Número de indígenas no CE com Covid em janeiro já supera a soma dos 3 últimos meses

Em contrapartida, apesar do aumento nos casos, não houve nenhum registro de óbito em decorrência da doença nos últimos cinco meses

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(Atualizado às 15:25)

A crescente transmissão da Covid-19 neste início de 2022 no Ceará atingiu, também, as comunidades indígenas do Estado. Até o último dia 24 de janeiro, já eram 50 infectados com o vírus SARS-Cov-2. O número é superior à soma de todos os casos registrados ao longo dos meses de outubro, novembro e dezembro do ano passado, quando, neste trimestre, foram contaminados 31 indígenas.

Em contrapartida, apesar do aumento nos casos, não houve nenhum registro de óbito em decorrência da doença nos últimos cinco meses. Ao analisar isoladamente cada mês, janeiro é o mês com mais contaminados deste agosto do ano passado, que fechou o período com 75 indígenas infectados.

  • Janeiro - até o dia 24: 50 infectados 
  • Dezembro: 12 infectados
  • Novembro: 7 infectados
  • Outubro: 12 infectados 
  • Setembro: 27 infectados
  • Agosto: 75 infectados e uma morte


Este cenário reforça a importância da vacinação. A meta, no Ceará, era imunizar pouco mais de 20 mil índios. Em relação à primeira dose (D1), este número já foi superado. Já quanto à aplicação da D2, 98,95% da comunidade já está imunizada.  

Os números foram extraídos às 16h04 desta terça-feira (25) do IntegraSus, plataforma oficial da Secretaria da Saúde (Sesa) do Estado.

O biólogo e epidemiologista Luciano Pamplona explica que a disseminação do vírus está intimamente ligada à nova cepa que possui "um alto poder de transmissibilidade". Contudo, o fato de não termos registros de óbitos entre os indígenas cearenses nos últimos meses é, ainda segundo o especialista, uma resposta direta do poder da vacinação.

"O objetivo primário de qualquer campanha de vacinação é diminuir as mortes e internações. Em todos os locais onde o processo de imunização está avançado, notamos que a maioria das pessoas não estão adoecendo de forma grave e os óbitos não acompanham a curva de crescimento dos infectados. Isso decorre da vacina", detalhou Pamplona.

30 mil
Segundo a Fepoince, a população indígena no Ceará é estimada em cerca 36 mil pessoas, formada por 15 povos indígenas, que habitam 20 municípios cearenses.

Testagem

A quantidade de exames aplicados neste início de ano (182) entre a comunidade indígena é superior ao número de testes de dezembro (105) e novembro (145) do ano passado, mas inferior a todos os outros meses de janeiro a outubro de 2021. Até então, o mês com menor número de testes aplicados em um mês havia sido em setembro (378), ainda assim mais que o dobro do registrado até agora. 

Pamplona alerta para a necessidade de ampliar a testagem sobretudo em um momento delicado com o atual, onde o Ceará vive na iminência de uma terceira onda. "Todo cenário de ampliação de testagem é muito bem-vinda neste momento. Sem testes o governo não consegue saber como a pandemia está caminhando. Essa informação é fundamental" detalha o epidemiologista.

Expandir os testes entre os indígenas, ainda segundo Pamplona, se faz ainda mais necessário frente a uma possível resistência de alguns equipamentos de saúde. "Em alguns grupos os testes são ainda mais importantes, como em criança e nos próprios índios. Devido ao fator cultural, pode ser que alguns deles tenham um pouco mais de resistência em usar máscaras, por exemplo". 

A liderança indígena Madson Pitaguary reconhece o recente "afrouxamento" das medidas de segurança em algumas aldeias. Para ele, a queda das infecções observada no fim do ano passado gerou a falsa sensação de "que a pandemia havia passado".

"Agora voltamos todos a usar máscaras. Alguns ainda têm certa resistência, mas são poucos. Voltamos com os cuidados e estamos todos sendo vacinados, inclusive as crianças", diz. Ele e sua família já tomaram as três doses do imunizante. 

Além de reforçar a necessidade da manutenção das medidas de segurança, o biólogo alerta que, saber, de fato, quem está infectado, é crucial para que ocorra o isolamento e o vírus não siga se disseminando.

Neste prisma, a coordenadora da Federação dos Povos Indígenas no Ceará (Fepoince), Ceiça Pitaguary avalia que a quantidade de exames aplicados neste ano está "satisfatório". "Nós, da Fepoince, não identificamos que há baixa testagem. Estamos testando bem e, a qualquer sinal de sintoma, há o isolamento", finaliza.