

O setor produtivo comemora a conquista que será oficializada nesta sexta-feira (10), em solenidade na Praça Adolfo Francisco da Rocha (Prefeitura), no Centro da cidade.

Para o presidente da Asfarja, Pinheiro Júnior, “a certificação é um reconhecimento importante, fruto de uma mobilização que começou há dois anos, que vai beneficiar todos os fabricantes locais com o selo de original e a garantia de um produto original”.

O próximo passo será “o desenvolvimento de uma marca para o produto, uma espécie de selo de qualidade e de origem, em forma de ‘QR Code’ que vai permitir rastreabilidade das peças”, explicou Pinheiro Júnior.

A certificação contou com a articulação da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior (Secitece) e do Núcleo de Tecnologia e Qualidade Industrial do Ceará (Nutec).

“A primeira Indicação de Procedência Geográfica do Ceará de um produto que envolve artesãos e indústria significa uma referência de origem, uma conquista para os produtores e artesãos, para a indústria local e para o varejo”, pontuou o titular da Secitece, Inácio Arruda. “Na atividade há forte característica familiar e agora o setor vai se tornar uma referência de âmbito nacional e reforçar as exportações”.

“A indicação geográfica vai trazer a marca da interiorização do desenvolvimento e consagra o empreendedorismo histórico de Jaguaruana na produção de redes de dormir”, expressou Francisco Magalhães, presidente do Nutec.

As redes de Jaguaruana são exportadas para todas as regiões brasileiras e para o exterior - França e Alemanha.

Pinheiro Júnior lembra que há 32 anos fabrica rede de dormir. A unidade fabril dele tem produção mensal em média de mil peças e gera dez empregos diretos e cerca de 50 indiretos (artesãos que fazem punho e varandas).

O empresário Paulo Júnior dá continuidade a um negócio familiar que começou com a avó dele, dona Santa, em 1958. “Sou da terceira geração e estou mantendo a atividade com um irmão e estamos satisfeitos”, disse. “A gente espera que com esse reconhecimento, as vendas melhorem”. Atualmente, ele fabrica entre duas mil a três mil peças por mês.  

A rede de Jaguaruana é feita em teares mecânicos, processo industrial, com tecido formado fio a fio de algodão. As varadas e os punhos são confeccionados por mão de obra terceirizada. O preço das peças varia entre R$ 25,00 e R$ 150,00, segundo tamanho, tipo do tecido e da varanda.

O Sebrae estima que 80% das empresas de fabricação de redes de dormir estão em Jaguaruana. A pandemia trouxe uma queda de 90% no período de abril a julho de 2020, mas depois começou a ser retomado, segundo dados da Asfarja.